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Fundos de crédito de carbono avançam no Brasil; veja como investir

Você sabe como apostar no mercado de crédito de carbono? Há oportunidades e também riscos - Getty Images/iStockphoto
Você sabe como apostar no mercado de crédito de carbono? Há oportunidades e também riscos Imagem: Getty Images/iStockphoto

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

07/06/2022 04h00

Na esteira de movimentos que envolvem pessoas físicas e empresas em prol da sustentabilidade, corretoras têm lançado modalidades de investimento alternativas, mostrando que é possível ter bons retornos com projetos responsáveis sob a ótica ambiental. Assim, passaram a figurar no Brasil os fundos de crédito de carbono.

Mas como funcionam esses fundos? Compensa investir? Quais cuidados o investidor deve adotar? Veja os detalhes e comentários de especialistas consultados pelo UOL.

Como funcionam os fundos de crédito de carbono?

Administrado por gestores profissionais, os fundos de investimento representam um grande condomínio em que os investidores compram cotas, que, por sua vez, representam a fatia correspondente ao montante total. Os recursos desse "pool" que reúne milhares de pessoas são utilizados na compra de ações de empresas ou espaços físicos, como prédios, por exemplo.

O analista da casa de análises Empiricus, Matheus Spiess, diz que, ao apostar no mercado de crédito de carbono, o investidor adquire uma espécie de certificado digital que atesta que determinada empresa evitou a emissão de dióxido de carbono (CO2), CO2 equivalente ou outros gases responsáveis pelo efeito estufa, como metano e óxido nitroso.

Há dois tipos de mercado de carbono: o regulado e o voluntário. O regulado [é aquele] em que a empresa só pode emitir uma quantidade de CO2; se passar esse limite, é preciso comprar crédito de carbono, e se emitir menos do que o setor, ela tem créditos para vender. Já o mercado voluntário [é aquele] em que as pessoas ou empresas, seja por demanda do cliente ou antecipação regulatória, adotam a redução.
Matheus Spiess, analista da Empiricus

Projetos ganham espaço no Brasil

Nos Estados Unidos e na Europa, onde as discussões e os trâmites regulatórios se encontram em estágios mais avançados, os fundos de crédito de carbono são negociados nas Bolsas de Valores há algum tempo, inclusive na forma de tokens — o que concede uma autenticação digital para o investimento.

Já no Brasil essa modalidade, que abrange o tema ESG (ambiental, social e governança corporativa), começou a ganhar força quando, em abril de 2021, a Vitreo, plataforma de investimentos que pertence ao BTG Pactual, anunciou a estreia do Vitreo Carbono. Trata-se de um fundo multimercado disponível para diversos tipos de investidores, com aplicações mínimas a partir de R$ 1.000.

O Vitreo Carbono investe em ativos do mercado futuro na Europa, onde há uma demanda restrita e forçada. A demanda restrita quer dizer que os donos dos ativos precisam negociá-los no mercado, e os limites de emissões de CO2 são controlados pelos governos.

Pouco depois, em junho do mesmo ano, a XP anunciou o Trend Carbono Zero, fundo que segue o desempenho do IHS Markit Global Carbon Index. Ele tem como alvo os contratos futuros de crédito de carbono na Europa e Estados Unidos por meio de um ETF (fundo que espelha um índice de Bolsa) no exterior. O investimento mínimo é de R$ 100.

Em setembro, um novo passo foi dado para abrir o setor no Brasil. Em parceria com as consultorias WayCarbon e ForFuturing, a Vitreo anunciou o FIP Carbono, primeiro fundo de crédito de carbono que investe em projetos nacionais. No entanto, o fundo reúne investidores institucionais e pessoas físicas profissionais.

Após acumular os recursos dos investidores, os gestores do FIP Carbono investem na Carbon Reset, companhia especializada nas operações de crédito de carbono. Neste caso, os projetos da companhia podem estar ligados à redução do desmatamento na Amazônia ou energia limpa, por exemplo.

Em maio de 2022 foi a vez do Banco do Brasil. O banco anunciou um fundo multimercado de crédito de carbono aberto a todo perfil de investidor: o BB Multimercado Carbono, que é voltado para créditos negociados no mercado internacional e apoia o combate às mudanças climáticas. O aporte inicial é de R$ 2 milhões.

Conheça os fundos logo abaixo.

Trend Carbono Zero

  • Disponibilidade: XP e Rico
  • Descrição: ativos na Europa e Estados Unidos
  • Aplicação mínima: R$ 100
  • Taxas: administração de 0,5%; não tem taxa de performance

Vitreo Carbono

  • Disponibilidade: Vitreo
  • Descrição: Ativos na Europa
  • Aplicação mínima: R$ 1.000
  • Taxas: administração de 0,9%; taxa de performance de 10% sobre o que exceder o retorno de 5% do euro ao ano

BB Multimercado Carbono

  • Disponibilidade: Banco do Brasil
  • Descrição: crédito de carbono no mercado internacional
  • Aplicação mínima: R$ 2 milhões
  • Taxas: administração de 1%; não tem taxa de performance

FIP Carbono

  • Disponibilidade: depois de uma rodada, o fundo fica fechado para novos investidores. É voltado para investidores profissionais e institucionais.

Mas vale a pena investir em crédito de carbono?

Como boa parte dos mercados alternativos, o segmento de crédito de carbono visa retornos a longo prazo, em torno de cinco anos ou mais.

Para o CEO da Box Asset Management, Fabrício Gonçalvez, as medidas não resolvem o problema, mas visam dar um passo na jornada de sustentabilidade para aliviar os efeitos das mudanças climáticas. Contudo, ele pondera que há riscos.

"Os fundos de sustentabilidade podem ser alternativas de investimento, pois agregam valor ao portfólio, e, consequentemente, o investidor consegue fazer uma boa diversificação de carteira. Entretanto, quem tem um perfil conservador deve ter cuidado, pois os fundos são rendas variáveis", afirma Gonçalvez.

Na opinião de Spiess, da Empiricus, é interessante investir pela janela de desenvolvimento do setor. Mas isso deve ser feito com cautela. "É não colocar muito dinheiro, mas ter um pezinho faz sentido por conta do grande potencial que o Brasil possui para os próximos anos", diz o analista.

Regulação pode avançar

No fim de maio, um decreto publicado pelo governo pode ser o início de uma legislação para o mercado de carbono nacional. Em linhas gerais, o texto aponta setores elegíveis para planos de reduzir o CO2, como a indústria, empresas de energia, companhias de transporte e do agronegócio. A ideia é provocar os segmentos para formular uma política nacional.

Advogado do escritório VBSO, Phillipe Kafer Haacke de Oliveira declara que a decisão é positiva para evitar eventuais excessos de regras que possam travar o segmento.

"As entidades interessadas poderão desenvolver autorregulamentações aplicáveis a seus respectivos setores, e o regulador poderá criar uma regulação mais acertada em resposta ao que pede o mercado, de forma a estimulá-lo ainda mais", afirma Oliveira.

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