Ouro em alta atrai investimentos e super-ricos; é hora de surfar na onda?
O valor do ouro segue atingindo patamares recordes e chamando a atenção de quem prefere um investimento mais seguro e valorizado. É tido como uma forma de proteger o patrimônio, sendo que vários pontos explicam porque o metal virou o jogo e ganhou mais espaço na carteira dos investidores. Entenda cada um deles a seguir e se está na hora de aproveitar a oportunidade.
Nível mais alto de todos os tempos
O ouro atingiu o maior patamar de todos os tempos. A cotação da barra de ouro ultrapassou o valor de US$ 1 milhão pela primeira vez em agosto. Uma barra de ouro possui cerca de 400 onças (aproximadamente 12 kg), e o preço da onça ultrapassou os US$ 2.500.
Metal subiu mais de 16% em relação ao ano oassado. Desde o mês de junho, o ouro tem demonstrado uma alta considerável; se o dólar continuar a cair em 2025, há uma grande possibilidade que o ouro continue a subir.
Performance nos últimos anos também foi bastante significativa. Em 2019 e 2020, auge da pandemia, aumento foi de 28,1% e 55,93%, respectivamente. Depois, apresentou queda em 2022 e 2023, voltando a crescer em 2024.
No mês passado, teve uma performance de 5,7%. Atrás apenas do Ibovespa (6,34%) e Idiv, índice de dividendos da Bolsa (6,69%). O desempenho acumulado em 2024 foi de 19,36% até agosto. Os dados são de acordo com Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria.
Super-ricos estão de olho
Super-ricos estão aproveitando a oportunidade. Para eles, o ouro é uma maneira de proteger e diversificar seu patrimônio, especialmente quando a economia está ruim. Quem tem acesso a oportunidades sofisticadas de investimento, comprar grandes quantidades de ouro pode ser uma boa estratégia para preservar seu patrimônio, afirma Caio Mastrodomênico, analista político e econômico.
Privacidade e ausência de risco de contraparte são outros atrativos do ouro físico. O que quer dizer que não depende do cumprimento de obrigações por terceiros. Esse é um ponto crucial para os investidores de alto patrimônio, que desejam reduzir riscos e garantir a tangibilidade de seus ativos.
Principais motivos
Investidores estão mais confiantes de que as taxas de juros vão cair no mundo. Isso faz com que o ouro se torne atraente, já que não paga juros. Quando as taxas caem, o metal se valoriza em comparação com investimentos alternativos que entregam retornos menores em um cenário de juros baixos.
Dólar tende a cair com corte de juros dos EUA. Ao considerar o acumulado de 2024, o dólar teve alta de 16,83%, ficando entre as cinco melhores aplicações. Porém, quando o dólar está mais fraco em relação a outras moedas, o ouro se destaca porque se torna mais acessível e atraente para investidores.
Tensões geopolíticas contribuem para a valorização. Desde a pandemia e com as guerras no Oriente, a economia se desestabilizou e está se recuperando aos poucos. Sem contar que parte dos conflitos prejudica as cadeias de exportações e consequentemente, estimulam a inflação. Nessas horas, a renda variável se torna instável e perde atratividade para a renda fixa, por conta dos bons retornos comparado à taxa Selic.
Refúgio seguro em tempos de incerteza política e econômica é o foco para quem quer proteger o patrimônio. Na hora da instabilidade política ou cenários problemáticos, a tendência é buscar ativos mais seguros para fugir de flutuações, o que aumenta a sua demanda e, consequentemente, o seu valor.
O ouro se encontra em níveis recordes mesmo com as taxas de juros reais em alta, sendo que outros ativos rendem. Isso pode ser explicado por outros fatores econômicos e geopolíticos que estão afetando os mercados globais.
Felipe Sze, gestor e sócio da Gauss Capital
Outras fontes de ouro no mundo
Joias: Na Índia, por exemplo, é tradicional presentear famílias com joias, que funcionam como uma reserva de valor.
Tecnologia: Componentes de alta tecnologia, como satélites e equipamentos hospitalares, utilizam ouro devido às suas propriedades como ser um excelente condutor de eletricidade que não oxida.
Investimentos financeiros: Bancos Centrais são os maiores compradores, mas também há uma crescente participação de ETFs, family offices e fundos de investimento. Essa dinâmica está evidente na China, onde o investidor individual tem adquirido mais ouro recentemente, buscando alternativas ao setor imobiliário, que está enfrentando uma crise de confiança, diz Felipe Sze, gestor e sócio da Gauss Capital.
Investir ou não investir?
Resposta depende do seu objetivo ao acumular dinheiro. Caso a sua meta seja ganhos em curto prazo, o ouro pode ser uma boa opção. Ativos que investem em ouro, como fundos ou ETFs, são mais interessantes por oferecerem maior liquidez, diz Ricardo Mello, economista.
Contratos negociados em Bolsa ou fundos de investimento em ouro são uma opção. São investimentos que permitem exposição ao preço do ouro sem a necessidade de lidar com o metal físico. Os riscos associados diminuem, mas ainda há risco de volatilidade de mercado.
Para uma reserva de valor duradoura, o ouro físico dispara na frente. O que não ameniza os riscos, roubos ou danos físicos ao metal. Também vale lembrar dos custos de armazenamento e seguro a serem considerados na conta.
Ouro não gera renda passiva e que, mesmo considerado um investimento seguro, pode ser bastante volátil, portanto o investidor que quer comprar ouro deve ser tolerante ao risco.
Ricardo Mello, economista
Qual a perspectiva para o futuro
Historicamente, o ouro é considerado uma reserva de valor segura. É muito utilizado como forma de proteção contra sanções ou instabilidades econômicas. E agora, estamos entrando em um período em que o Fed (Banco Central norte-americano) vai começar a cortar os juros dos Estados Unidos, o que deve impulsionar ainda mais o preço do ouro com a volta da demanda pelo setor de investimentos, diz Sze.
Nos EUA, os juros básicos da economia estão entre 5,25% e 5,5% ao ano. E a aposta de mais da metade do mercado financeiro é em uma queda de 0,25 ponto porcentual.
Já no Brasil, a taxa básica de juros Selic deve terminar 2024 no nível de 11,25% ao ano. E isso sem alteração desde a última semana. Para 2025, as expectativas para os juros subiram para 10,5% ao ano, segundo o Boletim Focus.
Fatores futuros que podem impactar o preço do ouro incluem possíveis cortes nos juros pelo Federal Reserve e tensões geopolíticas contínuas, como conflitos no Oriente Médio, que podem manter o ouro como uma opção atraente.
Caio Mastrodomênico, analista político e econômico
Deixe seu comentário