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Por que o dólar disparou 4,14% e quase chegou a R$ 5,40?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/11/2022 12h42

O dólar está disparando hoje, 10, depois da divulgação da inflação no Brasil e nos Estados Unidos. Além disso, o mercado reage à possibilidade de tirar o Bolsa Família do teto de gastos, dizem analistas e investidores.

Apesar de o dólar ter chegado perto de R$ 5 logo depois da eleição de Lula, hoje o câmbio já passou dos R$ 5,30. O preço do fechamento do dia é de R$ 5,396, alta de 4,14% no dia.

Por volta das 15h30, o dólar estava a R$ 5,341, alta de 3,09%. Logo na abertura do mercado, a moeda americana chegou a subir quase 3%. Ontem o dólar já havia fechado o dia em alta, de 0,74%, fechando a R$ 5,18. Desde o início do mês, a alta é de 2,96%.

Acompanhe aqui a cotação do dólar em tempo real.

Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed, diz que "hoje o mercado está repercutindo a fala do Lula ontem em entrevista, em que disse que é preciso gastar". Além da entrevista de ontem, em discurso nesta quinta, Lula criticou o teto de gastos e afirmou que e "algumas coisas encaradas como gastos nesse país vão passar a ser vistas como investimentos".

Veja abaixo o que está acontecendo com o dólar.

Como a política brasileira afeta o dólar? O real está caindo mais que outras moedas de países em desenvolvimento, diz João Maurício Lemos Rosal, Economista Chefe da Terra Investimentos. A razão é a preocupação com a transição de governo e a política fiscal, diz ele, principalmente a exclusão dos gastos sociais do teto de gastos.

A equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discute a possibilidade de tirar o Auxílio Brasil, que deve ser rebatizado de Bolsa Família, do Orçamento de 2023 a 2026.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diz que o mercado entende que haverá um aumento de gastos, seja para programas sociais, seja para outros investimentos, sem ter uma fonte de recursos válida e sustentável para isso."A partir do momento em que você coloca o programa social fora do teto, e é um programa é importante, você abre brechas. O programa pode ficar ilimitado, pode aumentar os recursos sem controle, sem âncoras."

Marcelo Oliveira, da Quantzed, diz que o dólar tem subido mais por influência do mercado interno do que externo. "Hoje o mercado está repercutindo a fala do Lula ontem em entrevista, em que disse que é preciso gastar, que não é preciso economizar para pagar juros para banqueiros, não mostrando muita preocupação com o controle fiscal. O mercado está preocupado com a quebra do teto fiscal."

Outro motivo é a indefinição de quem irá ocupar o Ministério da Fazenda. Investidores esperam um novo ministro mais alinhado com o mercado, o que ainda não foi anunciado.

Como está a inflação no Brasil? O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial no país, fechou outubro em 0,59%, após três meses consecutivos de deflação (inflação negativa). A alta foi puxada pelo grupo de alimentos (a batata subiu 23% e o tomate, 17%, por exemplo).

No ano, o IPCA acumula alta de 4,7% e, nos últimos 12 meses, de 6,47%. "A inflação no Brasil veio acima da expectativa do mercado, piorando ainda mais o cenário", diz Marcelo Oliveira, cofundador da Escola de Investimentos.

Inflação mais alta significa moeda nacional mais fraca. "No geral, a dinâmica da inflação ainda é desafiadora, dadas as pressões sobre tarifas de energia e de serviços em um cenário de aperto no mercado de trabalho e expectativa de uma grande expansão fiscal em 2023", publicou o Goldman Sachs.

Qual foi a inflação nos EUA? Como afeta o dólar? Por volta de 10h30, o Departamento do Trabalho americano divulgou índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. A inflação por lá subiu 0,4% em outubro, na comparação com setembro. A expectativa era de alta de 0,6%. Apesar disso, a inflação ainda está muito acima da meta do banco central americano, o Fed, de 2% - deve fechar o ano em 7,7%.

"O dado veio abaixo do que o mercado esperava, o que é uma boa noticia. Significa que a inflação está crescendo menos e que talvez o Federal reserve, o banco central dos Estados Unidos, não precise mais subir tanto os juros", diz Felipe Steiman, gerente de desenvolvimento de negócios da B&T Câmbio.

Fabio Fares, especialista em macroeconomia da Quantzed, acredita que a próxima alta dos juros americanos, em dezembro, será de 50 pontos. Antes, a expectativa era de 75 pontos.

Com juros mais altos nos EUA, investidores tiram o dinheiro de economias mais instáveis e arriscadas, como o Brasil, para investir no mercado americano, uma economia mais forte. Isso leva a uma desvalorização do real em relação ao dólar.

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