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Poupança: após alta da Selic para 13,25%, quanto rendem R$ 1.000 por ano?

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

15/06/2022 18h40

Investimentos tradicionais de renda fixa, como Tesouro Selic, CDBs, LCIs e fundos DI voltam a ser beneficiados após mais um aumento da taxa básica de juros, a Selic, que subiu de 12,75% para 13,25% nesta quarta-feira (15). A 11ª alta da taxa básica de juros decidida pelo Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, tem como principal objetivo conter a inflação, mas acaba ajudando os investidores das aplicações de renda fixa que têm o rendimento baseado na taxa básica de juros.

Já a poupança continua com o ganho congelado por causa da regra da aplicação que passou a vigorar desde que a Selic ultrapassou 8,5% ao ano. Veja abaixo algumas simulações que estimam quanto podem render três dos investimentos de renda fixa mais tradicionais entre os brasileiros.

Quanto rendem R$ 1.000 em algumas aplicações

Passam a render quando os juros sobem as aplicações de renda fixa que têm o rendimento baseado na Selic, caso do Tesouro Selic, título público federal vendido no Tesouro Direto, ou de produtos que acompanham o CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro), como CDBs, LCIs e fundos DI.

Isso não acontece sempre com a tradicional poupança. A caderneta vai continuar com o rendimento fixo em 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial, um indicador do mercado financeiro), por causa da fórmula que passou a valer após a Selic superar os 8,5%.

Ou seja, a poupança mais uma vez não vai conseguir aproveitar esse aumento da taxa básica dos juros, perdendo então um pouco mais de competitividade em relação a Tesouro Selic, fundos DI e outros produtos.

Veja abaixo quanto podem render R$ 1.000, em simulações que consideram uma aplicação por um ano mais um dia. Esse foi o prazo escolhido porque é o necessário para o aplicador pagar a alíquota de Imposto de Renda de 17,5%, no caso de produtos tributados.

Se ele fizer o resgate antes disso, vai pagar uma alíquota maior, conforme o prazo, sendo de 20%, até seis meses, e de 22,5%, para menos que isso.

Quanto rendem R$ 1.000 com a Selic a 13,25%

  • Poupança: R$ 63,30 (considerando TR de 0,1580% e isenção de Imposto de Renda)
  • Fundos DI: R$ 104,64 (considerando Imposto de Renda e taxa de administração de 0,5%)
  • Tesouro Selic: R$ 109,54 (considerando alíquota de Imposto de Renda de 17,50%)

Quanto a pessoa terá na conta após a aplicação

Veja agora quanto a pessoa terá na conta depois desse rendimento, e compare com o valor que seria resgatado se a Selic não tivesse subido e continuasse a 12,75% ao ano.

  • Poupança: R$ 1.063,30 (antes da última alta dos juros, seriam R$ 1.063,60)
  • Fundos DI: R$ 1.104,64 (antes da última alta dos juros, seriam R$ 1.100,54)
  • Tesouro Selic: R$ 1.109,54 (antes da última alta dos juros, seriam R$ 1.105,19)

Esperamos que o corte dos juros comece só em 2023. Logo, a renda fixa vai permanecer atrativa pelo menos até o fim deste ano. Os prefixados estão pagando cerca de 13% ao ano, o que é uma taxa bastante alta se considerar o baixo risco. Em três anos, o rendimento acumulado chega a quase 50%. É difícil a renda variável competir com a renda fixa nesse patamar.
Fabio Louzada, fundador da plataforma de educação financeira Eu me banco

Calculando o impacto da inflação

Profissionais de mercado destacam, entretanto, que o aplicador deve ficar atento ao impacto da inflação na carteira de investimentos. Mesmo com a Selic subindo, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que atingiu 11,73% nos 12 meses encerrados em maio, continua corroendo grande parte do ganho gerado pelo investimento.

Isso porque o investidor só apura um ganho real se o rendimento do investimento superar a inflação no período entre a aplicação e o resgate.

No mercado, as simulações mais usadas pelos profissionais costumam considerar a expectativa do mercado para a inflação ao fim de um período. A expectativa predominante hoje é a de que o IPCA esteja na casa de 8,9% ao fim de 2022.

Nesse caso, os ganhos obtidos pelo Tesouro Selic, de R$ 109,54, e dos fundos DI com taxa de administração de 0,5%, de R$ 104,64, superariam os R$ 89 que a inflação iria corroer do poder de compra ao longo dos próximos 12 meses.

O problema é que a inflação vem se mostrando mais resistente que o mercado vinha esperando, desde o ano passado. No começo deste ano, por exemplo, os economistas estimavam que o IPCA terminaria 2022 em 4,5% —e agora já admitem uma inflação anual de 8,9% ao fim de dezembro.

Por causa dessa incerteza, consultores financeiros recomendam que o aplicador opte pelo conservadorismo. Assim, nessas simulações, consideramos para cálculo do rendimento real a inflação atual, de 11,73%, e não as projeções.

Para o investidor que já tem reserva de emergência, os investimentos como LCI e LCA também são ótimas opções, pois além de oferecer taxas vinculadas à Selic são isentos de Imposto de Renda.
Bruna Amalcaburio, analista da empresa de educação financeira Top Gain

Perda real ainda nas aplicações

Se essa inflação, de 11,73%, for mantida, ela vai corroer algo como R$ 117,30 de uma aplicação de R$ 1.000 mantida por um ano.

Veja o rendimento de algumas aplicações, descontando a inflação, de R$ 1.000 após 12 meses:

  • Poupança: perda real de R$ 54
  • Fundos DI: perda real de R$ 12,66
  • Tesouro Selic: perda real de R$ 7,76

Fim de alta dos juros no radar

O movimento de alta de juros, que começou em março de 2021, quando a Selic estava em 2% ao ano, deve ser interrompido pelo BC segundo projeções de mercado. É o que aparece no Boletim Focus, uma pesquisa semanal feita pelo banco com analistas de mais de cem instituições financeiras e consultorias.

Com a Selic no maior patamar em mais de cinco anos, a atividade econômica vai esfriar o suficiente para que a inflação pare de subir, dizem economistas.

Em caso de concretização deste cenário, os títulos prefixados e indexados ao IPCA de prazos mais curtos devem apresentar valorização, diz a chefe de renda fixa da XP Investimentos, Camilla Dolle.

Mas risco de novos aumentos de juros

Mas o risco para esse cenário é a persistência de alta das matérias-primas, como o petróleo, no mundo, dizem economistas. Nesse caso, o BC pode ser levado a fazer mais aumento na taxa básica de juros.

Apesar da desaceleração no IPCA de maio, a inflação segue disseminada.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research

Nesse caso, os títulos prefixados e indexados ao IPCA de prazos mais curtos apresentariam desvalorização, criando eventuais oportunidades para investidores que buscam esses indexadores e prazos para composição de carteira.
Camilla Dolle, chefe de renda fixa da XP Investimentos

Considerando as incertezas que ainda existem em relação a temas como inflação global e no Brasil, controle de gastos do governo e eleições presidenciais, a estratégia mais indicada é manter uma parte maior da carteira de renda fixa em ativos pós-fixados, como Tesouro Selic e títulos pós-fixados, diz o chefe de análise da Levante Asset, Fernando Martin.

Nossa recomendação tem sido alocar cerca de 70% a 75% em ativos pós-fixados, 15% a 20% em títulos atrelados à inflação, com até dois anos de prazo, e os cerca de 10% restantes em prefixados também curtos.
Fernando Martin, chefe de Análise da Levante Asset

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