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Empresas sustentáveis têm rendido mais que a média; em que ações investir?

Nivaldo Souza

Colaboração para o UOL, de São Paulo

17/08/2021 04h00

O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), que reúne empresas com responsabilidade ambiental. social e de governança corporativa (ESG) completou 15 anos com histórico de rendimento superior ao principal indicador da Bolsa, o Ibovespa. O índice registra variação de 276% entre 2006 e a primeira quinzena de agosto deste ano. No mesmo período, o Ibovespa, que representa a média das principais ações da Bolsa, valorizou-se 255%.

O comparativo foi elaborado para o UOL pela analista research ESG da XP, Marcella Ungaretti. Ela e outros analistas explicam como o índice funciona, as mudanças anunciadas pela B3 para 2021 e quais empresas podem ser atraentes para montar uma carteira de ações com base no ESG. Veja abaixo.

Mudanças em 2022 podem manter ISE atrativo

O analista Victor Bueno, da Top Gain, afirma que o Ibovespa melhorou o desempenho frente ao ISE a partir de 2018, com novas empresas entrando no índice. Com isso, no acumulado de 2011 a 2021, a valorização foi de 92,82% ante 91,78% do ISE.

"As empresas do Ibovespa foram se recuperando e conseguiram superar o ISE, muito por conta de algumas não listadas no ISE, como o Banco Inter e Localweb", afirma.

Mas para 2022, a B3 prepara mudanças que podem manter o ISE como alternativa atraente de investimento. A expectativa é que mais empresas entrem no índice em razão do peso que a agenda ESG ganhou ao longo dos últimos dois anos.

"Para a lista de 2022, os investidores poderão contar com mais opções de investimentos sustentáveis", diz Iago Souza, analista da Warren.

As mudanças ocorrem visando o bolo de US$ 30 trilhões disponíveis em fundos de investimentos internacionais com critérios de seleção baseados em ESG.

No modelo atual do ISE, por exemplo, o questionário exigido das companhias supera 350 questões em seis temas: capital humano; governança corporativa e alta gestão; modelo de negócio e inovação; capital social; meio ambiente e mudança do clima. O número é considerado exagerado.

O modelo também não apresenta um ranking de pontuação das empresas na métrica de seleção do índice, nem uma nota de corte para saber quanto das obrigações de ESG cada companhia cumpre.

A partir do próximo ano haverá uma nota de corte de 60,23 em 100 pontos possíveis. A empresa que não atender a essa nota não entrará no ISE B3. O questionário também será reduzido em até 40%, com peso diferenciado por setor das empresas — uma mineradora, por exemplo, terá de comprovar mais ações na área de proteção ambiental do que um banco.

Haverá regras para as comprovarem ações de ESG e notas por área: meio ambiente; governança corporativa e alta gestão; capital humano; capital social e modelo de negócios; e inovação. O desempenho em cada área será público, diferentemente de como é hoje.

"Na forma como o ISE está hoje, há algumas ressalvas por parte dos investidores em relação à metodologia. A B3 reconheceu e agiu para revisá-la por uma metodologia muito mais robusta e que traz mais transparência. É de se esperar que a carteira do ISE em janeiro de 2022 trará mais credibilidade", afirma Marcella, da XP.

Qual o tamanho do índice?

Enquanto o Ibovespa é composto por cerca de 90 empresas, dentre as 400 companhias listadas na B3, o ISE está limitado a 40 das companhias emissoras das 200 ações mais negociadas. São empresas de 15 setores — como agronegócio, bancário, energia, telecomunicações, serviços e varejo.

O número de empresas que se inscreveram para participar do índice cresceu de 46 para 78 entre 2020 e 2021, aumentando em 69,5%. Há 39 empresas listadas hoje, ante 36 em 2020. Neste ano 100% das empresas se comprometeram, por exemplo, a criar mecanismos disciplinares para punir casos de preconceito sexual e de gênero, ante 77% em 2020.

É possível acessar no site da B3 a resposta de cada empresa para todas as questões.

O ISE é composto por 47 ações e as empresas, juntas, valem R$ 2,3 trilhões. A valorização dessas companhias cresceu 35% em relação a 2020, quando foi estimada em R$ 1,7 trilhão.

Há três ações no índice com maior peso em relação ao conjunto de papéis listados. A WEG tem peso de 8,5% na composição do índice, seguida pela Petrobras (7,97%) e a Natura (7,35%).

Como investir no ISE?

Para investir no ISE é preciso aplicar via ETF (Exchange Traded Fund), uma espécie de fundo que acompanha um índice específico.

As aplicações no ISE podem ser feitas pelo ETF ISUS11, gerido pelo Itaú Unibanco e divididos em lotes de 100 mil cotas. A taxa de administração cobrada para investir no fundo é de 0,4% ao ano.

A Bolsa oferece outros índices de sustentabilidade, o principal depois do ISE é o SP&P/B3 Brasil ESG —chamado também de Índice Brasil ESG. Lançado ano passado, o índice tem como base 10 princípios ligados aos direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção.

O índice é formado por empresas listadas no S&P Brazil BMI. A metodologia nesse caso é elaborada pelo Dow Jones Sustainability Index, que exclui algumas atividades como mineração de carvão e tabaco. O critério neste caso tem como base o Pacto Global da ONU.

Filipe Ferreira, diretor da Comdinheiro, avalia que o SP&P/B3 é composto por empresas que têm no ESG uma atuação sustentável, incluindo mudanças nos conselhos de administração para mulheres, por exemplo. "Especialmente para Natura, Renner e Klabin, o ESG está na estrutura do negócio para se tornar algo perene e não para marketing", afirma.

As melhores ações do ISE, segundo analistas

Os analistas ouvidos pelo UOL avaliam que investir em empresas isoladas, ao invés no índice, é uma alternativa. "Não existe um mapa do tesouro ou uma receita de bolo que vai dizer as melhores ações do índice", afirma o analista da Warren.

Mas investir diretamente nos papéis é mais arriscado do que investir no índice, onde há um sistema de peso e contrapeso entre as ações, segundo os especialistas. Quando uma ação oscila negativamente, outra pode subir e equilibrar o jogo. "Entrar na Bolsa pelo índice é uma opção que dá uma exposição mais ampla e pulverizada, por ser 39 companhias", afirma Marcella Ungaretti, da XP.

A orientação é buscar equilíbrio na composição de uma carteira com ações variadas. De acordo com Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos, entres as boas opções estão WEG, Natura, BTG Pactual, Klabin, Itaú Unibanco e BR Distribuidora.

"Com os papéis das empresas listadas no ISE, o investidor consegue um bom nível de diversificação setorial e exposição macro. Acho que daria uma carteira bastante balanceada", afirma

Já Bueno, da Top Gain, elenca um "top 5" para investidores comprometidos com o ESG. São elas: Weg, Vivo, Bradesco, Engie e Santander. O analista recomenda ficar atento à Petrobras, cuja receita bateu os R$ 100 bilhões, e o Banco do Brasil, que registra queda nos níveis de inadimplência e é boa pagadora de dividendos.

Souza, da Warren, observa que a Klabin, Americanas, Renner e NeoEnergia são opções de empresas do ISE com potencial de valorização no longo prazo. "Com o mercado falando muito sobre empresas de 'meio de ciclo', eu ficaria de olho em empresas com grande atuação doméstica", diz.

Já Marcella, da XP, avalia que Weg e Movida são boas empresas do índice ISE. Para ela, contudo, existem empresas que estão bem posicinadas na agenda ESG, mas não estão no ISE: Aeris (energia renovável), Orizon (gestão de resíduos) e Localiza (locação de veículos).

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