Bolsa cai mais de 4% com intervenção na Petrobras; dólar opera em alta
A indicação do general Joaquim Silva e Luna para assumir os cargos de conselheiro e presidente da Petrobras feita pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afetou os mercados e fez subir o risco-país brasileiro hoje. Por volta das 16h15 (de Brasília), a moeda norte-americana subia 1,01%, cotada a R$ 5,44 na venda.
Na sexta-feira (19), dia do último pregão, o dólar fechou em queda de 1,02%, vendido a R$ 5,385. O valor do dólar divulgado diariamente pela imprensa, inclusive o UOL, refere-se ao dólar comercial. Para quem vai viajar e precisa comprar moeda em corretoras de câmbio, o valor é bem mais alto.
Já o Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores brasileira, opera em forte queda. No mesmo horário, o índice tinha desvalorização de 4,27%, a 113.376 pontos. Na sexta-feira (19), o índice caiu 0,64%, aos 118.430,53 pontos. Na semana passada, acumulou queda de 0,84%.
Ações da Petrobras chegam a cair 20%
Também por volta das 16h15, os papéis preferenciais da Petrobras (PETR4), com prioridade na distribuição de dividendos, operavam em queda de 19,90%, enquanto as ações ordinárias da Petrobras (PETR3), com direito a voto em assembleia, tinham perda de 19,82%.
As ADRs — certificados de ações negociados na Bolsa dos Estados Unidos — da Petrobras também despencavam mais de 20%.
Ações de outras estatais também caem
As preocupações em relação a uma intervenção do governo na Petrobras também geram impactos nas ações de outras empresas estatais.
As ações do Banco do Brasil (BBAS3) tombavam 11,22%. Os papéis ordinários da Eletrobras (ELET3) caíam 4,12%, enquanto os preferenciais (ELET6) recuavam 3,11%
Risco-país
Felipe Miranda, da Empiricus, afirma que as notícias dos últimos dias em relação à Petrobras são bastante graves, e fizeram ressurgir o "risco de cauda", o "medo de uma real explosão da economia brasileira". Para ele, porém, isso ainda é pouco provável.
Uma consequência mais provável é que outros ativos brasileiros podem perder valor. "Para comprar qualquer ativo brasileiro, diante da incerteza e do retorno do risco de cauda, todos exigirão algum desconto. Ninguém vai dar o benefício da dúvida ao governo", disse o sócio-fundador da casa de análise em publicação.
O risco-país também aumentou, medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos, o mais acompanhado pelo mercado. O CDS funciona como um indicador da confiança de investidores em um país; se o número sobe, é sinal de que os investidores têm dúvidas sobre o futuro financeiro do país e de sua capacidade de resolver suas dívidas. O valor do CDS chegou a 182,26, depois de ter fechado a 158,88 na sexta-feira, alta de 14,71%.
Analistas rebaixam recomendação para Petrobras
Ontem, a XP Investimentos rebaixou a recomendação das ações da Petrobras de "neutro" para "venda", revisando, ao mesmo tempo, o preço-alvo do papel de R$ 32 para R$ 24.
Em relatório distribuído a clientes, o analista Gabriel Francisco atribuiu a alteração à sinalização negativa em termos da perspectiva de governança da estatal e à atual gestão de preços com o anúncio de substituição do presidente da companhia.
"Vemos esse anúncio como uma sinalização negativa, tanto de uma perspectiva de governança, dados os riscos para a independência de gestão da Petrobras, como também por implicar riscos de que a companhia continue a praticar uma política de preços de combustíveis em linha com referências internacionais de preços, ou seja, que reflitam as variações dos preços de petróleo e câmbio", escreveu o analista.
Na mesma linha, o BTG Pactual destacou que a decisão relacionada à presidência da Petrobras aumenta de forma significativa incertezas que já se multiplicam tanto na parte política, na saúde e na agenda de reformas, conforme nota a clientes enviada pela área de gestão do banco.
O Bank of America cortou a recomendação para Brasil a "marketweight' em portfólio de ações na América Latina, bem como reduziu exposição a companhias de controle estatal, citando "maior incerteza".
Troca de comando
Bolsonaro confirmou na sexta-feira os rumores de que trocaria o comando da Petrobras. Em post publicado em suas redes sociais, ele comunicou a indicação do general Joaquim Silva e Luna para substituir o atual presidente da empresa, Roberto Castello Branco.
A escolha do governo, porém, precisa ser aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras, e a companhia informou, após o anúncio feito por Bolsonaro, que o mandato de Castello Branco se encerra no dia 20 de março.
Silva e Luna era diretor-geral da Itaipu Binacional e já foi ministro da Defesa durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), em 2018.
No sábado, Bolsonaro também disse que vai "meter o dedo na energia elétrica", e que, "se a imprensa está preocupada com a troca de ontem, na semana que vem teremos mais".
Privatização
Hoje, o general Joaquim Silva e Luna disse que não discutiu e não tem uma opinião sobre uma eventual privatização da companhia.
"Não conversei em nenhum momento (com o governo sobre o assunto)... então não me considero em condições de fazer nenhum juízo de valor", afirmou ele, durante entrevista à Rádio Bandeirantes.
(Com Estadão Conteúdo e Reuters)
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