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Só milionário podia investir em Google e Amazon, mas agora você também pode

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

12/08/2020 04h00

Resumo da notícia

  • CVM muda regra para investimento em BDRs, recibos de ações de empresas estrangeiras
  • BDRs que só podiam ser comprados por investidor com mais de R$ 1 milhão ficam acessíveis a mais pessoas
  • Empresas brasileiras que lançaram ações no exterior também poderão lançar BDRs

O brasileiro terá mais opções para investir em grandes empresas estrangeiras, como Google, Amazon, Facebook ou Tesla. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regula o mercado de capitais no país, mudou as regras para investimentos em BDRs (Brazilian Depositary Receipts), ampliando o leque de investidores que poderão comprar esses títulos.

Com as novas regras, que começam a valer em 1º de setembro, muitos BDRs que só podiam ser comprados por investidores com mais de R$ 1 milhão para aplicar, os chamados investidores qualificados, agora poderão ser adquiridos no varejo, por qualquer aplicador. Segundo profissionais de mercado, a mudança é positiva porque amplia opções de quem quer diversificar investimentos com ativos do exterior.

"Na hora de diversificar investimentos em ações, o brasileiro fica excluído de vários setores, como o de tecnologia, por exemplo, que está indo muito bem durante a crise econômica, porque nossa Bolsa tem poucas empresas dessa área", diz a especialista em investimentos globais da casa de análise independente Spiti, Francine Balbina.

O que são BDRs

BDRs são títulos negociados na Bolsa brasileira que representam ações de empresas estrangeiras. Não são as ações diretamente, mas representações delas. São negociados por empresas ou instituições financeiras. Para serem comercializados atualmente na Bolsa, precisam estar lastreados em ações da companhia.

Assim, um BDR da Amazon, por exemplo, tem como garantia ações da Amazon, que ficam guardadas como lastro.

Ou seja, antes de lançar um BDR de uma empresa no Brasil, essa empresa ou instituição financeira responsável pelo lançamento desse BDR no país precisa adquirir ações onde elas são negociadas - por exemplo, nos Estados Unidos, e bloquear esses papéis como lastro.

Pela regra atual, para lançar um BDR a empresa tem que ter mais de 50% de seus ativos no exterior. Ou seja, até agora uma empresa brasileira que lance ações no exterior não pode depois lançar BDRs no Brasil baseados nessas ações.

BDRs não patrocinados

Existe no Brasil atualmente quase 500 BDRs disponíveis na B3. Entre esses papéis e,stão algumas das maiores empresas por valor de mercado do mundo, como a varejista do comércio eletrônico Amazon, o grupo de redes sociais Facebook, a fabricante de carros elétricos Tesla ou a companhia de tecnologia Alphabet, dona do Google.

O problema é que a maior parte desses BDRs até agora não podia ser adquirida por qualquer investidor.

A maioria dos BDRs são do tipo não patrocinado - títulos que não foram lançados aqui no Brasil pela empresa dona das ações, mas por instituições financeiras que decidiram oferecer essa opção ao mercado.

Nesse caso, o banco ou corretora vai lá fora, compra as ações de uma empresa, Amazon, por exemplo, bloqueia esses papéis em um custodiante, para então lançar os BDRs no Brasil. Ou seja, não foi a Amazon que realizou a operação, mas uma instituição financeira.
Pelas regras da CVM até então, apenas investidor com mais de R$ 1 milhão disponíveis para aplicações podiam comprar os BDRs não patrocinados.

O que muda

A partir de setembro, os BDRs não patrocinados também poderão ser adquiridos por investidores com menos de R$ 1 milhão para aplicar, ou seja, o pequeno e médio investidor.

A CVM só vai exigir que a Bolsa onde as ações originais do BDR são negociadas seja um mercado classificado como importante, como a Bolsa de Nova York, por exemplo.

As novas regras democratizam o acesso do investidor comum de varejo a mais produtos do mercado.
Francine Balbina, especialista da Spiti

Mais opções de lastro

A CVM também vai permitir que outros ativos além de ações possam servir de lastro para os BDRs. Títulos de dívida, por exemplo poderão ser usados como garantia dos BDRs.

Isso vai ampliar a possibilidade de haver mais BDRs no Brasil de uma mesma empresa. Para lançar mais BDRs da Tesla, por exemplo, a instituição financeira que vai fazer a oferta pode buscar títulos de dívida dessa empresa e não apenas ações para compor o lastro.

Além disso, a Bolsa poderá negociar BDRs lastreados em outro ativo: os fundos de índices, os conhecidos ETFs, negociados em mercados externos.

"O mercado terá a possibilidade de lançar novos produtos, como fundos de BDRs, fundos de ETFs e outros", disse Francine, da Spiti.

Outra mudança é que empresas brasileiras que lançaram ações no exterior também poderão lançar BDRs, decidiu a CVM. Isso vai permitir que empresas como PagSeguro, XP ou Stone também tenham BDRs.

Como investir

Para investir em BDRs o aplicador pode usar os mesmos caminhos que usa para comprar ações.

  • Investir diretamente: Basta abrir conta em corretora e, por meio dela, executar as ordens de compra ou de venda.
  • Fundos: Gestores de recursos oferecem fundos com foco em ativos estrangeiros, como BDRs. Com a flexibilização das regras para investimentos em BDRs decidida pela CVM, a expectativa do mercado é que esse tipo de produto tenha novos lançamentos.

Mais fácil investir em gigantes do exterior

Para profissionais de mercado, investir em BDRs é uma forma de diversificar aplicações com ativos estrangeiros de uma forma simplicada.
A pessoa pode investir em ações nos Estados Unidos, por exemplo, mas o processo é bem mais complicado. O aplicador tem que abrir uma conta numa corretora estrangeira, fazer remessa internacional e ainda ficar sujeito à variação do dólar.

Para operar BDRs, basta estar cadastrado em uma instituição financeira brasileira. Embora as ações de origem possam ser cotadas em dólares, euros ou outras moedas, as operações com BDRs são todas realizadas em reais. Por isso, o aplicador evita taxas extras geradas pela transferência de recursos, por exemplo.

"Abre-se um leque grande para um mercado desenvolvido onde o investidor brasileiro terá também a possibilidade de aplicar em empresas globais", afirma Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora.

Próximos passos

Segundo a B3, a Bolsa brasileira, a partir de agora, ela vai trabalhar para criar o sistema de operações dos BDRs para o pequeno investidor, submetendo os regulamentos para aprovação da CVM e, dessa forma, viabilizando a negociação.

"Esse é o próximo passo, de uma sequência de eventos que precisavam acontecer. Em todos eles, trabalhamos em parceria com a CVM, participando de todas as discussões sobre o tema, que culminaram na publicação final da norma", disse o diretor de Produtos Listados da B3, Mario Palhares.