Bolsa está subindo demais? Vale a pena comprar ações agora ou é arriscado?
Resumo da notícia
- Ibovespa já subiu mais de 95% desde que bateu mínima em 23 de março de 2020
- Alta de matérias-primas e balanços de empresas este ano alimentam ganhos da Bolsa
- Veja projeções de analistas para o Ibovespa para o fim deste ano
O Ibovespa já subiu 95% desde que bateu a mínima depois da crise da pandemia, em 23 de março do ano passado. Naquela data, o principal índice de ações do Brasil caiu a 63.569 pontos, recuando 47% da máxima anterior, batida em 23 de janeiro de 2020 em meio ao temor dos investidores com relação ao impacto da covid-19 sobre a economia e as empresas.
Analistas de mercado dizem que a forte e consistente valorização das matérias-primas no mercado internacional, os balanços apresentados pelas empresas com ações listadas em Bolsa no primeiro trimestre e mais a expectativa de retomada da atividade econômica global no segundo semestre estão alimentando o otimismo dos investidores e, por tabela, a valorização do Ibovespa.
Diante da valorização que o índice já apresenta e das expectativas de subir ainda mais, vale investir na Bolsa? Ela está ficando cara? Veja o que dizem os especialistas ouvidos pelo UOL.
Trajetória do Ibovespa até agora
Depois de bater o fundo do poço em 23 de março de 2020, o Ibovespa teve tendência predominantemente positiva, indo inclusive além dos patamares pré-pandemia. No dia 8 de janeiro deste ano chegou a bater recorde histórico nominal, atingindo 125.076 pontos.
Depois desse marco, o indicador perdeu um pouco do ímpeto para retornar ao patamar de 110 mil pontos no fim de fevereiro. A partir daí, a valorização voltou a comandar o mercado, levando o índice da Bolsa a superar os 120 mil pontos novamente.
A dúvida é se os fatores que estão alimentando a alta do índice nos últimos meses poderão sustentar novas altas nos próximos meses, ou se o mercado poderá enfrentar um ajuste antes de emendar uma nova onda de ganhos ainda este ano.
Veja abaixo as previsões de algumas instituições financeiras para o Ibovespa neste fim de ano, e os cenários por trás dessas projeções dos profissionais de mercado.
3 motivos para alta da Bolsa, segundo os analistas
- Valorização das commodities: a China reagiu à crise econômica da pandemia mais rapidamente e passou a comprar matérias-primas como metais e grãos, puxando uma valorização mundial nos preços de minério de ferro e soja, por exemplo. O Brasil é um dos maiores exportadores desses produtos. E empresas desse setor têm grande peso no Ibovespa. A mineradora Vale, por exemplo, representa cerca de 12% do Ibovespa;
- Balanços das empresas: o desempenho da maior parte das empresas brasileiras com ações negociadas em Bolsa e que fazem parte do Ibovespa foi impactado pela pandemia, mas os números vieram acima do que a média dos analistas esperava. Isso quer dizer, afirmam executivos, que as grandes companhias do país estão prontas para voltar a crescer, e com velocidade, assim que a atividade econômica recuperar o passo normal que havia antes das medidas de isolamento social;
- Expectativa de reabertura econômica: algumas das principais economias do mundo, como a chinesa e a norte-americana, já estão voltando ao ritmo de produção e de consumo que tinham antes da pandemia, graças ao ritmo acelerado da vacinação por lá. No Brasil, a velocidade da imunização ainda preocupa, mas para analistas de instituições financeiras já é possível projetar como a economia vai reagir nos próximos meses. Isso é diferente do grau de previsibilidade que havia um ano atrás, quando nem vacina existia ainda, apontam analistas de mercados.
Para mim, a Bolsa não está cara porque subiu a esse patamar basicamente pelo movimento internacional, pelo boom de commodities. Essa retomada da economia e do consumo de commodities veio de forma estrutural, e vai continuar por dois a três anos. A gente percebe isso pelos bons resultados de empresas exportadoras. Além disso, as empresas estão apresentando bons resultados, com desempenho acima do que era projetado. Esses fatores vão continuar influenciando positivamente a Bolsa. No nosso cenário base, o Ibovespa pode ir a 140 mil pontos até o fim do ano.
Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual digital
A Bolsa está barata?
Profissionais que acompanham a Bolsa gostam de comparar o Ibovespa com outros índices para checar se ele está fora de padrões históricos. Essa comparação pode ser com índices acionários de mercados desenvolvidos, como o norte-americano, ou com índices de mercados emergentes, grupo do qual o Brasil faz parte.
A estrategista de ações da XP Investimentos, Jennie Li, destaca que nessas duas comparações, o Ibovespa estaria operando no momento com um desconto, ou seja, com espaço para seguir subindo.
Olhando os indicadores, a gente vê que a Bolsa brasileira está barata. Considerando, por exemplo, a relação lucro versus preços, as ações do Ibovespa são negociadas atualmente com uma relação de 10,4 vezes, enquanto na média, essa relação seria de 11,6 vezes. Se compararmos o Ibovespa com o S&P500, índice da Bolsa de Nova York, o indicador brasileiro costuma operar com um desconto de 30%, mas hoje está com um desconto de 50%. E se compararmos o Ibovespa com o MSCI Emergentes, que é um indicador das ações de mercados emergentes, estamos hoje com um desconto de 30% quando historicamente o Ibovespa opera sem desconto em relação a esse indicador.
Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos
Bolsa é lucro das empresas, e a gente já vem de um primeiro trimestre bastante positivo para as commodities, que está permitindo uma forte geração de caixa e de lucro para essas companhias. A gente vai continuar vendo essa geração forte de caixa para essas empresas. E faz sentido a gente considerar as empresas ligadas a commodities no desempenho do Ibovespa porque esse setor representa cerca de 36% do índice.
Pietra Guerra, analista da Clear Corretora
Bolsa está barata, mas tem alguns riscos
Os analistas dizem que enxergam mais motivos para o Ibovespa seguir em alta do que para engatar uma ré, mas alertam que há riscos no horizonte que podem impedir a concretização dessas previsões. As três fontes de problemas são:
- Pandemia no Brasil: se a imunização se tornar ainda mais lenta e o Brasil for engolido por uma terceira e mais grave onda de covid-19, a economia não vai sair do atoleiro. As empresas exportadoras até poderão seguir se beneficiando da volta à normalidade no exterior, mas as companhias que dependem do consumo e do emprego doméstico vão seguir com vendas e investimentos baixos. Portanto, vacinação é fundamental.
- Reformas: se a agenda de reformas do governo não avançar ao menos com um calendário que sinalize um horizonte para aprovação da reforma tribuária, os investidores locais e estrangeiros vão ficar cada vez mais desconfiados, provocando alta do risco-país. O aumento desse indicador pode forçar o Banco Central a elevar os juros de forma mais rápida. Selic mais elevada pode atrapalhar o fluxo de dinheiro na Bolsa, atrapalhando a escalada do Ibovespa.
- Juros nos Estados Unidos: se o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) avaliar que a inflação por lá está começando a sair do controle e julgar necessário elevar os juros, isso afeta o Brasil. Quanto maior a taxa de juros nos Estados Unidos, mais alta tem que ser a taxa de juros no Brasil para atrair o investidor estrangeiro, ou do contrário ele vai preferir manter o capital dele por lá mesmo.
Vejo os riscos de um cenário negativo influenciado muito mais pelas questões internas do Brasil do que por questões externas.
Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos
O estrategista tem no cenário base para este ano um Ibovespa de 128 mil pontos. No pior cenário, o Ibovespa poderia cair a 107 mil pontos.
Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.
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