Com nova alta de juros, renda fixa tem chance de voltar a render 1% ao mês
A taxa básica de juros (Selic) alcançou 11,75% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 16 de março. Para o investidor, especialistas afirmam que o momento é de ajustar a carteira e buscar rentabilidade nominal (rendimento total do investimento, sem descontar despesas com taxas, Imposto de Renda ou inflação) em torno de 1% ao mês —realidade vista até 2017, quando a Selic estava na casa dos 13%.
O UOL ouviu cinco analistas sobre o que fazer com a carteira de investimentos no atual cenário. Assim, eles indicam quais são as melhores estratégias —principalmente as de renda fixa— para buscar a rentabilidade próxima de 1%, levando em consideração a tendência de a Selic ter novas altas até o fim do ano.
Renda fixa com rendimento de 1% ao mês
Diante do aumento da taxa básica de juros projetada, investimentos de renda fixa (por exemplo, Tesouro Selic, CDBs e Fundos DI) poderão voltar a oferecer um ganho nominal de 1% ao mês? Especialistas dizem que sim.
Os investimentos de renda fixa podem, sim, render 1% nominalmente no mês, mas é necessário ter atenção à especificidade em relação a características dos ativos e ao Imposto de Renda.
Ariane Benedito, economista da CM Capital
Economista da CM Capital, Ariane Benedito declara que, considerando um CDB (Certificado de Depósito Bancário) de 130% do CDI —Certificado de Depósito Interbancário, taxa formada pela compra e venda de títulos privados entre os bancos, e com valor semelhante à Selic— com vencimento de quatro anos, o investidor teria um rendimento ao mês livre de Imposto de Renda de aproximadamente 1,01%. Ainda, ela reforça que a taxa equivalente anual para receber 1% ao mês é de 12,68%.
Ou seja, se o investidor alocar em LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) ou LCI (Letra de Crédito Imobiliário) —dois tipos de investimentos isentos de IR para pessoa física— a essa taxa, ele receberá o 1% ao mês livre de IR.
Quanto aos fundos de investimentos (como os fundos DI), a economista afirma que, devido à taxa de administração (mesmo que seja baixa) e considerando o Imposto de Renda, esses ativos ainda não conseguirão entregar 1% ao mês para seus cotistas.
"Vale lembrar que a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] exige que os fundos divulguem a rentabilidade líquida do fundo, ou seja, já descontadas as possíveis taxas. CDI: 11,65% e IR: 15%", diz Ariane.
Economista e especialista em investimentos da Magnetis, Daniel Jannuzzi declara que o ganho nominal de alguns "investimentos mais conservadores, como Tesouro Selic e alguns CDBs com 100% liquidez [resgate do dinheiro] de 100% do CDI, ainda estão um pouco abaixo" do ganho nomimal de 1%.
Já Abner Gonçalves, líder de Produtos e Alocação da Blue3, afirma que a renda fixa ainda não irá oferecer rendimento de 1% ao mês por enquanto. Para ele, essa rentabilidade só será possível quando a Selic atingir o patamar de 12,7% ao ano —e hoje está em 11,75%.
Analista de soluções financeiras da Ativa Investimentos, Rodrigo Beresca concorda com Gonçalves.
"A Selic em 11,75% ao ano significa que os rendimentos [...] de um título atrelado a 100% do CDI tenderão a um retorno de 0,93% ao mês. Para uma rentabilidade de 1% ao mês, a Selic deveria estar em 12,68% ao ano ou a rentabilidade do título atrelado ao CDI dever ser de 108% do CDI", declara Beresca.
Com a perspectiva de aumento da Selic ainda em 2022, Jaqueline Benevides, analista de renda fixa do TC Matrix, do TC, afirma que o rendimento de 1% em ganho nominal ao investidor de renda fixa está "mais próximo do que o espero".
Esse ganho de 1% ao mês, quando falamos da renda fixa, está mais próximo do que o esperado, lembrando que estamos falando de uma taxa nominal. Se o BC [Banco Central] seguir na linha do seu comunicado e aumentar a taxa em 1% na próxima reunião, chegando a 12,75%, o 1% ao mês [arredondado] já se torna uma realidade para o investidor de renda fixa.
Jaqueline Benevides, analista de renda fixa do TC Matrix, do TC
Melhores investimentos em renda fixa
Aos investidores que querem surfar na onda da alta da Selic, Ariane recomenda os títulos de renda fixa pós-fixados e atrelados ao CDI. Vale lembrar que títulos pós-fixados são aqueles investimentos ligados a determinado indicador econômico —como a taxa Selic ou o IPCA (indicador da inflação), por exemplo—; logo, seus rendimentos dependerão do aumento desse indexador.
Gonçalves concorda com Ariane. "O mais sugerido são os ativos pós-fixados atrelados à Selic ou CDI. Porém, é importante observar que é provável que estejamos próximos do fim do ciclo de alta da taxa de juros. Por isso sempre sugerimos diversificar a carteira com outros indexadores [investimentos]", diz.
Dentre os títulos pós-fixados da renda fixa, Jannuzzi, da Magnetis, aconselha o Tesouro Selic. "É o melhor instrumento, com o melhor risco —inclusive melhor do que CDBs que rendem 100% de CDI. Para quem tem perfil mais moderado, alguns fundos de crédito são as melhores opções, pois já estão rendendo mais de 1% ao mês no cenário atual".
Para os investidores mais conservadores, que preferem não tomar grandes riscos, Beresca, da Ativa Investimentos, destaca também o Tesouro Selic, além do CDB atrelado ao CDI —ou seja, investimentos que podem ser resgatados em até dois anos.
"Se o investidor possui perfil mais moderado ou agressivo, títulos com vencimentos mais longos são boas opções, pois tendem a pagar taxas maiores que os de curta duração", declara.
Neste perfil, Beresca recomenda CDB de duração mais longa, LCI, LCA, CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários), CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e debêntures com isenção de Imposto de Renda para pessoa física.
O aumento da Selic torna os ativos pós-fixados mandatários dentro da carteira do investidor, sendo esses os que apresentam menos riscos e cabem no perfil de qualquer amante da renda fixa, desde os mais conservadores até os mais arriscados. São os tipos de ativos que deixam o investidor dormir tranquilo.
Jaqueline Benevides, analista de renda fixa do TC Matrix, do TC
E quanto aos investimentos prefixados —aqueles que têm sua rentabilidade indicada na compra dos ativos, sem influência de indicadores como Selic e IPCA? Para Jaqueline, esses tipos demandam cautela "não devem ser utilizados de uma ver única".
"Com aumentos constantes dos juros e uma inflação persistente, a tendência é que os prêmios venham a subir e alocações imediatistas nesses ativos [prefixados] podem ser um tiro no pé. Em todas as alocações, a fim de mitigar os riscos, é necessário ter atenção e cautela nos prazos de vencimentos. Quanto maior o prazo, maior o risco. Por isso, vencimentos de curto a médio prazo são essenciais", afirma.
Quanto investir em produtos atrelados à taxa básica de juros?
Gonçalves, da Blue3, diz que investidores com perfil moderado podem investir até 15% em ativos de renda fixa pós-fixados atrelados ao CDI.
Aos investidores mais conservadores, o recomendável é uma carteira "100% atrelada a ativos pós-fixados", de acordo com Jannuzzi. Para ele, perfis mais moderados podem investir de 60% a 65% em títulos do tipo, mas com vencimentos mais longos —e o restante em renda variável, por exemplo. Já investidores com perfil arrojado devem destinar 25% da carteira para isso.
Gonçalves, da Blu3, declara que o percentual de alocação em investimentos ligados à Selic ou indicadores do tipo, como o IPCA, "pode variar também de acordo com a necessidade de liquidez [data de resgate do dinheiro] do investidor".
Seja qual for o perfil do investidor, os ativos pós-fixados são mandatórios na composição de uma carteira. Os prazos sugeridos são de curto a médio prazo, com o objetivo de diminuir os riscos de longo prazo.
Jaqueline Benevides, do TC
Com a Selic em alta, quais investimentos devem perder espaço na carteira?
"Com um custo de oportunidade maior, tensões geopolíticas e a corrida eleitoral cada vez mais se aproximando, a tendência é que investidores aumentem suas posições de renda fixa e diminuam em renda variável", diz Ariane.
Contudo, para a especialista, isso não significa que investidores devem deixar de aplicar na Bolsa. "Muitas empresas na Bolsa ainda continuam descontadas [com ações baratas], apresentando oportunidades no longo prazo e abrindo espaço para aquisição de quantidades relevantes em empresas e setores prósperos a um preço abaixo do seu valor justo".
Gonçalves concorda com a importância da diversificação.
O mais importante é o investidor ter um portfólio diversificado. Se o investidor tiver uma exposição muito grande em títulos prefixados na carteira que foram alocados antes das últimas altas na Selic, nesse momento é provável que a rentabilidade estará bem abaixo da taxa básica de juros. Então, a palavra de ordem para um portfólio bem alocado sempre é a diversificação e o peso correto de cada ativo dentro da carteira.
Abner Gonçalves, líder de Produtos e Alocação da Blue3
Jaqueline, do TC, reforça que é preciso cuidado com investimentos de renda fixa prefixados, pois "podem sofrer deságios [desconto maior do que o valor do investimento em si] com os aumentos da Selic", o que faria com que o investidor perdesse dinheiro.
Outro ponto que a analista chama a atenção é para o resgate do dinheiro antes do vencimento por quem investe em títulos atrelados à inflação (como o Tesouro IPCA, por exemplo). "Caso o investidor queira sair antes do vencimento, ele sofrerá deságio. Portanto, quanto maior o prazo de vencimento, mais arriscada essa modalidade de ativo", afirma.
Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.
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