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Fraude de Madoff prejudicou 3 milhões, incluindo o cineasta Spielberg

Bernard Madoff, em 2009, ao chegar no Tribunal Federal de Manhattan - Stephen Chernin/Getty Images
Bernard Madoff, em 2009, ao chegar no Tribunal Federal de Manhattan Imagem: Stephen Chernin/Getty Images

Do UOL, de São Paulo

14/04/2021 14h44

Morreu hoje, 14, o americano Bernard "Bernie" Madoff, aos 82 anos, na prisão onde estava desde 2009. Ele foi condenado a 150 anos por esquematizar o maior golpe financeiro da história.

O esquema de pirâmide financeira foi estimado entre US$ 25 bilhões e US$ 63 bilhões e atingiu 3 milhões de pessoas no mundo. Cerca de 4.500 das vítimas são latino-americanas, espalhadas pela Argentina, Chile, Brasil, Uruguai, Peru, Colômbia, México e Bahamas.

Sua vida foi retratada no filme O Mago das Mentiras, com Robert de Niro no papel principal e produção da HBO Films. A atriz Michelle Pfeiffer interpreta Ruth Madoff, mulher de Bernie Madoff e parceira involuntária dos acontecimentos.

Sua vida e fraude financeira

Madoff nasceu em 1938 no Queens, Nova York. Em 1960, o americano fundou uma sociedade de investimentos com seu nome, Bernard L. Madoff Investment Securities. Para isso, usou dinheiro levantado em trabalhos como salva-vidas e regador de jardins, durante suas férias de verão.

Ex-presidente da Nasdaq, bolsa de valores de Nova York, ele atraía clientes novos para seus fundos com a promessa de pagar juros mensais bastante atrativos, superiores aos oferecidos pelo mercado. Com os recursos novos, ele fazia o repasse aos antigos clientes que queriam realizar o resgate de suas aplicações.

O escritório mantinha uma aura de exclusividade e, antes da descoberta da fraude, muitos endinheirados se sentiam privilegiados por fazerem parte do círculo de clientes de Madoff.

Madoff tinha clientes de peso, como o diretor Steven Spielberg por meio de sua instituição de caridade, o jogador de beisebol do Hall da Fama Sandy Koufax, o ator John Malkovich, o senador norte-americano Frank Lautenberg, o incorporador do World Trade Center Larry Silverstein, entre outros. Bancos também investiram produtos da empresa de Madoff, como Royal Bank of Scotland (RBS), BBVA, Santander e BNP Paribas.

A fraude só foi descoberta porque, com o agravamento da crise financeira em 2008, muitos clientes queriam resgatar suas aplicações e Madoff não tinha dinheiro suficiente para pagar todos os investidores. Em dezembro de 2008, Madoff revelou o esquema para seus filhos, e afirmou que estava próximo da falência, e seus filhos o entregaram a autoridades federais.

No fim do ano passado, vítimas da fraude de Madoff conseguiram o direito de receber US$ 488 milhões em reembolsos adicionais de um fundo especial de indenizações. Em junho de 2009, um juiz ordenou o confisco de US$ 171 bilhões em bens, incluindo imóveis, investimentos e outros.

Condenado a 150 anos de prisão

Em 2009, Madoff foi condenado e trocou uma cobertura de US$ 7 milhões em Manhattan, uma casa de praia em Montauk (Nova York), e casas na Flórida e na França por uma cela de cadeia.

Ele cumpria pena no Butner Federal Correctional Complex, um complexo penitenciário federal de média segurança na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. O ex-bilionário trabalhava por US$ 40 por mês cuidando da limpeza e funcionamento de computadores e telefones, um trabalho que, segundo ele, não exige nenhuma habilidade.

Na cadeia, chegou a monopolizar a venda de chocolate quente. Segundo o jornalista Steve Fishman, apresentador do podcast "Ponzi Supernova" e que manteve contato com Madoff no centro de detenção, o financista comprou todos os pacotes de Swiss Miss (marca de chocolate quente) no armazém e os vendeu com lucro no pátio da prisão.

Em uma entrevista em 2013 ao site CNNMoney, o financista disse sentir-se atormentado, principalmente, pela culpa decorrente do suicídio de seu filho mais velho, Mark, que se enforcou em 2010, dois anos depois que o escândalo estourou. "Eu fui responsável pela morte de meu filho Mark, e isso é muito, muito difícil", disse ele. "Tenho de viver com isso. Vivo com o remorso, com a dor que eu causei a todos, com certeza à minha família e às vítimas"