Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Fux defende câmaras de conciliação em conflitos trabalhistas na pandemia

Luiz Fux pediu câmaras de conciliação também em outros conflitos gerados durante crise do coronavírus - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Luiz Fux pediu câmaras de conciliação também em outros conflitos gerados durante crise do coronavírus Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/03/2020 22h50

O vice-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luiz Fux, defendeu hoje o estabelecimento de câmaras de conciliação como forma de resolver conflitos trabalhistas e também entre empresas que vão surgir por causa da crise do coronavírus. Fux participou de uma live promovida pela XP Investimentos na noite desta segunda-feira (30).

"O momento é completamente diferente da época em que a regra foi estabelecida, e essas regras precisam ser flexibilizadas. É o momento exatamente que os juízes estabeleçam a conciliação. Eu recomendo que sejam criadas câmaras de mediação nos tribunais, e que as soluções sejam consensuais. Não me parece que convirja para a ideia de justiça uma aplicação literal da lei diante de uma situação de crise", afirmou o ministro.

Fux lembrou algumas medidas emergenciais que já foram tomadas e pediu que o Judiciário também esteja preparado para resolver as situações de choque que serão apresentadas.

"Assim como o governo forneceu as quantias para que os trabalhadores informais que precisam viver, vai fornecer verbas para as pequenas e médias empresas, certamente vai atender também as grandes empresas, porque vai chegar o momento em que não há grandes, nem pequenos. As empresas devem recorrer às conciliações, e os tribunais devem essas câmaras porque elas esvaziam o trabalho do Judiciário e trazem soluções onde as pessoas saem da Justiça com a sensação de que a decisão foi justa, e saiam com sensação de felicidade", defendeu o ministro.

Fux, que em alguns momentos citou que a Constituição Federal vai prevalecer em casos em que não haja solução encontrada pela negociação, afastou a possibilidade de redução de salários como uma ferramenta para ajudar as empresas na crise da pandemia da covid-19.

"A regra constitucional é a irredutibilidade dos salários. Sobre isso eu ouvi uma manifestação do ministro Paulo Guedes, que é o congelamento dos salários até que a situação econômica do país se restabelecesse. Eu entendo que o momento é de preservar os meios de subsistência da população", afirmou.

Ainda sobre a questão de salários, o ministro também citou que a norma constitucional é colocar a pessoa humana como foco das questões.

"Às vezes o corte de salário de alguém que cuida de uma mãe doente, de um filho, representa uma causa extremamente sensível para o Judiciário. Eu prefiro ficar com a visão de que a Constituição Federal brasileira colocou o ser humano como centro de gravidade do ordenamento jurídico, a pessoa humana tem as suas necessidades básicas. Eu temo que essa medida seja extremamente brusca a ponto de causar problemas para a própria população", disse.

O vice-presidente do STF também defendeu que o papel da corte suprema é regular a situação jurídica em meio a uma guerra de liminares em todo o país. Fux novamente falou em conciliação como a palavra-chave para o momento vivido pelo Brasil.

"Dificilmente um juiz vai decretar um despejo por falta de pagamento numa hora dessas, sem levar a efeito um dos instrumentos mais importantes que otimizam o relacionamento social, que é a conciliação. Aliás, isso vale para o país, nós precisamos de uma grande conciliação democrática. É disso que estamos precisando, o diálogo institucional entre os poderes para acalmar a população", disse.

Questionado ainda sobre os conflitos que estão sendo vistos entre decisões do governo federal e dos estados, Fux afirmou que o STF vai analisar as questões em plenário, mas adiantou que a corte pode considerar como válidas as políticas mais protetivas entre as conflitantes.

"Quando essa competência é concorrente, e aconteceu no caso do amianto, é possível que a legislação estadual seja mais protetiva do que a federal. Isso vai ser analisado casuisticamente. Nós temos uma regra geral, que é essa que eu assentei aqui. E uma outra regra que é possível assentar é que a política mais protetiva, que tem proteção mais eficiente é a que tem que ser observada", disse o ministro, pouco depois de defender a uniformização de critérios.

"Vai ser muito importante saber se é possível fechar a divisa de um estado, quando por aquele estado precisa passar alimentos, medicamentos, os médicos precisar se locomover. Então há critérios que modulam a decisão. Em regra você não vai propiciar uma circulação que vá agravar a pandemia, mas você deve propiciar uma mobilidade que vai salvar a população através da entrega de equipamentos, remédios e alimentos", afirmou.