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'Privatizaria todas as estatais', diz Salim Mattar após sair do governo

Salim Mattar atuava como secretário de privatizações no governo Jair Bolsonaro - Luiz Prado/Agência Luz
Salim Mattar atuava como secretário de privatizações no governo Jair Bolsonaro Imagem: Luiz Prado/Agência Luz

Do UOL, em São Paulo

12/08/2020 10h10Atualizada em 12/08/2020 12h57

Um dia depois de sair da equipe do ministro Paulo Guedes, na pasta de Economia, o ex-secretário especial de Desestatização e Privatização Salim Mattar afirmou que gostaria de ter privatizado todas as estatais, mas que não teve êxito no planejamento durante os 18 meses em que esteve no governo.

O ex-secretário afirmou que sua meta era manter apenas três empresas sob o poder do estado: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Petrobras, atendendo um pedido do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Eu privatizaria todas as estatais, mesmo com o mandado do presidente de não vender Caixa, Petrobras e o Banco do Brasil. Tinha mandado vender todas, menos essas três. Vim para o governo para reduzir o tamanho do Estado", disse Mattar em entrevista à rádio Bandeirantes na manhã de hoje.

Salim Mattar evitou críticas diretas ao governo, mas afirmou que sua decisão deve ser um alerta. "Minha saída fica para o governo um sinal. Se tem alguém no Brasil com mais vontade de privatizar que eu, não existe. Outras pessoas vão continuar esse trabalho e o ministro (Paulo) Guedes (da Economia) é favorável às privatizações", completou.

Para o empresário, a saída se deu por um "período natural" no qual ele já estava satisfeito com as contribuições para a agenda econômica.

Ontem, Guedes tratou como "debandada" a saída de Mattar e de Paulo Uebel, secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital. Segundo o ministro, Mattar estava insatisfeito com o ritmo das privatizações no país e Uebel reclamou da falta de andamento da reforma administrativa, que trata dos servidores públicos.

'Vontade política para reduzir o Estado'

Mattar disse que as privatizações enfrentaram resistência de um "establishment" formado pelo Congresso Nacional e por setores da sociedade.

"A Eletrobras é uma empresa que está desde novembro no Congresso. Quem não quis vender foi o Congresso que não deu um ok. O ônus está com eles. O ministro Guedes queria vender, o Executivo", afirmou.

Ele também apontou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem o desejo de reduzir a presença do Estado privatizando as estatais, mas que ele tem que expressar a vontade de outros por comandar uma das Casas do Poder Legislativo.

Segundo ele, seriam mais 14 estatais em análise no BNDES para entrar no processo de desestatização.

"É simples privatizar"

O ex-secretário afirmou ainda que há uma estrutura na pasta da Economia para prosseguir com as privatizações, mesmo com sua saída. Ele indicou que algumas empresas serão extintas.

"Nós temos as três primeiras empresas que colocamos no PND (Programa Nacional de Desestatização). Não houve comprador para elas. Não tinha nenhuma razão delas existir. Era a Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada), Emgea (Empresa Gestora de Ativos) e ABGF (Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias). Nós vamos extinguir essas empresas", afirmou.

Mattar contou que trabalhou para a venda das empresas, mas que "a condição número um era que o ministro na qual ela é subordinada tivesse a atitude de falar que iria colocar no Programa Nacional de Desestatização".

Privatizações na crise do coronavírus

O ex-secretário defendeu, inclusive, que as desestatizações deveriam se intensificar durante a pandemia do coronavírus, como forma de ajudar o país a passar pela crise econômica.

"De fato, temos estatais que valem hoje R$ 1 trilhão, e se vendêssemos todas, inclusive Banco do Brasil e Petrobras, poderíamos resolver o problema da covid-19 que endividou os cofres públicos e ainda sobrava dinheiro, mas isso é uma questão de vontade política", disse Mattar em entrevista à Globonews.

A pandemia foi apontada por ele como um dos motivos que diminuíram o ritmo das privatizações, além do recesso de final e começo de ano do Congresso Nacional.

"Logo depois (do recesso parlamentar) entrou o coronavírus. Estamos já esses meses todos, realmente muita coisa foi paralisada, o mercado se paralisou, teve consequências na Bolsa, no dólar, então agora o mercado está voltando à normalidade, e já temos 14 empresas preparadas para a venda em 2021", afirmou o ex-secretário.