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Economista cria 'Bixa Rica', projeto de finanças para público LGBTQIAP+

Gean Duarte, do projeto Bixa Rica, dá dicas de educação financeira por meio do Instagram - Reprodução/Instagram
Gean Duarte, do projeto Bixa Rica, dá dicas de educação financeira por meio do Instagram Imagem: Reprodução/Instagram

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL

03/04/2023 04h00

O economista Gean Duarte, 35 anos, criou o projeto "Bixa Rica", método de educação financeira voltado ao universo LGBTQIAP+, em 2021. Desde então, diz já ter atendido mais de 500 alunos. Para ele, esse público tem problemas e sonhos específicos, e precisa de uma linguagem divertida e leve para se interessar no mundo das finanças e investimentos.

Casa era sustentada pela mãe

Gean teve uma infância pobre, numa casa sustentada pela mãe, diz. Ele nasceu em Sombrio, cidade no interior de Santa Catarina. Eram ao todo sete pessoas, incluindo o pai e quatro irmãos. Para dar conta das despesas no fim do mês, a matriarca anotava tudo em um caderninho.

"Se um dia ela se apertasse, ela negociava. Ela sempre foi muito equilibrada, ao contrário do meu pai, que nunca soube lidar com dinheiro, nunca foi responsável por nada. Sempre gastou tudo o que ganhava e mais um pouco. Eu, graças a Deus, puxei a ela", conta Gean.

Aos 19 anos, com a morte da mãe, Gean precisou batalhar. Ele começou a buscar a autonomia financeira por uma questão de sobrevivência. Ele se formou em economia em 2010, pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), com uma bolsa do Prouni.

Empreendeu com loja de roupas e restaurante. Abriu uma loja de moda praia e passou a vender peças da marca criada pela irmã. O negócio ia bem, mas foi encerrado depois de cinco anos.

"Minha vida financeira começou a mudar. Só que eu ainda não tinha muito essa noção de educação financeira, de estudos mesmo. Só que sempre fiz a minha lição de casa. Comprei meu carro à vista, adquiri outras coisas, mas ainda não sabia usar essa parte de investimentos", diz Gean.

Restaurante foi próximo passo. Gean resolveu então abrir um restaurante junto com um irmão, mas que durou só um ano e zerou sua conta bancária.

Ofereceu consultoria financeira gratuita. O catarinense também trabalhou em empresas privadas, mas aos 32 anos começou a prestar consultorias. Ele buscava clientes oferecendo alguns serviços gratuitos e outros pagos. Também dava treinamentos em associações.

Gean Duarte, Bixa Rica, em viagem em Buenos Aires - Divulgação/redes sociais - Divulgação/redes sociais
Gean Duarte, fundador do Bixa Rica, em viagem em Buenos Aires
Imagem: Divulgação/redes sociais

Foco no público LGBTQIAP+

Gean diz que, por ser um homem gay, percebeu que o universo LGBTQIAP+ não tinha muita representatividade no mundo das finanças.

Trata-se de um universo muito machista e heteronormativo. Eu estudava, mas não me sentia conectado. Aí percebi que, se eu tivesse uma linguagem apropriada para o público LGBTQIAP+ eu ia conectar e trazer pra consciência dessas pessoas um tema tão importante que transformou a minha vida
Gean Duarte

Criou o método "Bixa Rica". Em 2021, no ápice da pandemia de covid-19, Gean decidiu criar o método de educação financeira voltado ao universo LGBTQIAP+.

É um curso online, com suporte e material de apoio. Ensina a sair das dívidas, criar uma reserva, traçar objetivos e começar a investir. O último passo é chegar em Bixa Milionária, para ter liberdade financeira e receber rendimentos dos investimentos para pagar o custo de vida.

O valor do curso é de R$ 497, dividido em 10 módulos. A ideia é começar um planejamento financeiro mesmo com pouco dinheiro —a partir de R$ 100, por exemplo.

Somente com o projeto, diz já ter atendido mais de 500 alunos. Por meio do Instagram, onde soma mais de 30 mil seguidores, vende as aulas do método Bixa Rica e dá dicas de educação financeira.

Jogos de palavras do universo gay fazem parte do método. Educação financeira é um tema cheio de tabus e bastante complexo, afirma. Na avaliação de Gean, uma das particularidades do público LGBTQIAP+ é o uso de uma linguagem adequada para conectá-lo ao tema.

"Por ser gay, certo dia fui gravar um vídeo e comecei a criar analogias sobre educação financeira e frases clichês do mundo gay, como 'o que você curte? Ativos e passivos (financeiros)', 'passar cheque sem fundo', entre outros", diz.

O estilo de vida e os objetivos do público LGBTQIAP+, geralmente, são diferentes da população heterossexual, diz ele. "Portanto, a linguagem deve ser apropriada para gerar essa conexão. O público se conecta com temas mais descontraídos, divertido e humorados", diz Gean.

O educador financeiro afirma que não teme perder seguidores ou clientes com esse foco. A consequência de perder certos seguidores seria apenas alcançar um público cada vez mais qualificado, segundo ele, de pessoas que respeitam as diferenças e a diversidade.

Vive das vendas do curso

No começo, Gean subestimava o poder de um orçamento e planejamento financeiro. Achava que anotar gastos era uma coisa chata e não resolveria nada. Depois, com o aprendizado da prática do planejamento, desenvolveu consciência e inteligência financeira.

Passados os tempos de aperto financeiro, Gean ainda não vive de renda passiva —dinheiro fruto de investimentos no mercado financeiro. O que ganha atualmente é fruto de sua renda ativa, dinheiro oriundo do trabalho como educador financeiro. Ele, porém, não revela valores. Hoje, trabalha exclusivamente como educador financeiro, sem vínculo com instituições financeiras, para evitar conflitos de interesse.

Dica é investir em conhecimento. Antes mesmo de investir dinheiro para ter renda no futuro, Gean aconselha investir em projetos. Mesmo com uma renda baixa, é preciso investir o que sobrar em conhecimento e capacitação profissional, por meio de cursos e livros. Assim, a renda no futuro - e a capacidade de guardar dinheiro - aumentam.

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