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ANÁLISE

Foi demitida? Uma homenagem a mulheres que empreendem em si mesmas

PeopleImages/Getty Images/iStockphoto
Imagem: PeopleImages/Getty Images/iStockphoto

Letícia Braga de Andrade

08/03/2023 04h00

Me diga, a menina que você foi teria orgulho da mulher que você se tornou?

Mexendo na minha caixa de fotos antigas, encontrei um jornalzinho da escola de quando eu tinha 9 anos. A matéria apresentava um projeto sobre profissões, e eu explicava por que queria ser professora. Eu tinha deletado esse desejo da minha memória! O fato é que por mais de 20 anos eu fui professora. Ensinei crianças, adolescentes, adultos e microempresários a lidar melhor com o dinheiro e empreenderem. Fico me perguntando o quanto eu tinha, inconscientemente, me programado para isso.

Estudei muito, fiz mestrado e doutorado. Com pouco mais de 30 anos, era uma profissional bem-sucedida. Tinha um salário razoável, carro e já tinha pago a metade do financiamento do meu apartamento. Na vida pessoal, estava casada com um homem que eu amava e tinha um casal de filhos saudáveis e lindos. É fácil ter orgulho de si quando tudo está bem.

Foi, então, que a universidade onde eu trabalhava fez uma reestruturação e eu entrei no que hoje é chamado de "lay-off": fui demitida. Por muito tempo, questionei minha competência, me perguntava onde eu tinha errado, o que devia ter feito de diferente.

Eu acreditava que a culpa era minha. Fiquei aproximadamente um ano vivendo de trabalhos eventuais, até que meu marido foi diagnosticado com câncer. Então, eu estava desempregada, com dois filhos pequenos e contas do dia a dia para pagar.

Por "sorte" eu tinha algum patrimônio para nos sustentar. Só que essa fase desafiadora durou mais tempo do que o meu patrimônio era capaz de cobrir e eu me endividei... bastante. Difícil ter orgulho de si em situações críticas, não é?

Pois essa foi a época em que eu mais cresci. Eu não percebia, mas estava no período de gestação de uma melhor versão minha. Eu buscava apoio e inspiração nas mulheres da minha família.

Nas vezes em que não encontrei a resposta nelas, fui atrás de outras fontes de conhecimento e descobri o coaching, a inteligência emocional, os diferentes perfis comportamentais e a constelação familiar.

Uni as técnicas de planejamento econômico aos novos conhecimentos. Foi por necessidade que empreendi, inclusive a mim mesma, e por gratidão compartilho alguns aprendizados.

  • Não tenha medo, pois é o medo que transforma pequenos problemas em monstros. Um único passo, e você já não está no mesmo lugar.
  • Pare de se criticar, ninguém é perfeito. Nossa obrigação é a busca por sermos melhores do que somos hoje.
  • Seja paciente consigo mesma. No início, o novo pode ser estranho e desconfortável, mas com a repetição vai se tornando normal e natural. Respeite o seu tempo.
  • Seja gentil com sua mente, afaste dela toda a culpa, as acusações, os castigos e a dor. Você fez o melhor que podia com os recursos que tinha, honre seus aprendizados e permita-se expandi-los.
  • Procure apoio externo. Só procura ajuda quem não desistiu.
  • Cuide do seu corpo, pense nele como uma casa em que você morará por algum tempo.
  • Seja sua melhor amiga, pois todos um dia irão embora, mas você sempre ficará. Portanto, ame-se.

Sim, minha menina teria orgulho da mulher que me tornei, ainda que seja diferente do que ela havia planejado e tenha dívidas para pagar. Orgulho por seguir empreendendo a mim mesma, acumulando versões melhoradas, reforçando pontos fortes e desenvolvendo os fracos. Sigo num movimento contínuo para que a senhorinha que eu serei no futuro tenha do que se orgulhar da mulher que sou hoje.

Eu também tenho orgulho de você que lê este texto... e enumero alguns dos motivos:

  1. É mulher, ou reconhece a importância delas, e vive nesse Brasil tão desafiador para nós.
  2. Diariamente convive com o preconceito e a discriminação.
  3. Dia após dia, enfrenta suas batalhas internas.
  4. Às vezes ganha, outras vezes perde, mas nunca desiste.
  5. Mesmo sem saber, inspira várias outras mulheres.
  6. Ainda assim quer se desenvolver, caso contrário não estaria lendo esse texto.

Me diga, a menina que você foi também teria orgulho da mulher que você se tornou? E você tem orgulho de alguma outra mulher empreendedora? Então, compartilha esse texto com ela e inclua os seus motivos.

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