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Bolsa Chanel: ícone da moda valoriza 35% ao ano; vale como investimento?

Bolsa Chanel tem tido grande valorização mesmo com peças usadas - Patricia Araújo/UOL
Bolsa Chanel tem tido grande valorização mesmo com peças usadas Imagem: Patricia Araújo/UOL

Vinicius Silva

Colaboração para o UOL, de São Paulo

06/02/2022 04h00

Sonho de consumo de muitas mulheres ao redor do mundo, as bolsas da marca francesa Chanel vão além do status social. Um levantamento publicado pela gestora IP Capital mostrou que o preço da bolsa clássica (flap jumbo) da Chanel subiu cerca de 70% desde 2019. Para comparação, o Ibovespa, principal índice de ações do Brasil, caiu 11% no acumulado dos dois últimos anos. Com tal diferença na valorização entre as 'bolsas', já há investidores dispostos a comprar o produto da Chanel a fim de também lucrar com isso.

Afinal, vale a pena comprar bolsas Chanel, já que se valorizam com o passar dos anos? E esse tipo de negócio pode ser considerado um investimento? Especialistas ouvidos pelo UOL respondem a essas dúvidas logo abaixo.

Bolsa que valia R$ 35 mil hoje custa R$ 60 mil

A empresária Raíra Pinto, 28, comprou uma Chanel clássica em 2018. À época, pagou cerca de R$ 35 mil. Hoje, a mesma bolsa já sai por cerca de R$ 60 mil.

A bolsa que comprei se valorizou muito e ela continua igual. Claro que há o desgaste do uso, mas ninguém usa uma bolsa dessa todo dia, então ela não fica velha. Hoje, vi em sites de bolsas de marcas usadas gente pedindo R$ 50 mil pelo mesmo produto usado.

Essa alta é um fenômeno global. Um estudo do e-commerce The RealReal, que revende peças usadas, mostrou que o preço de diversos artigos de luxo subiu quase 400% nos dois últimos anos, em um fluxo de vendas entre a geração X (nascidos entre 1965 e 1981) e a geração millennium (nascidos entre 1981 a 1995).

Segmento de luxo segue firme

De acordo com os especialistas entrevistados, o aumento do preço de artigos de luxo ocorre, principalmente, devido à alta do dólar perante o real e à chegada da pandemia do coronavírus (covid-19), que fez com que as pessoas não pudessem gastar em viagens nos últimos anos e recorressem a outros itens para satisfação pessoal.

"Com a soma de juros muito baixos [em alguns países], com o incentivo de poupar sendo pequeno, e as alternativas de geração de bem-estar escassas em meio à pandemia, a compra de bem de luxo acaba recebendo esse fluxo de dinheiro. E, por isso, os preços desses itens subiram tão acima da inflação", disse Filipe Ferreira, diretor da casa de análises do mercado financeiro Comdinheiro.

Além disso, o setor de alto luxo raramente passa por crises, segundo Virginia Prestes, professora de economia da FAAP.

[O mercado de luxo] é um segmento que acaba não tendo muita crise, não sofre com sazonalidade ou outros fatores, como o varejo mais tradicional. Às vezes, quando estamos passando por crises, o alto luxo passa por uma apreciação --dado que pessoas com alto poder aquisitivo querem mostrar que estão bem, apesar do contrassenso.
Virginia Prestes, professora de economia da FAAP

Tem público para vender?

Uma das grandes dúvidas quando se aposta em investimento é se há liquidez suficiente, ou seja, se há quem compre aquilo quando o investidor desejar vendê-lo. Contudo, a demanda por quem aprecia marcas de luxo, mas talvez não queiram (ou não possam) pagar por um produto novo criou um mercado secundário, encontrado pela empresária Raíra.

Um desses exemplos brasileiros é o e-commerce Gringa, da atriz e empresária Fiorella Mattheis. A empresa aposta justamente nesse mercado de bolsas e acessórios de alto luxo. Nele, é possível encontrar bolsas da marca Chanel com preços que variam entre R$ 15 mil e R$ 30 mil.

Bolsas Chanel valem como investimento?

Portanto, se há valorização rápida e um mercado secundário em que o investidor pode vender as peças, uma bolsa Chanel pode ser um bom investimento, certo? Depende. Segundo os especialistas, um artigo como esse pode até ser considerado como um investimento --mas seria algo pontual, que talvez não renda bons lucros futuramente.

De acordo com Filipe Ferreira, da Comdinheiro, o investidor não deveria comprar bolsas da Chanel para compor uma carteira de investimentos, já que a desvalorização de uma peça usada pode gerar prejuízo caso os preços parem de subir em um futuro próximo. Ainda mais que as bolsas Chanel não são itens que geram caixa ou lucro, como uma ação de uma empresa listada na Bolsa de Valores, por exemplo.

"Faz sentido comprar como investimento? Provavelmente não. Temos que analisar que boa parte desse efeito é absorvido pela ideia de exclusividade. Então a velocidade com que os preços dessas peças vendem no mercado secundário não é igual", diz Ferreira.

Não dá para comprar[a bolsa] esperando por si que ela se valorize. Quando você vender, você terá que aplicar um deságio [desvalorização] por ela ser usada, e acaba perdendo o sentido de investimento.
Filipe Ferreira, diretor financeiro da Comdinheiro

Já para Virginia Prestes, o investimento em uma bolsa Chanel pode até ser considerado —afinal, já existem outros investimentos sem um fluxo de caixa, como o bitcoin. Mas ela diz que o interessado em comprar deve tomar cuidado e alocar apenas uma pequena parte do montante total a ser investido.

"Acho que sempre deve ter um pedaço pequeno em relação à diversificação da carteira, já que a oscilação e o tamanho do investimento deve ser proporcional ao conhecimento que ela [a pessoa que investe] tem do mercado. Agora, para quem não conhece muito, tem que ser um pedaço pequeno, igual para criptomoeda ou para outros tipos de investimento nos quais não há um fluxo de resultados mais claros", declara Virgínia.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.