Mineiros exportam café carbono neutro para o Japão e ganham R$ 100 a mais
Quatro fazendas no cerrado mineiro, associadas à cooperativa de cafeicultores MonteCcer, de Monte Carmelo (MG), começaram a exportar café carbono neutro para o Japão. O primeiro contêiner do produto, uma carga de 600 sacas de 30 quilos, foi enviado ao país neste mês. Além de sustentável, esse café é lucrativo: os produtores rurais ainda recebem R$ 100 a mais por saca de café com essa classificação. O valor normal da saca estava em R$ 1.480 nesta semana.
As fazendas que conseguiram produzir o café carbono neutro, conforme a MonteCcer, fazem parte de um estudo pioneiro do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), de Piracicaba (SP). O instituto realizou o balanço de carbono de 34 fazendas de café na região.
O café carbono neutro é o que tira mais gás carbônico da atmosfera do que emite durante o seu processo de produção.
Segundo o Imaflora, a neutralização do carbono na plantação de café é realizada por meio do sequestro de gás carbônico pelas árvores inseridas no entorno do cafezal, redução do uso de fertilizantes nitrogenados, maior utilização de compostos orgânicos, emprego de defensivos biológicos em substituição aos sintéticos e uso controlado da irrigação.
As plantações de café das quatro fazendas que enviaram sua produção ao Japão tiveram resultado carbono negativo.
Os lotes foram negociados entre a MonteCcer e a Volcafé Brasil, uma importadora que distribui cafés especiais para todos os países do mundo.
Masamichi Hiroike, gerente geral da Volcafé Japão, veio pessoalmente ao Brasil conhecer as lavouras antes de fechar o negócio.
Desconfiança sobre café brasileiro
"Confesso que antes de conhecer o estudo, não considerava a cafeicultura brasileira sustentável", afirmou o executivo.
"Sempre pensava no modelo de grandes fazendas, com produção em massa, uso intensivo de produtos químicos para aumentar a produção e na exploração das florestas naturais e do cerrado", acrescentou.
Segundo ele, as 34 fazendas inscritas no programa do Imaflora têm condições de se tornarem exportadoras de café carbono neutro para o Japão nos próximos meses.
"Eu mudei o conceito que tinha sobre os cafeicultores brasileiros e hoje quero compartilhar o que aprendi com os nossos compradores de café", afirmou Hiroike.
Bônus de R$ 100 a produtores
Marcelo Vieira Pedroza, diretor comercial da Volcafé Brasil, declarou que os importadores chegam a pagar um ágio pelos cafés especiais, e os produtores rurais ainda recebem R$ 100 a mais por saca de café classificada como carbono neutro.
Nesta semana, a saca de café arábica na região do cerrado mineiro, estava cotada em R$ 1.480. "Esses lotes seguem os processos de rastreabilidade da denominação de origem da região do Cerrado Mineiro", disse.
"É um valor simbólico, mas importante para se discutir o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Estamos tentando fechar o ciclo entre o produtor, vendedor e comprador e ir além do contrato comercial e integrar a agenda ESG [melhores práticas ambientais, sociais e de governança] para reconhecer que, da origem do café ao destino final, há um trabalho bem feito", declarou Nicolas Rueda Latiff, presidente do Conselho Deliberativo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e diretor da Volcafé Brasil.
Japão gosta de café com novidade
O mercado japonês de café é conhecido pela dobradinha novidade e qualidade. "Os japoneses sempre querem qualidade atrelada a algo novo, que diferencie o produto em relação aos demais", afirmou Latiff.
Segundo Hiroike, o interesse de parte da população ajudará a inserir o conceito de sustentabilidade no mercado local.
Diferentemente da população europeia, já familiarizada com o termo, o público do Japão ainda não entende bem tudo que a concepção envolve.
Por isso, a Volcafé vai utilizar o café carbono neutro como chamariz para começar a explicar a sustentabilidade da cadeia cafeeira.
"Costumo dizer que o resultado do balanço de carbono é só a ponta do iceberg, mas por trás há todo um histórico de respeitar a legislação ambiental, proteger as reservas naturais, implementar boas práticas agrícolas e dar condições dignas aos trabalhadores", disse Pedroza.
De acordo com os executivos, a empresa irá repetir no Brasil a estratégia adotada com o Café Jaguar, da Costa Rica.
"Jaguar é o nome de um animal da mata nativa, que poderia estar ameaçado pelas plantações de café, se não houvesse um programa de conservação do habitat destes felinos", afirmou.
"Nós vendemos esse produto, e parte do lucro, doamos para a conservação. É uma maneira muito simples de envolver as pessoas", disse.
O lançamento de produtos atrelados a iniciativas sustentáveis, segundo a importadora, vai acontecer em etapas.
"Os pequenos torrefadores são rápidos em introduzir essas novidades, mas o processo é mais lento nas grandes indústrias. O funcionário apresenta para o seu chefe, que apresenta para o departamento de marketing que vai fazer um estudo até lançar o produto final. É algo que costuma levar entre seis meses e um ano", disse Hiroike.
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