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Funcionários da Havan espantam pássaros com fogos; MP apura morte das aves

Dyepeson Martins

Colaboração para o UOL, em Macapá

24/02/2022 20h32Atualizada em 25/02/2022 15h03

Um vídeo gravado na noite de anteontem mostra o momento em que um funcionário da Havan lança fogos de artifício contra pássaros que estavam próximos à fiação elétrica. O caso aconteceu no estacionamento da loja, em Rio Branco.

O registro foi feito por um trabalhador autônomo, que passava pelo local. Ele encaminhou as imagens à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Acre, que denunciou ao MP (Ministério Público). Em nota, a Havan afirmou desconhecer a prática e criticou a motivação do inquérito aberto (leia mais abaixo).

Na filmagem, é possível ver um bando voando nas proximidades da rede elétrica e se dispersando após o lançamento dos fogos. A denúncia aponta que aves foram atingidas, sendo que algumas morreram com os artefatos. Além disso, mais de um funcionário da loja teria participado do ato, afirma a OAB.

"Os pássaros estavam todos quietinhos e dormindo, eu acho. Soltaram o primeiro [artefato] na direção deles. As aves começaram a voar e soltaram outro. Aí no terceiro, eu filmei", disse o autônomo, em mensagem de texto enviada à Comissão de Defesa e Proteção dos Animais da OAB do Acre. O UOL teve acesso ao conteúdo.

A denúncia da OAB ao Ministério Público aponta a morte de pelo menos dez pássaros que caíram ao chão depois de serem atingidos.

A presidente da comissão da OAB, Vanessa Facundes, explicou que, na região amazônica, é comum que neste período do ano muitas aves pousem na rede elétrica no fim da tarde e permaneçam no local durante a noite. Segundo a advogada, os funcionários da loja viram que havia pássaros morrendo depois de atingidos e, mesmo assim, continuaram a lançar os fogos.

"Isso é totalmente primitivo, você não se preocupar com um ambiente ecologicamente equilibrado, que é previsto na Constituição Federal", ressaltou.

O vídeo da ação dos funcionários ganhou repercussão nas redes sociais. Uma ONG de proteção aos animais publicou nota de repúdio sobre o caso e informou estar "aguardando o posicionamento das autoridades".

A OAB não conseguiu identificar os autores dos disparos dos artefatos. A denúncia pede uma investigação com base na Lei de Crimes Ambientais.

MP diz que abriu inquérito

O MP do Acre confirmou que a Promotoria Especializada de Meio Ambiente da Bacia Hidrográfica do Baixo Acre está investigando o caso. A intenção é ouvir em breve os envolvidos para apontar eventuais crimes e responsabilidades de cada um.

"Vou instaurar de ofício um procedimento na Promotoria do Meio Ambiente e chamar as pessoas que foram responsáveis por esse ato para ouvir o depoimento delas. A partir desses depoimentos vamos ver quais serão os desdobramentos", garantiu a promotora Cristina Amaral Gonçalves.

Havan critica investigação

Em nota ao UOL, a Havan disse que ainda "não foi notificada pelo Ministério Público sobre a suposta denúncia envolvendo a filial localizada na cidade de Rio Branco".

"A rede varejista afirma que desconhece o suposto fato de que colaboradores estejam se valendo de fogos de artifício para espantar pássaros da estrutura predial da empresa. Ressaltamos que este tipo de conduta não faz parte das orientações da Havan. Entretanto, estamos apurando os fatos a partir das notícias que estão sendo veiculadas na imprensa", acrescentou.

A Havan ainda criticou a apuração aberta ressaltando que "lhe causa espanto verificar que o MPAC esteja empregando esforços em uma investigação de uma suposta revoada de pássaros, em um estado tomado por problemas muito mais graves, como o crime organizado que se instalou em todo o Acre".

"Infelizmente, a Havan de Rio Branco é constantemente alvo de ações de bandidos, gerando um clima de tensão e insegurança em clientes e colaboradores, problema este que deveria ser o foco das ações das autoridades competentes. O povo acreano merece mais cuidado por parte dos seus representantes", concluiu.