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Euforia na Bolsa com possível derrota de Dilma é 'ouro de tolo', dizem analistas

Montagem UOL/R7/Estadão Conteúdo
Imagem: Montagem UOL/R7/Estadão Conteúdo

Julia Leite

22/10/2014 12h43Atualizada em 22/10/2014 13h34

22 de outubro (Bloomberg) -- Nas últimas três semanas, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, teve dois dias com altas diárias que superaram qualquer uma registrada nos últimos 27 meses, motivadas por especulações de que o candidato Aécio Neves (PSDB) poderia ganhar a eleição presidencial.

A consultoria de investimentos Silvercrest Asset Management Group e o banco de investimentos Wells Fargo Private Bank entendem que esses avanços "são como ouro de tolo".

"Nós estamos olhando para além da eleição e analisando o que o Brasil precisa fazer para voltar aos eixos. E o país tem muito a fazer", disse Patrick Chovanec, estrategista-chefe da Silvercrest, em entrevista por telefone em 20 de outubro, de Nova York. Mesmo se Dilma Rousseff (PT) não for eleita, "o novo presidente não terá uma varinha mágica para corrigir tudo", disse.

Os problemas pelos quais a economia brasileira está passando no momento, como crescimento perto de zero, inflação em alta e queda nos preços internacionais de commodities, entre outros, são graves; 2015 será um ano difícil para qualquer um que vencer, segundo Chovanec e Sean Lynch, do Wells Fargo.

Se, por um lado, uma vitória de Aécio provavelmente geraria ganhos adicionais, com operadores otimistas quanto à tomada de medidas para atrair investimentos, esses lucros podem não durar muito.

"A primeira coisa da qual sempre precisamos nos lembrar é que o Brasil é um país grande e tem muitos eleitorados", disse Paulo Bilyk, diretor de investimentos em São Paulo da Rio Bravo Investimentos, que gerencia R$ 10 bilhões em ativos. "O país geralmente se empolga com o que a vitória de um sobre o outro implica".

Movimentos de mercado

O Ibovespa recuou 3,4% ontem, atingindo o nível mais baixo desde junho, e o real registrou a maior queda dos mercados emergentes depois que uma pesquisa do Datafolha mostrou que Dilma teria 46% dos votos no segundo turno, em 26 de outubro, contra 43% de Aécio.

Trata-se de uma inversão nos ganhos registrados depois que Aécio conseguiu um surpreendente segundo lugar no primeiro turno, no dia 5 de outubro. O Ibovespa saltou 4,7% no dia seguinte, com a Petrobras avançando 11%, o maior rali desde 2008.

O índice subiu outros 4,8% no dia 13 de outubro depois que uma pesquisa do Sensus mostrou Aécio, ex-governador do Estado de Minas Gerais, com 52% de apoio dos eleitores e Dilma com 37%.

Esses números levaram alguns investidores a começarem a antecipar que uma administração de Aécio adotaria medidas no ano que vem para reduzir a inflação e estimular o crescimento em uma economia atolada em sua primeira recessão desde 2009.

Nomeação de Fraga

Aécio se comprometeu a nomear Armínio Fraga, o ex-banqueiro central que ajudou o Brasil a evitar um calote em 1999, como seu ministro da Fazenda se vencer a eleição. Fraga disse em uma entrevista, no dia 6 de outubro, que reduziria os gastos para impulsionar o superavit primário do governo (economia para pagar os juros da dívida) ao longo dos próximos dois ou três anos.

Até mesmo uma vitória de Dilma poderia dar certo para os investidores, segundo Bilyk, da Rio Bravo. Embora o maior risco seja que Dilma continue aumentando os gastos, Bilyk disse que consegue imaginar um cenário em que o desempenho dela "não é nada especial, mas também não é um desastre".

A Pacific Investment Management, que gerencia o maior fundo de títulos de dívida do mundo, reiterou ontem sua visão positiva a respeito dos títulos brasileiros, dizendo que espera que as políticas econômicas melhorem tanto em um governo de Dilma quanto em um de Aécio.

Com a aproximação do segundo turno, as oscilações do mercado aumentaram. A instabilidade do Ibovespa atingiu seu nível mais alto em dois anos nesta semana. A diferença entre a volatilidade de 90 dias do Ibovespa e do MSCI Emerging Markets Index chegou ao nível mais amplo desde 1999, mostram dados compilados pela Bloomberg.