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Em que setores da Bolsa investir se planos de Guedes derem certo ou errado?

O ministro da Economia, Paulo Guedes - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
O ministro da Economia, Paulo Guedes Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

08/05/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Quem ganha na Bolsa se Guedes emplacar planos que defende?
  • E onde buscar proteção se programas econômicos não derem certo?
  • Veja o que dizem especialistas sobre setores de ações na Bolsa

A Bolsa vem emplacando tendência de alta desde abril, quando teve o primeiro ganho mensal em 2021, depois que o governo finalmente assinou o Orçamento para o ano. O sobe e desce da Bolsa no Brasil acompanha de perto o que acontece em Brasília . Levando isso em consideração, o sucesso ou fracasso dos planos do governo na economia vão ter impacto no comportamento das ações negociadas na Bolsa nos próximos meses.

Mas quais setores podem se beneficiar se tudo o que defende o ministro da Economia Paulo Guedes for adiante? E quais grupos de empresas podem ser porto seguro em cenário de naufrágio? Veja o que dizem economistas de mercado.

O que quer Guedes?

O ministro da Economia defende redução da dívida do governo, do tamanho da administração pública e atração de investimentos do setor privado. O objetivo é aumentar a participação das empresas na economia para compensar a diminuição do Estado. Para isso, Guedes quer:

Controlar gastos: Ao equilibrar as despesas da máquina pública com as receitas geradas pelos impostos, Guedes quer enviar a mensagem aos mercados de que o Brasil não vai dar calote em ninguém. Isso permite que empresários e investidores -locais e estrangeiros- tenham mais confiança para colocar dinheiro aqui no país em novos projetos e gerar empregos.

Privatizações: Como o governo hoje está com o Orçamento muito apertado, o setor público não consegue investir em novos projetos, segundo o ministro da Economia. Ao passar empresas do governo para empresários, Guedes busca levantar caixa com essas transferências e, no segundo momento, possibilitar investimentos novos em áreas que precisam de muito capital, como aeroportos, portos, estradas, saneamento e energia.

Reforma administrativa: Para reduzir gastos com funcionários e possibilitar cortes de despesas com demissão de pessoal quando o governo estiver com pouco dinheiro.

Reforma tributária: Para simplificar o sistema de impostos no Brasil e assim facilitar a vida de empresários que querem investir na atividade econômica e de consumidores que vão enxergar o custo real de cada produto e serviço.

Carteira Guedes na Bolsa se tudo der certo

Segundo economistas, se essas propostas emplacarem, ou ao menos forem encaminhadas, os primeiros impactos na economia serão a queda do dólar ante o real e a redução dos juros de longo prazo -aquela taxa que empresários pagam para tomar dinheiro por períodos acima de cinco anos.

Todas as decisões políticas têm maior impacto na curva de juros, que afeta as decisões dos agentes. Quando os juros de longo prazo caem, isso significa menor risco Brasil. E quando temos um arrefecimento dessa parte dos juros, o custo de endividamento das empresas no longo prazo cai, facilitando investimentos.
Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos

Veja alguns setores que podem se beneficiar de um cenário em que Guedes emplaca os planos.

Construção civil: projetos de infraestrutura devem atrair capital com juros mais baixos e menos incertezas sobre o futuro econômico do Brasil, dizem economistas. Além da redução do custo do dinheiro, o andamento do programa de concessões e privatizações também favorece a atração de mais grupos e investidores para projetos de estradas, aeroportos, portos e saneamento, por exemplo. Companhias que já atuam nessas áreas se beneficiam então desse fluxo positivo.

Setor imobiliário: A construção de imóveis residenciais e comerciais também vai se beneficiar do ambiente de menos incertezas, juros e dólar mais baixos, dizem economistas. Ações de construtoras e incorporadoras negociadas na Bolsa vão recuperar perdas apuradas desde 2020, dizem analistas.

Consumo: Ações de donas de shopping centers, de lojas de roupas, distribuidoras de combustíveis, locadoras de carros e donas de redes de bares e restaurantes devem se aproveitar já em um primeiro momento do ambiente econômico mais favorável, dizem especialistas. Os juros e o dólar mais baixos estimulam o consumo. Além disso, essas atividades impactadas pela pandemia se desvalorizaram na Bolsa e, por isso, estão atualmente com preços convidativos, com potencial de valorização maior, segundo analistas.

Outros setores que também foram muito afetados pela pandemia, como os de aviação, viagens e turismo, devem demorar mais para reagir, até porque são atividades que não serão as mesmas mesmo após a pandemia.
Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos

Carteira Guedes na Bolsa se tudo der errado

Se o ministro da Economia não emplacar os planos que defende ou, pior, se emplacar alguns desses projetos e mesmo assim a economia não sair da lama, alguns setores podem funcionar como porto seguro, dizem profissionais de mercado.

O primeiro impacto de um cenário desses é sobre percepção de risco. Aliás, a gente já teve um trailer de quanto o mercado azeda por causa da política durante essa novela que foi a aprovação do Orçamento. Nessa situação, as variáveis que primeiro reagem são dólar subindo e juros futuros aumentando.
Alexandre Sabanai, sócio gestor da Perfin Asset

Veja abaixo que setores não devem sofrer nesse naufrágio

Exportadoras de matérias-primas: Grandes empresas que atuam no setor de commodities já estão indo bem na crise porque se beneficiam do crescimento econômico da China, maior compradora mundial de minérios, grãos e outras matérias-primas.

Isso ajuda a aumentar o faturamento e o lucro de mineradoras, produtoras de papel e celulose e exportadoras de alimentos. E essa onda não depende do que acontece no Brasil. O país pode afundar, que essas ações vão continuar indo bem, dizem analistas.

Saúde: Empresas que atuam no setor de saúde e que são líderes de seus ramos vão continuar com desempenho positivo mesmo que a economia brasileira piore. São companhias que atuam em áreas com vida própria e sem correlação direta com o dólar ou juros, dizem analistas.

Seguradoras: O mesmo raciocínio vale para seguradoras, dizem analistas de Bolsa. As vendas e o lucro dessas companhias não sofrem impactos relevantes com alta do dólar. Elas até ganham com um aumento dos juros. Além disso, são boas pagadoras de dividendos.

Um setor que vai bem em qualquer cenário é o de commodities, seja o de minerais, proteínas ou papel e celulose, por causa da demanda mundial, que vai continuar forte. Numa estratégia conservadora, esses setores seriam os que teriam menor problema. Mas é importante tomar cuidado porque algumas dessas ações já estão no ápice de suas cotações. Então, selecionar com mais cuidado quais têm mais condições de subir em qualquer ambiente. Vale checar, por exemplo, o nível de endividamento porque o dólar forte pode prejudicar empresas endividadas em moeda estrangeira.
Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais

E a vacinação?

Todos os analistas de mercado ouvidos pelo UOL destacaram que o ministro da Economia deveria incluir no topo de suas prioridades neste momento acelerar o ritmo da vacinação.

A cartilha econômica pregada por Guedes faz sentido, dizem esses profissionais, mas se o Brasil não contiver a pandemia por meio de uma imunização mais rápida, a economia não vai sair do atoleiro.

O ministro Paulo Guedes tem falado que a vacinação é prioridade.

Sem vacinação, o setor de serviços é o que mais vai sofrer na Bolsa. O problema é que esse setor é o que tem mais peso no Ibovespa. Sinceramente, não sei se o Paulo Guedes é um bom elemento para a Bolsa neste ano.
Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Corretora

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