Mercado é afoito com Lula porque há incertezas, dizem analistas
Analistas de mercado ouvidos pelo UOL declaram que as reações do mercado refletem as incertezas no governo Lula. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse "o investidor é muito apressado, afoito" com o governo.
Mesmo assim, analistas aprovaram as indicações de Campos Neto de que o Banco Central está trabalhando junto com o governo e que não tem intenção de mudar a meta de inflação.
O mercado é afoito, sim. Mas é porque temos um cenário de incertezas muito grande.
Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messen Investimentos.
O que disse o presidente do Banco Central?
Roberto Campos Neto disse que "45 dias é pouco tempo" para avaliar o governo. Ele falou em evento CEO Conference, do BTG Pactual, que aconteceu hoje, 14, em São Paulo.
"O investidor é muito apressado, afoito. Acho que a gente tem que ter mais boa vontade com o governo, 45 dias é pouco tempo. O ministro Haddad tem tido uma boa vontade enorme", disse o presidente do Banco Central.
Já ontem ele deu entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura.
Campos Neto afirmou que o controle da inflação é importante para o bem-estar social. "A nossa agenda toda do Banco Central é [pensando] no social. Então, a gente acredita que é possível fazer fiscal junto com o bem-estar social. Mas a gente acredita que é muito difícil ter bem-estar social e inflação descontrolada porque a inflação é um imposto que afeta muito a classe média baixa", disse ele em entrevista.
Juros e inflação são tema de discussões entre Lula e o Banco Central. Campos Neto afirmou que o controle da inflação passa pela taxa de juros, hoje em 13,75%, patamar considerado "uma vergonha" pelo presidente Lula. Os juros atuais, a autonomia do BC em definir esses juros e as metas de inflação têm sido motivo de discussão do governo Lula e do Banco Central.
Por outro lado, ainda há ruídos no governo sobre as metas de inflação. Lula teria avisado à equipe econômica que quer um aumento de 1 ponto percentual na meta de inflação de 2023, atualmente em 3,25%, e a redução da Selic para um patamar próximo de 12% até o fim do ano, segundo o serviço de notícias Broadcast. Hélder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, disse à Reuters que a queda na Bolsa hoje reflete essa notícia.
Como o mercado reagiu às falas de Campos Neto?
"O mercado é realmente avesso a risco", diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. E, por isso, o presidente do BC vem adotando uma linha mais conciliadora, no intuito de acalmar mais os ânimos das pessoas que têm dinheiro para investir, diz ela.
As declarações dele, segundo ela, foram muito bem recebidas pelos investidores, pois provam que o Banco Central está tentando ter harmonia com o governo.
"Campos Neto propôs um tom conciliatório e diálogo. Acho que é disso que precisamos agora, num governo que praticamente só tem 45 dias", diz Bertotti, da Messen Investimentos.
Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos, concorda. Mas diz que esse nervosismo é característica do mercado brasileiro.
Geralmente, a primeira reação do mercado a qualquer fato é sempre muito intempestiva, tanto para o lado positivo, quanto para o negativo, diz ele. Mas nos dias seguintes às notícias, há sempre uma correção: a ação que cai muito, no dia seguinte sobe - e vice-versa.
"O que o mercado não gosta mesmo é de mudanças de regras e isso ficou no ar com relação à mudança na meta de inflação", diz Carvalho.
Mas analistas consideraram positivo que Campos Neto tenha dito que não tinha intenção de fazer mudanças nas metas. "Acho que é importante dizer que nós não estudamos mudança de metas", disse o presidente do Banco Central no Roda Viva.
Ele disse que não propôs isso [mudar a meta de inflação], o que seria péssimo se acontecesse: os juros lá na frente iriam aumentar ainda mais.
Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos
Outro ponto positivo para analistas foram as declarações de Campos Neto de que está conversando e trabalhando junto com o governo.
Isso é um sinal positivo para a funcionalidade da economia e, consequentemente, dos mercados.
Lucas Dezordi, economista-chefe da TM3 Capital, de Curitiba
A curva (a previsão do mercado) para os juros futuros até apresentou queda depois das falas de Campos Neto, segundo educadora financeira Simone Sgarbi. Isso sinaliza uma revisão para baixo na Taxa Selic nas próximas reuniões do Copom, mesmo que tímida, acredita ela. "Tanto Campos Neto como o ministro da fazenda, Fernando Haddad, têm características conciliadoras e, ao reconhecer o esforço fiscal do atual governo, o presidente do BC, sinaliza que o caminho será de diálogo e não confronto."
A Bolsa, no entanto, fechou o dia em queda. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3) encerrou em queda de 0,91%, aos 107.848,81 pontos.
O dólar comercial encerrou a sessão de hoje em alta de 0,42%. A cotação ficou em R$ 5,198.
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