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Reavaliação ou interferência do Planalto? Analistas comentam decisão do BC

Alexandre Tombini, presidente do BC: comunicado polêmico após relatório do FMI - Wilson Dias/Agência Brasil
Alexandre Tombini, presidente do BC: comunicado polêmico após relatório do FMI Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

20/01/2016 21h59Atualizada em 20/01/2016 22h35

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano, por seis votos a dois.

Até a véspera da decisão, o BC dava sinais de que haveria uma alta de 0,5 ponto para tentar controlar a inflação. A expectativa mudou após o presidente da instituição, Alexandre Tombini, quebrar o protocolo e divulgar uma nota, em pleno dia de reunião, comentando a piora das previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Brasil.

Para alguns analistas, o BC reavaliou (para pior) suas expectativas para a economia brasileira, seguindo o FMI, e achou melhor não subir os juros agora para não prejudicar ainda mais a retomada do crescimento. 

Para outros, o relatório do FMI serviu como "desculpa" para o BC sucumbir às pressões do Planalto e não elevar os juros. 

Veja abaixo o que disseram alguns analistas à agência de notícias Reuters.

Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria e ex-presidente do BC

"Eu acho que a credibilidade do BC fica muito abalada, não consegue estabelecer uma comunicação coerente com os agentes econômicos, dá sinais contraditórios, e como não houve nenhuma mudança relevante na conjuntura econômica entre dezembro e agora, então não há justificativa. O que houve foi só mudança do ministro (da Fazenda), mas isso não deveria ser motivo para o BC mudar de rumo."

"Realmente, fica aberta aí essa especulação de que teria havido pressão política. Ninguém consegue acreditar, por mais crédulo que seja, que foi por causa do FMI que o BC mudou sua comunicação e, depois, sua decisão

"Existem algumas incertezas externas, sem dúvidas elas existem, mas também essas incertezas não estavam ausentes em dezembro, também aí eu acho que não houve grandes mudanças de cenário internacional nas últimas semanas".

"Vamos torcer para que na ata o BC explicite um pouquinho mais o que ele pretende fazer, mas mesmo assim a gente fica sujeito a uma mudança de opinião de última hora."

Carlos Kawall, economista-chefe do banco J.Safra

“Não acredito que a decisão resultou de pressões do governo, acho que é mais uma questão de mudança do cenário externo mesmo.”

Juan Jensen, sócio da consultoria 4E

"Diante das sinalizações do Banco Central não foi uma boa decisão. Aparentemente tem a digital do Planalto, isso já aconteceu outras vezes no gestão Dilma 1 e volta a ocorrer."

"É uma decisão ruim e que afeta bastante a credibilidade do Banco Central. Quem está decidindo? O mercado e os analistas estão se questionando. É a presidenta que toma a decisão ou a diretoria colegiada?"

Alencar Buti, presidente da Associação Comercial de São Paulo

"A manutenção da Selic foi acertada. O desemprego e a recessão já derrubaram a confiança e o consumo das famílias, e isso deverá levar ao recuo da inflação"

José Francisco de Lima, economista-chefe do banco Fator

"Acho que houve uma inflexão ontem, então veio no que eu esperava. De ontem para hoje eu baixei (a expectativa de alta) de 50 pontos básicos para zero, porque entendi que eles não enxergavam 50 como adequado por conta da preocupação com a atividade doméstica e externa."

"Daqui para frente a tendência é não subir mais, porque eu entendo que se o argumento deles é principalmente as incertezas externas, as incertezas externas vão se manter."

Tatiana Pinheiro, economista do Santander

"A preocupação com a atividade econômica ganhou importância e também, muito provavelmente, o BC deve ter reavaliado a expectativa de crescimento econômico em relação ao que ele tinha no relatório de inflação publicado no final de dezembro."

(Com Reuters)