Alta do IOF não resolve Bolsa Família e tem tom eleitoreiro, dizem economistas
Anunciada na quinta-feira pelo governo, a elevação temporária do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi criticada por economistas, que consideraram a medida ineficaz para garantir a ampliação do Bolsa Família. Também há o receio de impacto na retomada da economia - à medida que o aumento do imposto encareça os empréstimos feitos por empresas e pessoas físicas - e que a política econômica fique a reboque do objetivo do presidente Jair Bolsonaro de disputar a reeleição em 2022.
"Isso está sendo contabilizado com outras medidas que o governo tem feito, que têm o objetivo único de aumentar o Bolsa Família em um ano eleitoral, como a PEC dos precatórios e a reforma do Imposto de Renda", diz o diretor da ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall.
Para ele, a alta do IOF é um indicativo de que, se a reforma do IR não for aprovada, inviabilizando a intenção atual de servir de fonte de financiamento para a versão turbinada do Bolsa Família em 2022, o governo lançará mão de qualquer mecanismo para colocar o aumento do benefício de pé. "Vai fazer de tudo que for preciso para colocar o interesse eleitoral na frente."
O diretor executivo da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado, Felipe Salto, explica que o aumento do imposto, com a injeção de mais de R$ 2 bilhões na arrecadação até dezembro, ajuda no financiamento do programa neste final de ano, mas não resolve a questão sobre qual será a fonte em 2022. "É preciso apresentar um pacote completo, não uma medida com potencial arrecadatório de menos de R$ 2 bilhões e temporária." As novas alíquotas começam nesta segunda-feira e vão até o fim do ano.
Salto também afirma que não se sabe se o novo programa vai caber no teto de gastos (regra que atrela o crescimento das despesas à inflação), considerando que ainda há questões em aberto sobre o pagamento dos precatórios e também sobre a inflação deste ano, que reajusta benefícios previdenciários e sociais em 2022.
Escolhido para chefiar o Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional) a partir de 3 de janeiro, Ilan Goldfajn afirma que a ampliação do Bolsa Família deveria partir de uma revisão estrutural de gastos no Orçamento. "A solução (aumento do IOF) é ruim, é ineficiente, vai dificultar o crescimento, dificultar a agenda do BC, que é de mais eficiência", disse ele, em entrevista à Globonews.
Também a empresária Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, criticou a solução encontrada pelo governo para aumentar o benefício do novo programa social. "Qualquer aumento de imposto num momento de recessão é ruim. Temos de fazer mais com menos, e não mais com mais."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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