Ex-funcionária da BRF que gerou investigação diz que 'foi pega de surpresa'
Foi uma ação trabalhista movida por Adriana Marques Carvalho, ex-supervisora de laboratório da BRF em Rio Verde (GO), o ponto de partida para a terceira fase da Operação Carne Fraca.
Ela, no entanto, desconhecia a gravidade do caso, não sabe como as informações foram parar na Polícia Federal e foi "pega de surpresa" na manhã desta segunda-feira (5), segundo seu advogado. Adriana teve mandado de condução coercitiva decretado por ser considerada testemunha do caso.
Era um processo comum da justiça trabalhista. Ela entendeu que não precisaria levar essa discussão para nenhuma outra autoridade.
Fábio Lázaro Alves, advogado de Adriana
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De acordo ele, Adriana não tem interesse em conversar com a imprensa.
A Operação Trapaça, deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta segunda-feira (5), investiga um suposto esquema entre a BRF e laboratórios responsáveis por analisar seus produtos.
Segundo a PF, alguns exames foram trocados para omitir a presença da bactéria salmonella. A empresa afirmou, em nota, que "está se inteirando dos detalhes" do caso e que colabora com as investigações para esclarecer os fatos.
Acordo de R$ 48,8 mil
Adriana trabalhou na BRF de janeiro de 2000 a julho de 2014. Em março de 2015, ela moveu uma ação trabalhista por danos morais contra a empresa, alegando ter sofrido pressão dos chefes para alterar o resultado de exames feitos em alguns produtos, entre 2012 e 2014.
"Ela não cogitou levar [a denúncia] à autoridade policial pois queria apenas a reparação particular por ter sofrido essa coação para manipular resultados. Ela aceitou um acordo oferecido pela empresa, e essa questão ficou restrita à luz da discussão trabalhista. Em nenhum momento, ela pensou que poderia surgir uma investigação criminal com base nessa ação trabalhista", relata o advogado.
De acordo com ele, a ação trabalhista correu normalmente, sem qualquer incidente extraordinário. Em julho de 2016, a ex-funcionária fechou um acordo com a empresa no valor de R$ 48,8 mil.
A autoridade policial não deu detalhes de como essa informação [do processo trabalhista] passou a fazer parte da investigação [da Carne Fraca]. Nós não temos conhecimento disso. Ela foi pega de surpresa para prestar esclarecimentos.
Fábio Lázaro Alves, advogado de Adriana
Presidente sugeriu 'medidas drásticas'
Na época do processo trabalhista, ao saber das irregularidades mencionadas pela ex-funcionária, o então diretor-presidente da BRF Pedro de Andrade Faria orientou o vice-presidente Hélio Rubens Mendes dos Santos Júnior a tomar "medidas drásticas" para proteger a empresa. A informação consta do despacho do juiz André Wasilewski Duszczak.
"É um absurdo! É impressionante como sempre levamos bucha dos mesmos lugares", diz Faria em e-mail de 3 de setembro de 2015 enviado a executivos do grupo --entre eles, Santos Júnior. "Hélio por favor avalie algo drástico por lá", completa Faria.
Uma das indicações de Santos Júnior era eliminar os laudos alterados de uma vez, garantindo que o caso não fosse exposto às autoridades.
O juiz determinou a quebra dos sigilos de dados e das comunicações dos investigados. Faria e Santos Júnior tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça.
"Laudo Rússia"
Responsável pela garantia de qualidade da BRF, Fabianne Baldo também teve prisão temporária decretada nesta segunda-feira (5).
Em junho de 2014, ela enviou um e-mail para Adriana com o assunto "Laudo Rússia", solicitando alterações em laudos de exames feitos em coxas e sobrecoxas. Adriana respondeu que já havia feito duas alterações, e que faria as demais, mas questionou a quantidade de mudanças solicitadas.
Está acontecendo MUITO esses pedidos de alteração de resultados.
Adriana Marques Carvalho, em e-mail de junho de 2014
Segundo o juiz, a forma como foi feito o pedido indica que era algo corriqueiro, sem qualquer necessidade de explicação. Por exemplo: "Meninas, podemos alterar para gerar laudo nas análises abaixo", aponta o juiz, no despacho.
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