Poupança sobe, Bolsa desaba e vira pior aplicação no semestre
Junho castigou os investidores mais arrojados e favoreceu aqueles aplicadores de perfil mais conservador. Em meio à instabilidade que atingiu os mercados em todo o mundo, o Ibovespa, da Bolsa brasileira, teve o pior mês no ano, o dólar se valorizou ate o real para o maior patamar desde fevereiro, enquanto a poupança seguiu no passo lento, mas firme de mais um rendimento positivo, ainda que pequeno. Mas há outro investimento tão seguro quanto a poupança e que rende mais. Veja abaixo qual é.
Segundo profissionais de mercado, o comportamento dos mercados em junho pode ser uma antecipação do que está por vir no segundo semestre. As incertezas provocadas pelo aumento de juros nos Estados Unidos e Europa, pela ameaça cada vez maior de recessão nos países mais ricos e o prolongamento da guerra entre Ucrânia e Rússia devem manter a incerteza elevada, prejudicando a Bolsa, favorecendo o dólar e estimulando mais brasileiros a buscarem a renda fixa. Saiba mais.
Veja a seguir as variações de alguns investimentos em junho.
Desempenho de junho
- Dólar: +10,14%
- Ouro: +7,53%
- Tesouro Selic: +1,06%
- Poupança: +0,68%
- Ifix (Índice de fundos de investimento imobiliário): -0,85%
- Ibovespa: -11,50%
O Ibovespa, principal índice de ações no Brasil, caiu 11,50% em junho, menor pontuação desde novembro de 2020, fechando o semestre com perda acumulada de 6%.
Ainda no mercado de renda variável, os fundos imobiliários não foram tão mal, mas também não conseguem sair da estagnação em que o setor se encontra desde meados de 2020, após saírem do fundo do poço, logo após a primeira onda da covid.
Já o dólar teve a maior alta mensal no ano, para fechar junho na maior cotação desde o começo de fevereiro. Ainda assim, a moeda americana segue valendo menos reais que no começo do ano.
O ouro subiu em junho também influenciado positivamente pela busca proteção contra inflação, dizem profissionais de mercado. A longa guerra na Europa, que já supera quatro meses, mantém pressões sobre os preços das commodities e petróleo, encarecendo alimentos e combustíveis.
Guerra, inflação, juros elevados e recessão no radar
Para conter a maior inflação em décadas, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estado Unidos) acelerou o passo do aumento dos juros.
O Bank of England (BOE, banco central da Inglaterra) também já subiu os juros no Reino Unido para o maior patamar desde 2009. O Banco Central Europeu (BCE) ainda não começou o aperto monetário, mas avisou que o processo começa em julho, podendo inclusive ser acelerado em setembro.
Mas o aumento dos juros tem o efeito colateral de esfriar demais a economia mundial. Simulações do próprio Fed apontam para um risco de 50% de a alta dos juros levar os EUA à recessão.
Tudo isso prejudica o desempenho das empresas que têm ações em Bolsa. O resultado disso é que os investidores estão diminuindo as aplicações em Bolsa para buscar portos mais seguros, como o dólar e títulos dos governos, por meio de aplicações em renda fixa.
Quadro internacional piorou muito, com elevação dos juros nos principais bancos centrais do mundo e maiores expectativas de recessão, em especial na Europa, por causa da energia. Os mercados de risco passaram a sofrer bastante em todo o mundo. Alvaro Bandeira, Alvaro Bandeira, economista e analista ex-presidente da Apimec Nacional (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais
No semestre, apenas a poupança escapa
Em meio a toda essa instabilidade global, a boa e velha poupança seguiu no ritmo lento, avançando 0,6%, o suficiente para fechar o semestre com um rendimento acumulado de 3,6%, deixando para trás, no semestre, todas essas aplicações acima selecionadas.
Mesmo assim, a poupança rendeu menos que a inflação medida pelo IPCA-15, prévia do indicador oficial de inflação, que variou 5,65%.
Na renda fixa, melhor desempenho é o do título do Tesouro pós fixado, o Tesouro Selic, que acumula variações positivas no mês e no semestre superiores aos ganhos da poupança. E, como esse título, outras aplicações que acompanham a Selic ou o CDI também estão com rendimentos superiores aos da caderneta.
- Tesouro Selic: +5,46%
- Poupança: +3,6%
- Ifix (Índice de FIIs): -0,29%
- Ibovespa: -5,99%
- Dólar: -6,12%
- Ouro: -9,1%
Instabilidade para Bolsa
Os fatores que influenciaram o comportamento dos mercados de ações, de moedas e de renda fixa em junho devem se aprofundar nos próximos meses, dizem profissionais de mercado, influenciados por três fatores.
Aumentos de juros: O aumento de juros nos Estados Unidos está ainda longe do fim, que devem subir ainda além dos 3%. Esse ciclo vai forçar outros bancos centrais, inclusive no Brasil, a sustentarem taxas de juros altas por mais tempo.
Recessão: Projeções de bancos, como o Bank of America, Goldman Sachs e Dreyfus and Mellon, estimam entre 30% e 40% o risco de uma recessão ainda este ano nos Estados Unidos, maior economia do planeta. E esse problema pode levar o Brasil a sofrer um tombo maior se a crise econômica atingir com mais força a China, maior importador dos produtos brasileiros.
Eleições: Historicamente os mercados de ações sofrem com o sobe e desce e o dólar se valoriza ante o real em anos de eleições presidenciais mais disputadas e polarizadas, como é o que se desenha para o Brasil este ano.
Podemos ter no segundo semestre um panorama bastante interessante para renda fixa, com expectativa de que taxa básica de juros deve subir novamente em agosto e ficar elevada por algum tempo ainda.
Camila Dolle, Head de Renda Fixa do Research da XP
Renda fixa deve seguir atraindo recursos
Esse ambiente de muita incerteza e juros elevados vai continuar favorecendo no segundo semestre as aplicações em renda fixa, dizem profissionais de mercado.
E, mesmo dentre as categorias de renda fixa -pós fixadas, prefixadas e prefixadas atreladas à inflação-, há preferência por posições mais conservadoras, ou seja, que correm menos riscos.
Estamos mais conservadores. Não temos posições prefixadas. A inflação é um fator desafiador de leitura, que tem sempre surpreendido os analistas. Então, não é momento para prefixada.
Mario Kepler, sócio da Portofino Multi Family Office
Acredito que essa década será mais inflacionária do que a anterior, e as NTN-Bs (títulos Tesouro IPCA) são um bom instrumento para alocação de capital em uma conjuntura assim.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos
Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.
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