'Brasil está condenado a crescer', diz Guedes, um dia após queda do PIB
O ministro da Economia, Paulo Guedes, questionou hoje os indicadores econômicos que projetam crescimento fraco em 2022 e voltou a minimizar a queda de 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto) no 3º trimestre deste ano, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ontem e que colocou o Brasil em recessão técnica.
Ao falar em privatizações e investimentos para os próximos anos, Guedes disse que o país "está condenado a crescer". "É inevitável. Estamos retomando o crescimento. Estamos saindo de uma fase de recuperação cíclica, baseada em transferências de renda. E estamos indo para o crescimento sustentado, baseado na formação bruta de capital fixo. Devemos atingir 20% do PIB em 2022", disse o ministro, em evento da Encontro Anual da Indústria Química.
"Teremos os investimentos voltando, subindo. Além de educação e tecnologia, fatores até mais importantes. Teremos um fator de sustentação de crescimento. Não estou prevendo. Estou descredenciando os analistas que estão politizando e criando falsas narrativas em torno de fatos", disse Guedes.
Contudo, uma nova onda de revisão das estimativas dos analistas está em curso, e algumas estão abaixo de 4,5%, o que indica uma variação próxima de zero, na melhor das hipóteses no quarto trimestre. Guedes contesta e diz que "o Brasil está de pé" e deve crescer ainda mais. "Falar em crescimento é falar em investimento", disse o ministro, que ressaltou que a taxa de investimento na economia está 19,4%. "Ponto mais alto desde o 3º trimestre de 2014", afirmou.
"As pessoas estão rolando a desgraça para o ano que vem. No primeiro ano [de governo], disseram que não conseguíramos fazer as reformas. Fizemos. No segundo ano, chegou a pandemia. Iriamos cair em 10% e entrar em depressão —mas caímos 4% e voltamos em V, como eu disse que voltaríamos", disse.
Segundo o ministro, a queda foi "localizada" e "um acaso", impulsionado pela crise hídrica na agricultura e na indústria. "A agricultura caiu 8%, mas o setor de serviços, por exemplo, se recuperou", afirmou.
A agropecuária despencou 8% no terceiro trimestre deste ano, em relação aos três meses imediatamente anteriores, e teve o seu pior tombo desde o primeiro trimestre de 2012 (-19,6%). Em relação a igual período de 2020, o setor caiu 9% e ajudou a puxar a queda de 0,1% no PIB do período, informou ontem o IBGE.
O resultado do PIB foi um dos piores do mundo e as projeções mais recentes indicam que o país não deverá crescer, neste ano, acima de 5% como prevê Guedes.
Ministério vive "realidade paralela", diz economista
Uma nova onda de revisão das estimativas dos analistas está em curso, e algumas estão abaixo de 4,5%, o que indica uma variação próxima de zero, na melhor das hipóteses no quarto trimestre.
Ministro da Fazenda durante o governo de José Sarney, no fim da década de 1980, o economista e sócio da consultoria Tendências, Maílson da Nóbrega, afirma que a equipe econômica do governo Bolsonaro vive em uma "realidade paralela".
O resultado do PIB decepciona pelo segundo trimestre consecutivo, refletindo os problemas estruturais da economia brasileira. Apenas o governo acha que o Brasil vai surpreender o mundo. [Isso ocorrerá] só se for negativamente. O resultado do PIB era esperado pelos economistas, exceto os do governo.
Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda
O economista Alexandre Antunes Teixeira, da MCM Consultores Associados, afirma que o Ministério da Economia está sendo "claramente muito otimista" ao projetar um crescimento acima de 2% em 2022.
Segundo ele, a alta de juros, o aumento da inflação e a queda da renda das famílias tornam improvável um desempenho tão positivo.
Se a economia crescer 0,2% no quarto trimestre de 2021, o que é nossa projeção, a herança disso para 2022 é de PIB zero. Para chegar aos 2% projetados pelo Ministério da Economia, o PIB deveria crescer em média 0,8% por trimestre ao longo de 2022. No clima que estamos vivendo hoje, isso é muito difícil. O mais provável é que tenhamos crescimento entre zero e 0,6%.
Alexandre Antunes Teixeira, economista da MCM
Para José Faria Júnior, sócio da consultoria Wagner Investimentos, "o governo está otimista demais, e o mercado financeiro, pessimista demais" em relação ao PIB.
Olhando os índices de confiança na economia, notamos de fato uma desaceleração do PIB. Mas talvez seja exagerado pensar em um número abaixo de 1%, até porque precisamos ver o que de fato vai acontecer com a inflação. Mas no momento não dá para ficar acima de 2%. Parece pouco provável.
José Faria Júnior, consultor da Wagner Investimentos
Governo aposta em nova surpresa
Representantes do Ministério da Economia têm afirmado que o mercado financeiro vai errar novamente suas projeções para 2022, assim como ocorreu em 2020, no auge da pandemia. A visão é de que os economistas de mercado estariam subestimando a recuperação do emprego.
"No ano passado, o mercado estava projetando uma queda superior a 6,5% do PIB. O Banco Mundial projetava baixa de 8,1%, e o FMI, de 9,1%. A SPE [Secretária de Política Econômica] projetou queda de 4,7% e, depois de muita gente nos criticar e dizer que estávamos errados, no fim do ano, o mercado convergiu para nossa estimativa. O ano terminou com queda de 4,1%, mostrando o acerto da nossa projeção", disse Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica, no dia 22 de novembro.
Nesta quinta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, avaliou que a queda de 8% do setor agropecuário no terceiro trimestre é a principal explicação para o recuo do PIB no terceiro trimestre de 2021. Para ele, a queda foi "localizada". "A indústria está estável, o comércio está voltando", disse ao UOL. Na avaliação do ministro, o impacto no setor, justificado por condições climáticas, não deve se repetir.
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