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Não é só banco que ganha com Pix, mas toda a sociedade, diz diretor do BC

Do UOL, em Brasília

19/11/2020 11h55Atualizada em 19/11/2020 14h08

Muita gente fica desconfiada do Pix, porque os bancos estão fazendo muitas propagandas. Qual seria o interesse deles? O Pix beneficia todo mundo, inclusive os bancos, afirmou João Manoel de Mello, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC (Banco Central).

Em entrevista ao UOL, Mello disse que as transações pelo sistema que começou a funcionar 100% nesta semana são tão seguras quanto outras operadas pelo BC, como DOC, TED, débito ou crédito. O diretor também declarou que a Receita Federal não pode bisbilhotar as transferências sem ordem judicial e que o Pix não vai incentivar sequestros-relâmpagos, porque normalmente não há transferência para contas nesse tipo de crime.

O diretor do BC falou ainda sobre a expectativa de novas funcionalidades do Pix que devem ser inauguradas nos próximos anos. Entre elas, está o saque em dinheiro diretamente do varejo e a possibilidade de agendar pagamentos garantidos por uma instituição financeira.

Bancos também se beneficiam, diz diretor

Com a inauguração do Pix, a tendência é que as pessoas façam cada vez menos transferências via TED ou DOC, e os bancos deixem de arrecadar com as taxas cobradas por esses serviços.

Mesmo assim, segundo João Manoel de Mello, as instituições financeiras saem ganhando, porque economizam com o manejo de dinheiro em espécie que deixa de circular. "As estimativas dos bancos e das cooperativas é que são gastos perto de R$ 10 bilhões por ano com o manejo do dinheiro físico", afirmou.

Além disso, as instituições financeiras se beneficiariam de pessoas no sistema digital de transferências.

De acordo com o diretor, em três dias de operação, há 5,2 milhões de operações liquidadas via Pix, totalizando R$ 4,6 bilhões transferidos pelo sistema. O BC calcula 32 milhões de pessoas físicas cadastradas e quase 2 milhões de empresas.

Custo para as instituições financeiras

"Fizemos uma plataforma sem fins lucrativos, cobrando o mínimo necessário para pagar o sistema", afirmou o diretor.

"O banco que recebe um Pix paga um décimo de centavo de real para o BC. é basicamente dispersível". O objetivo da cobrança, segundo Mello, é apenas ressarcir os custos operacionais do sistema.

Segurança igual ou melhor que outros meios

João Manoel de Mello disse que a segurança das transferências via Pix é igual ou melhor do que as que já são operadas com a regulação do BC —dentre elas os pagamentos com cartão de crédito e débito, além de transferências por TED ou DOC.

O diretor afirmou que é o usuário deve adotar medidas de segurança gerais para evitar golpes, como não clicar em links poucos confiáveis e não compartilhar a senha —cuidados que são necessários no dia a dia, independente da forma de pagamento adotada.

Para Mello, o Pix pode ser até mais seguro do que outros meios porque acontece só com autenticação pelos aplicativos dos bancos, fintechs e cooperativas de crédito. "Não há ambiente mais seguro do que o logado no celular."

De modo geral, o Pix também oferece segurança porque estimula as pessoas a carregarem consigo menos dinheiro em espécie. "Crimes violentos, como sequestro relâmpago, não são perpetrados com transferência bancária", disse o diretor do BC.

Devolução de dinheiro para as vítimas

Mello disse que o sistema identifica o padrão de transferências feitas pelo usuário, com o objetivo de identificar movimentos estranhos. Se um golpista conseguir fazer um pagamento criminoso que foge ao padrão, o sistema seria capaz de recusar a transferência por medida de segurança.

Ainda assim, caso o golpista consiga passar todas as barreiras, Mello garantiu que há um procedimento para ressarcir a vítima da fraude.

Sigilo bancário

De acordo com o diretor do BC, não há chance de a Receita Federal acessar os dados das transferências sem autorização judicial. "Assim como as transferências atuais, elas [as transferências via Pix] estão todas protegidas pela Lei Complementar número 105 [de 2001], do sigilo bancário."

Saque no varejo e Pix garantido

João Manoel de Mello falou sobre o plano de trazer novas funcionalidades ao Pix nos próximos anos.

Uma delas seria o saque em estabelecimentos do varejo. "Imagine nas cidade onde não tem caixa eletrônico, a conveniência que é fazer uma compra de R$ 100, pagar R$ 150 e pegar R$ 50 de troco", afirmou.

Outra novidade esperada é o Pix garantido. A ideia é que o usuário possa agendar pagamentos irrevogáveis que ficarão protegidos contra calote por uma instituição financeira.

"A velocidade da entrada dessas funcionalidades depende da parceria com o setor privado, que precisa conseguir adotá-las de maneira segura", afirmou o diretor do BC.