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Tesouro Direto se torna novo queridinho: vale investir, mesmo no vermelho?

Quer emprestar dinheiro para o governo? Veja se é bom momento para comprar títulos do Tesouro Direto - Suwaree Tangbovornpichet/iStock
Quer emprestar dinheiro para o governo? Veja se é bom momento para comprar títulos do Tesouro Direto Imagem: Suwaree Tangbovornpichet/iStock

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL, de São Paulo

16/07/2022 04h00

O total de investidores ativos no Tesouro Direto chegou ao recorde em maio. Apesar do entusiasmo de quem tem dinheiro para aplicar, esse tipo de investimento não rendeu bem no primeiro semestre deste ano.

Ainda assim, segundo os especialistas ouvidos pelo UOL, vale a pena comprar os títulos do governo, principalmente por conta do aumento da inflação e da taxa de juros. Veja quais modalidades existem e se há risco de perder dinheiro.

O que é o Tesouro Direto? Criado pelo Tesouro Nacional (responsável pela gestão da dívida pública) em 2002, o Tesouro Direto é um programa de investimentos que funciona em parceria com a Bolsa de Valores (a B3). Ele permite que pessoas físicas comprem títulos públicos federais, ou seja, que o investidor "empreste" dinheiro para o governo e seja remunerado com juros no dia do seu vencimento.

Quantas pessoas investem no Tesouro? O número total de investidores cadastrados (não necessariamente ainda mantêm as aplicações) foi de 18.953.067 —um aumento de 72,4% nos últimos 12 meses. O total de investidores ativos (com saldo em aplicações) chegou a 1.974.879, ou seja, alta de 29,5% nos últimos 12 meses, segundo o balanço mais recente divulgado pelo site do Tesouro Direto, referente a maio.

Por que tantas pessoas estão buscando esse investimento? O investidor está vendo que um ativo seguro como os títulos públicos está rendendo bem e se sente mais confortável de investir, diz Maria Cândida Naegele, sócia da HCI Invest. Isso porque, com o aumento da inflação e dos juros, pessoas buscam ativos com bons rendimentos, mas, ao mesmo tempo, seguros. Segundo a especialista, tanto investidores que estavam na poupança quanto aqueles que optaram por outros investimentos com maior risco começaram a migrar para o Tesouro Direto..

Saindo da poupança O avanço da educação financeira também tem pesado na tomada de decisão dos investidores, que vêm buscando por ativos mais vantajosos do que a poupança, segundo Caio Tonet, sócio fundador e head de Renda Variável da W1 Capital.

Rodrigo Santin, CIO da Legend, diz que o número crescente de novos investidores no Tesouro Direto acontece ao mesmo tempo em que a poupança tem registrado resgates sucessivos. Isso é explicado, segundo o especialista, pela diferença da expectativa de remuneração: a poupança está pagando 0,5% ao mês + TR (o que dá aproximadamente 8,8% a.a. líquido de imposto). Já o Tesouro Selic, o principal concorrente da poupança, está remunerando acima de 13% a.a., o que dá aproximadamente 11% a.a. já descontados os custos e 15% de Imposto de Renda (IR) sobre o rendimento.

Quais são as opções de títulos? O Tesouro Direto oferece três tipos de títulos ao investidor. No Tesouro Selic, a remuneração é definida diariamente e é próxima à taxa básica de juros definida pelo Banco Central (BC). É o mais comparável à poupança, tem a menor oscilação de preço ao longo dos dias, a tal marcação a mercado, e está com rentabilidade crescente desde março do ano passado, quando o BC começou a subir os juros, diz.

Já a remuneração do Tesouro Prefixado é fixada no momento da operação —o investidor sabe, antes de fechar a operação, quanto vai receber se carregar o título até o vencimento. No caso do Tesouro IPCA, uma parte da remuneração é prefixada, e outra é corrigida pela inflação do período (o juro real, acima da inflação, é sabido quando o investimento é mantido até o seu vencimento).

Por isso o interesse no Tesouro está aumentando. Tanto a inflação (o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA, acumulado em 11,89% em 12 meses) quanto a taxa básica de juros (Selic, em 13,25% ao ano) estão altas.

Existe risco de perder dinheiro? O investidor pode resgatar o título a qualquer momento, mas somente no vencimento embolsará a rentabilidade contratada no momento da compra. Já quem decide negociar o título antes do vencimento está sujeito a marcação a mercado, ou seja, a variação de preços de um ativo de renda fixa ou cota de fundo de investimento disponível para compra ou venda.

Os investidores mais experientes negociam seus títulos do Tesouro antes do vencimento com o objetivo de tentar ganhar uma remuneração maior do que se espera até o seu vencimento. "Ou seja, eles utilizam a marcação a mercado a seu favor, mas essa estratégia não é recomendada a quem está começando nesse ativo", afirma o head de renda variável da W1 Capital.

Quando devo vender? É muito importante ter visão de longo prazo e esperar o melhor momento de vender o investimento. O Tesouro Direto oferece o menor risco do mercado, mas, se não tiver calma e visão de longo prazo, o investidor pode vender com prejuízo, declara a sócia da HCI Invest.

A melhor maneira para gerenciar esse risco é alocar em Tesouro Prefixado e Tesouro atrelado à inflação somente aquele dinheiro que não será usado antes do vencimento de cada título, diz o CEO da Legend

O que muda o valor do título? Além do aumento da taxa básica de juros e da inflação, dúvidas em torno dos rumos da política fiscal do governo e o cenário externo podem influenciar na valorização ou queda do preço, como se viu no primeiro semestre. Muitos títulos do Tesouro apresentaram queda. Foi o caso do Tesouro IPCA+2045, que encolheu 9,67%, o Tesouro IPCA+2035 (-2,21%) e o Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2055 (-2,27%).

Além da exposição a possíveis prejuízos no caso de ter de negociar os títulos antes do vencimento, os riscos de perda para quem adere ao Tesouro Direto são muito baixos, afirma Damont Carvalho, gestor dos Fundos Macro da Claritas.

Pode acontecer, por exemplo, se a inflação ficar negativa em algum momento, trazendo prejuízo para o investidor que comprou os títulos atrelados ao IPCA, mas essa não é uma realidade para o Brasil.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.