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Com pandemia, ações de fabricantes de vacina sobem até 50%; vale investir?

Sede da Moderna Therapeutics em Cambridge, nos Estados Unidos - Blake Nissen for The Boston Globe via Getty Images
Sede da Moderna Therapeutics em Cambridge, nos Estados Unidos Imagem: Blake Nissen for The Boston Globe via Getty Images

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

08/04/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Farmacêuticas que desenvolveram vacinas contra covid-19 entram no radar de investidores
  • Veja como investir em empresas estrangeiras que têm recibos de ações negociados na Bolsa brasileira
  • Profissionais de mercado apontam vantagens e desvantagens desse investimento

A corrida contra a covid-19 colocou em evidência no mercado algumas das maiores empresas farmacêuticas globais que desenvolveram as vacinas que já estão imunizando populações em todo o mundo. O desenvolvimento em tempo recorde desses novos produtos despertou a atenção dos investidores. Para os investidores brasileiros, a pergunta que fica é se é possível investir nessas empresas.

Como todas as grandes corporações globais, empresas como Pfizer, AstraZeneca, Moderna, Johnson & Johnson, Gilead e BioNTech têm ações negociadas em Bolsas fora do Brasil. Para os brasileiros, uma alternativa simples de aplicar nesses papéis é comprando os BDRs, ou recibos de ações, que funcionam da mesma forma que investir em ações de empresas brasileiras.

Essas ações já subiram desde o começo da pandemia. Mas isso só acelerou um movimento que já estava acontecendo e está relacionado ao envelhecimento da população, que vai precisar de remédios, de hospitais e de investimentos em saúde. A pandemia fomentou esse setor, com injeção de mais dinheiro.
Rodrigo Knudsen, gestor da gestora de recursos Vitreo

Veja abaixo o que mais dizem profissionais de mercado sobre essa alternativa de investimento e se vale entrar nessa onda agora.

Como investir?

Para investir em uma dessas farmacêuticas que desenvolveram as vacinas contra a covid-19, a pessoa precisa abrir conta em corretora para comprar os BDRs na Bolsa. Essa transação funciona da mesma forma que investir em ações. O investidor pode comprar apenas um BDR se quiser - não tem lote padrão.

Impostos: o BDR tem algumas pequenas diferenças em relação às ações brasileiras. Uma delas é que o aplicador não tem isenção de Imposto de Renda para movimentações até R$ 20 mil, como acontece com as ações. É preciso pagar uma alíquota de 15% sobre o ganho, se houver lucro.

Dividendos: o investidor não paga imposto quando recebe dividendos. Mas as ações dessas empresas pagam imposto lá no exterior. Então, o dividendo recebido pelo aplicador de BDR no Brasil é líquido, já descontado esse imposto cobrado no exterior. Além disso, algumas corretoras cobram uma taxa pelo processamento dos dividendos dos BDRs.

Por que vale a pena ter farmacêuticas na carteira?

Segundo gestores de recursos e analistas, vale a pena ter as fabricantes de vacina na carteira, porque são empresas rentáveis. As principais farmacêuticas do mundo são grandes conglomerados, com faturamentos de dezenas de bilhões de dólares. A Pfizer, por exemplo, fatura mais de US$ 40 bilhões por ano há uma década.

  • Dominam tecnologia: as farmacêuticas dominam tecnologias por meio de patentes graças a grandes investimentos em pesquisa, não apenas em vacinas, mas em diversos medicamentos.
  • Atuação global: com atuação global, essas empresas conseguem escala, ou seja, ter muitos mercados, o que permite gerar vendas suficientes para bancar mais investimentos.
  • Saúde: a busca por produtos e serviços de saúde vai crescer. As pessoas estão vivendo mais e buscam melhor qualidade de vida. Assim, com o envelhecimento da população, o mundo vai precisar cada vez mais de serviços de saúde.
  • Diversificação: ter farmacêuticas na carteira de investimento é uma forma de diversificar os riscos. A pandemia mostrou que numa crise alguns setores podem ir muito bem mesmo que a economia como um todo vá mal. Além disso, são empresas internacionais, que não dependem da economia brasileira e, assim, representam uma forma de ter parte da carteira sem ligação com o real brasileiro.

A pessoa deve olhar para as farmacêuticas como uma opção de investimento porque são empresas rentáveis, globais, com histórico de bons resultados e um cenário positivo para os próximos anos. Não apenas por causa das vacinas, mas por tudo o que desenvolvem em outros produtos e medicamentos.
Murilo Breder, analista de ações da Easynvest

Ainda vale comprar mesmo após a valorização?

As farmacêuticas estão por trás das vacinas que estão imunizando o mundo e isso colocou essas empresas em evidência. Até por isso, algumas dessas companhias já se valorizaram até 50% apenas este ano, caso do BDR da BioNTech.

Veja abaixo os desempenhos de alguns BDRs de farmacêuticas comparados ao índice dos BDRs na Bolsa, o BDRX, e ao Ibovespa.

Mesmo assim com essa alta, dizem analistas, vale entrar nessas aplicações neste momento, se o prazo de investimento for de longo prazo, ou seja, acima de cinco anos, pelo menos.

Sobre o momento de entrar, sempre recomendamos que o melhor momento é o atual. A estratégia de alocação é definida para o longo prazo, portanto variações cambiais tendem a ter menor impacto quando analisamos os retornos em prazo mais longos. E vale ressaltar que os BDRs têm volatilidade maior, devido às variações cambiais, e portanto, o horizonte mais longo é fundamental para o investidor estar preparado.
Rafaela Vitória, head de research do Inter

Cuidados na hora de escolher o BDR

Veja alguns motivos pelos quais o investidor deve optar pelo longo prazo ao comprar um BDR de uma farmacêutica.

  • Patentes: como aconteceu após o anúncio do desenvolvimento das vacinas e do sucesso nos testes, novas patentes promovem uma busca por essas empresas e, assim, uma valorização de suas ações lá fora, e dos BDRs aqui no Brasil. Por outro lado, as patentes têm um prazo de validade, após o qual a fórmula das drogas é aberta para qualquer outro fabricante produzir o mesmo item.
  • Câmbio: os BDRs são negociados em reais aqui no Brasil, mas eles acompanham os preços em dólar, euro ou libra, no caso das companhias americanas, europeia ou britânica. Então, os BDRs oscilam de preço de acordo com a cotação dessas ações lá fora e de acordo com a variação do real ante essas moedas internacionais.

Ao investir em BDRs, é importante estar atento à exposição ao risco da empresa e ao risco da moeda. Por isso, é bom ter noção do patamar do dólar e checar a questão das patentes, para ver, por exemplo, se uma patente que tem peso nas vendas da companhia está expirando ou não.
Anand Kishore, Gestor de renda variável da Daycoval Asset

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