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Preço da carne castiga consumidor, mas quem investe em ações se dá bem

Nivaldo Souza

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/06/2021 04h00

As carnes têm sido apontadas como as grandes vilãs da inflação do país. Em 12 meses, o preço delas subiu 38%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em algumas regiões, a alta foi ainda maior, ultrapassando os 59%, como é o caso de Rio Branco (AC).

Se para os consumidores, principalmente os de baixa renda, esse aumento nos preços é cruel, para quem tem dinheiro para investir, o cenário pode representar oportunidade para ganhar mais.

Mesmo em meio à pandemia, com mercado recuando, teve empresa do setor frigorífico listada na Bolsa que terminou 2020 com lucro líquido 4.200% maior em relação ao registrado em 2019.

Esses resultados afetaram os papéis do setor na Bolsa, e as ações do setor subiram, segundo balanço da plataforma de informações financeiras Economatica feito a pedido do UOL Economia+. Confira o desempenho dessas empresas, e se valem o seu investimento, segundo especialistas.

Dólar puxou lucro

A desvalorização do real frente ao dólar potencializou o lucro das empresas do setor de carnes, que buscaram no mercado externo uma maneira de compensar deficiências domésticas, segundo especialistas.

O câmbio compensou dois problemas sentidos pelo setor desde o ano passado: um menor volume de abate de bois causado pelo ciclo natural de crescimento dos animais, e a queda no consumo de carne no mercado interno, que tem relação direta com a alta da inflação e retração na renda ocasionada pelo desemprego elevado.

Para Lygia Pimentel, analista da Agrifatto, as empresas conseguiram contornar a queda na oferta de carne. O abate de animais caiu 8,5% no ano passado em relação a 2019, totalizando 29,7 milhões de cabeças de gado, levando o país ao patamar de 2016. Já no primeiro semestre de 2021, o abate de 6,65 milhões de animais foi o menor para o período desde 2009.

A gente viu o câmbio como fator decisivo para os resultados que as indústrias têm apresentado. A Minerva, por exemplo, é uma das empresas que mais sofre queda no volume de abates. Mas foi a que mais apresentou resultado positivo.
Lygia Pimentel, analista da Agrifatto

O lucro líquido de R$ 697 milhões da Minerva no ano passado, o maior da história da empresa, significou um salto de 4.200% sobre os R$ 16, 2 milhões de 2019.

No primeiro trimestre deste ano, as empresas também conseguiram resultados positivos. Tanto a BRF, como a JBS e a Marfrig reverteram prejuízos que tiveram nos primeiros três meses de 2020 e apresentaram lucro no primeiro trimestre de 2021. O destaque ficou com a Marfrig, que saiu de um prejuízo de R$ 137 milhões para um lucro de R$ 279 milhões.

Ações seguem atraentes

Os especialistas apontam que o estoque global de animais para abate segue menor, favorecendo o ganho de empresas exportadoras. A exportação teve peso de 25,65% na comercialização total das empresas entre janeiro e maio, segundo as contas da consultoria Agrifatto, mantendo o patamar dos cinco primeiros meses do ano passado (25,42%).

Na avaliação de Sérgio Berruezo, da Ativa Investimentos, companhias com operação nos EUA devem seguir em alta por se beneficiar da reabertura da economia norte-americana, com restaurantes voltando a receber clientes normalmente. "Isso está criando uma demanda de curto prazo para JBS e Marfrig muito boa", diz.

Leonardo Alencar, da XP Investimentos, afirma que a "recuperação acelerada" das empresas no pós-pandemia vem ocorrendo desde meados do ano passado e deve se manter. Entre os motivos está a perspectiva de manutenção das exportações elevadas para a China e outros mercados asiáticos, que devem se manter aquecidos por empresas como Minerva e BRF.

A China sofre ainda com os efeitos de uma praga que dizimou cerca de 25% do seu rebanho suíno, que é o maior do mundo. Isso fez os chineses importarem mais proteína animal (bovina, suína e frango). O mercado chinês respondeu por 53% das exportações de carne bovina nos cinco primeiros meses desse ano, contra 46% no mesmo período de 2019. Na mesma base de comparação, Hong Kong elevou a participação na remessa externa do Brasil de 10% para 16%.

Chineses e empresas se beneficiaram da retração da economia brasileira. O mercado confia agora na retomada do PIB, com geração de emprego e aumento do consumo interno. Nesse cenário, as empresas devem equilibrar a oferta para atender essa demanda, segundo especialistas.

Nesse contexto, quem ganha é o investidor

De acordo com a Economatica, quem investiu na BRF em 31 dezembro de 2020, e manteve a ação em carteira até a última terça-feira (15), acumulou uma rentabilidade de 36,43%. O investidor que optou pela Marfrig lucrou 35,76%, ante 26,51% da JBS e 4,67% da Minerva.

Apesar dos números, o cenário exige cautela para quem deseja investir em ações do setor, especialmente para não esperar ganhos exagerados, segundo especialistas.

Acho que o melhor momento [para investir] passou, que foi quando ninguém enxergava o que ia acontecer com a crise [sanitária] até ficar claro que as indústrias de processamento [de carne] se dariam bem. Mas isso não significa que daqui para frente não seja positivo manter posição nesses papéis. É importante entender que eles vão continuar crescendo, mas não no ritmo anterior.
Lygia Pimentel, analista da Agrifatto

Disputa por BRF esquenta o mercado

O mercado tem dado sinal neutro para investimentos na BRF, cuja produção é mais forte em carne de frango e suína. A Marfrig, cuja força está em carne bovina, comprou 24% das ações da concorrente por cerca de US$ 1 bilhão.

Uma eventual fusão com a BRF é apontada como tentativa de a Marfrig ganhar musculatura para brigar com a JBS, que pode reagir. "Há especulações de mercado, como a de que a JBS poderia comprar 100% das ações da BRF", diz Berruezo.

Seja qual for o desfecho, o apetite das concorrentes pode ser controlado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão responsável por fiscalizar potenciais concentrações de mercados.

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