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Brasileiro volta a beber cerveja em garrafa retornável, 30% mais barata

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/06/2019 04h00

A crise econômica fez com que a indústria cervejeira ressuscitasse as garrafas retornáveis no Brasil. Sumidas dos supermercados há alguns anos, hoje 43% dos mais de 13 bilhões de litros de cerveja consumidos no país anualmente são em embalagens reutilizáveis.

O motivo é simples: depois de comprar o primeiro vasilhame, a cerveja de 600 ml fica em média 30% mais barata do que as opções descartáveis (depois da primeira compra). Com menos dinheiro no bolso, o consumidor prefere economia à conveniência.

Por outro lado, o contínuo crescimento destas embalagens esbarra nos diferentes momentos de consumo. Representantes da indústria argumentam que é preciso oferecer todas as opções possíveis para o consumidor e não pensar apenas na questão econômica.

Crise impulsionou garrafas retornáveis

Até meados dos anos 1990, garrafas retornáveis eram comuns entre os bebedores de cerveja no Brasil. Com a estabilidade econômica e o boom das opções em lata no país, este modo de consumo, que implica um leva e trás de vasilhames, ficou quase esquecido durante os anos 2000.

A indústria da cerveja começou a notar a retomada desta necessidade por volta de 2014, com o acirramento da crise econômica. "Não teve jeito. O poder de compra do consumidor foi apertando, como continua apertado, e as empresas foram se adaptando às novas necessidades", afirmou Paulo Petroni, diretor-executivo da CervBrasil (Associação Brasileira da Indústria da Cerveja).

Até então, garrafas retornáveis não chegavam a 30% do total --quase todas restritas a bares e restaurantes, que nunca perderam o costume de trocá-las. Hoje, cinco anos depois, retornáveis já representam 43% do mercado.

"Com o consumidor tendo menos dinheiro, a indústria viu nas retornáveis uma opção rentável. A garrafa, no primeiro consumo, é mais cara do que uma descartável, mas ela vira um ativo. Quando se dilui por dez vezes ou mais, sai em conta", disse Petroni.

Embora os valores flutuem entre redes de supermercados e regiões, a indústria estima que uma garrafa de 600 ml custe 30% menos a partir da segunda compra se comparada com a opção em lata.

Empresas tiveram de se adaptar à crise

A Ambev, maior cervejaria nacional, começou a campanha de estímulo em 2014 com o lançamento de garrafas em diferentes tamanhos e em 2016 com os pontos de coleta por todo o país.

"Começamos a usar máquinas de minirretornáveis, para que o cliente tenha um retorno financeiro também", afirmou Mariana Bazzoni, gerente de sustentabilidade da Ambev. Neste programa, o consumidor leva sua garrafa a um local de troca, recebe um cupom e tem desconto no caixa ao comprar novas retornáveis da empresa.

O grupo Petrópolis lançou a opção retornável de 300 ml da Itaipava em 2016 e fez uma campanha de reutilização das garrafas da Crystal que gerava créditos em uma operadora de telefonia móvel. A Heineken, conhecida por suas long necks, tem sua opção de 600 ml retornável.

Às vezes consumidor prefere a comodidade

Mas, se as garrafas retornáveis são mais baratas para o consumidor, mais rentáveis para as empresas e mais benéficas ao meio ambiente, por que não se tornam a totalidade oferecida pelo mercado? Ou pelo menos a totalidade em vidro? Diferentes representantes da indústria têm a mesma resposta: o consumo.

"O que manda e regula o mercado é a característica do consumo. Retornáveis são legais, mas se você está na Vila Madalena em frente a um bar ou em alguma festa por aí, vai preferir uma long neck, um meio descartável", declarou Lucien Belmonte, superintendente da Abividro (Associação Brasileira das Indústrias de Vidro). "A indústria tem de se colocar à disposição das escolhas do consumidor."

Mariana, da Ambev, concorda. "Cada momento de consumo pede um tipo diferente de embalagem. Temos de garantir e oferecer esta diversidade."

Segundo Petroni, da CervBrasil, o cliente faz uma conta de comodidade versus economia. "Não é sempre que o preço vai vencer. Quando a economia nacional estava melhor, as pessoas preferiam a conveniência de comprar e descartar, mesmo que pagassem mais caro. Acredito que, se as coisas voltarem a melhorar, esta opção também voltará a ganhar força", disse.

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redacaojornaldocommercio