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Guedes diz que não lê jornais; 10 notícias que o ministro deveria ver

O ministro da Economia, Paulo Guedes - Edu Andrade/ME
O ministro da Economia, Paulo Guedes Imagem: Edu Andrade/ME

Do UOL, em São Paulo

03/12/2021 16h41

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou na quinta-feira (2) que deixou de ler jornais. "Não tenho lido muito para não me desanimar, porque nos jornais há dois 'Brasis': um dos críticos e outro dos que veem as coisas de forma mais construtiva", disse.

Logo após a divulgação do PIB, que apresentou queda de 0,1% no terceiro trimestre deste ano, colocando o Brasil em recessão técnica, Guedes também voltou a questionar os indicadores da economia, dizendo que o país "está condenado a crescer". "É inevitável. Estamos retomando o crescimento. Estamos saindo de uma fase de recuperação cíclica, baseada em transferências de renda", disse o ministro, em evento. Para economistas, o otimismo do governo em relação ao crescimento da economia no próximo ano não se justifica.

O UOL separou dez sugestões de reportagens sobre o Brasil para o ministro Paulo Guedes ler. Veja a lista:

1. Pessoas desmaiam de fome

Reportagem do UOL conta histórias de pessoas que procuraram atendimento médico por estarem passando fome. Sem comer, elas desmaiaram enquanto aguardavam consultas em postos de saúde de São Paulo.

Uma enfermeira que trabalha na UBS (Unidade Básica de Saúde) de Paralheiros contou ao UOL que crianças pedem comida durante os atendimentos. Profissionais do posto pedem doações e fazem vaquinhas para comprar cestas básicas.

2. Lixo para comer

Em outro registro da fome, pessoas foram filmadas revirando um caminhão de lixo em busca de restos de alimentos em Fortaleza, no Ceará. O vídeo foi feito pelo motorista de aplicativo André Queiroz, 39, que passava pela região. O caso não é isolado: com a piora da economia, moradores buscam alimentos em lixões, nos fundos de supermercados e em caminhões de lixo em diversas cidades pelo país.

Em julho, o UOL mostrou dezenas de pessoas aguardando pedaços de ossos de boi ao sol em uma longa fila, em frente a um açougue da periferia de Cuiabá, no Mato Grosso.

Em setembro, a fome levou moradores do bairro da Glória, no Rio de Janeiro, a disputar restos de carne e ossos em um caminhão que distribuía os produtos. Em outubro, em Santa Catarina, após açougues serem flagrados comercializando ossos de boi por até R$ 4o quilo, o Procon teve que emitir uma recomendação aos estabelecimentos para que não comercializassem ossadas, permitindo apenas doações.

3. Inflação no Brasil é pior

O preço dos alimentos está subindo no mundo todo. Mas, no Brasil, a situação é pior. Contribuem para o cenário a valorização dos produtos no mercado internacional, mas também outros fatores, como o avanço do dólar e o clima de instabilidade no governo federal.

Segundo especialistas, a postura do presidente Jair Bolsonaro pesa na desvalorização do real, o que tem impacto nos preços.

4. Gasolina e renda

O preço da gasolina tem provocado reclamações dos consumidores —segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o litro custava, em média, R$ 6,75 na semana entre 21 e 27 de novembro.

Mesmo assim, segundo levantamento da consultoria GlobalPetroPrices, o Brasil não é o país com a gasolina mais cara do mundo. Em 15 de novembro, 75 países tinham combustível mais caro do que o Brasil. A diferença é que, proporcionalmente, encher o tanque pesa mais no orçamento do brasileiro, já que a renda média dos cidadãos daqui é menor.

5. Empresas da Bolsa lucram mais

Empresas brasileiras de capital aberto tiveram desempenho positivo no terceiro trimestre de 2021.

Levantamento da Economatica mostrou que o lucro líquido de 291 companhias com ações na Bolsa de Valores de São Paulo somou R$ 128,24 bilhões, o que representa um aumento de 125% na comparação com o terceiro trimestre de 2020. O resultado é melhor até se comparado aos lucros de antes da pandemia: entre o terceiro trimestre de 2021 e o mesmo período de 2019, o aumento nos ganhos foi de 139%.

6. Desemprego cai, puxado por vagas sem carteira assinada

A taxa de desemprego no país caiu para 12,6% no terceiro trimestre, uma redução de 1,6 ponto percentual em relação ao trimestre anterior (14,2%) e de dois pontos na comparação com o mesmo período de 2020 (14,9%). O crescimento do emprego foi puxado por vagas sem carteira assinada e com salários mais baixos.

Com desemprego em alta, brasileiros deixam formação de lado para trabalhar. A taxa de desemprego no Brasil é a quarta maior dentre uma lista das 44 principais economias do mundo, de acordo com estudo realizado pela agência de classificação de risco Austin Rating. O desemprego no Brasil supera em mais de duas vezes a média mundial.

7. Crise hídrica afeta conta de luz

A conta de luz deve sofrer, em média, reajuste de 19% no ano que vem. A maior parte do aumento, 12%, será necessária por causa da alta de custos da geração de energia, provocada pela seca.

O país vive a pior seca em 90 anos, o que provocou o acionamento de usinas térmicas para suprir a demanda por energia elétrica, que são mais caras e levam a um aumento na bandeira tarifária. O problema é que o valor arrecadado com a bandeira não está cobrindo todos os custos: em setembro, o rombo já era de R$ 9,87 bilhões e deve chegar a R$ 17,8 bilhões no ano que vem.

8. Indústria em dificuldades

O último trimestre do ano não começou bem para o setor industrial. Com queda em outubro, pelo quinto mês seguido, a indústria ainda está 4,15% abaixo do nível de antes da pandemia. A indústria nacional enfrenta um cenário de inflação e desemprego altos no país. Os desafios são problemas na cadeia de oferta global, falta de matéria-prima e encarecimento dos custos de produção.

9. Indicadores devem continuar ruins

Segundo economistas, a divulgação do PIB no terceiro trimestre fortalece a possibilidade de aprofundamento da recessão no ano que vem, o que deve atrapalhar a criação de vagas de trabalho e o aumento da renda média do trabalhador em 2022. Inflação, juros e dólar devem continuar em alta no próximo ano.

10. Estrangeiros saem do país

Com a inflação, juros e dólar mais altos, o país fica menos interessante para investidores estrangeiros. As eleições presidenciais e o risco de racionamento de energia, aqui dentro, além do aumento de juros nos Estados Unidos e da desaceleração da China, no exterior, são outros fatores que devem segurar o desempenho da economia brasileira. Os estrangeiros devem preferir a renda fixa e investir na Bolsa apenas depois das eleições. Já investimentos na economia real, como infraestrutura, serão pontuais.