José Mauro Coelho toma posse como presidente da Petrobras
Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), José Mauro Ferreira Coelho tomou posse na tarde de hoje da Presidência da Petrobras. Seu nome foi aprovado para o comando da empresa pelo conselho de administração da estatal na manhã de hoje.
A mudança no comando da empresa acontece mais de duas semanas após Bolsonaro decidir demitir o atual presidente, general Joaquim Silva e Luna, em meio ao aumento nos preços dos combustíveis. É a segunda troca de chefia da Petrobras durante o governo Bolsonaro. A primeira foi em fevereiro do ano passado, quando o presidente interferiu na empresa para tirar Roberto Castello Branco do cargo.
Coelho já havia sido aprovado ontem pela assembleia-geral de acionistas da Petrobras para integrar o conselho da petrolífera. Esse era um requisito para que chegasse à presidência da estatal.
Além de Coelho, o governo, maior acionista da Petrobras, emplacou no conselho os nomes de Sonia Julia Sulzbeck Villalobos, Luiz Henrique Caroli, Ruy Flaks Schneider, Murilo Marroquim e Márcio Weber. Weber também foi eleito presidente do conselho, após a desistência de Rodolfo Landim, presidente do Flamengo. Já os minoritários elegeram José João Abdalla Filho, Francisco Petros, Marcelo Mesquita e Marcelo Gasparino.
Também foi aprovado ontem o resultado financeiro da companhia em 2021, quando a empresa lucrou R$ 106 bilhões, e distribuição de dividendos complementares no valor de R$ 37,32 bilhões —o correspondente a R$ 2,86 por ação preferencial e ordinária em circulação, a serem pagos em maio.
A indicação de Coelho foi feita pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. Na última segunda-feira (11), o Comitê de Pessoas da Petrobras —órgão que assessora o conselho de administração da companhia— deu seu aval para a indicação. O comitê o considerou apto para ocupar o cargo.
Coelho defende combustíveis atrelados a dólar e petróleo
O executivo defende a política de preços da Petrobras, que vincula os preços dos combustíveis às cotações do dólar e do petróleo no mercado internacional. Em outubro do ano passado, pouco antes de deixar o cargo de secretário do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Coelho disse à Agência Brasil que a alta dos combustíveis não é um fenômeno brasileiro, mas uma onda que pegou o mundo todo na retomada da economia após o auge da pandemia do covid-19.
De acordo com ele, o Brasil precisa acompanhar os preços externos para garantir o abastecimento, já que não refina todo o combustível consumido.
"Nós temos que ter os preços do mercado doméstico relacionados à paridade de preços de importação (PPI), porque se assim não fosse, não teria nenhum agente econômico com aptidão ou vontade de trazer derivados para o mercado doméstico e poderia ter desabastecimento no país", disse na ocasião.
Quem é o novo presidente
Servidor público por 14 anos, Coelho ocupou a presidência do conselho de administração da PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A), estatal criada em 2013, durante o governo de Dilma Rousseff, para atuar na área do pré-sal.
Graduado em química industrial, ele tem mestrado em ciências de materiais e doutorado em planejamento energético. Em outubro do ano passado, pediu demissão do cargo de secretário de Petróleo, Gás e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia.
Desde então, cumpria quarentena, como é chamado o período em que um ex-servidor de alto cargo na administração público deve esperar antes de ir para a iniciativa privada. Ele é considerado próximo do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Indicação e desistência de Adriano Pires
No fim de março, Bolsonaro decidiu demitir Silva e Luna, devido aos sucessivos reajustes nos preços dos combustíveis nos últimos meses e à perda de apoio político do general.
O governo indicou o nome do economista Adriano Pires, sócio-fundador da consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura). Mas ele desistiu de assumir a presidência da Petrobras dias depois, por causa de um relatório da Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras.
O dossiê teria assustado Albuquerque e técnicos da CGU (Corregedoria-Geral da União), segundo informações do jornal O Globo, ao citar conflito de interesses. Pires e Landim, do Flamengo, têm ligação com empresários e empresas do setor de gás. O documento apontava eventuais dificuldades para que seus nomes fossem aprovados. Assim como Pires, Landim também desistiu
Ficou claro para mim que não poderia conciliar meu trabalho de consultor com o exercício da presidência da Petrobras. Iniciei imediatamente os procedimentos para me desligar do Centro Brasileiro de Infraestrutura, consultoria que fundei há mais de 20 anos e que hoje dirijo em sociedade com meu filho. Ao longo do processo, porém, percebi que infelizmente não tenho condições de fazê-lo em tão pouco tempo.
Adriano Pires, em carta divulgada pelo Ministério de Minas e Energia
A decisão do economista criou um impasse para o governo, que teve menos de dez dias para conseguir um substituto para presidir a estatal, visto que a reunião do conselho estava marcada para esta quarta-feira (13).
Política de preços da Petrobras foi adotada no governo Temer
A política de combustíveis da Petrobras foi implantada em 2016 pelo ex-presidente Pedro Parente, no governo de Michel Temer, após anos de preços controlados pela gestão do PT (Partido dos Trabalhadores).
O governo Bolsonaro manteve a política do governo Temer, mas com a disparada do preço do petróleo passou a criticar o sistema, que oscila de acordo com o preços do petróleo, do dólar e o custo de importação.
No início de 2020, antes da pandemia, o petróleo era cotado em torno dos US$ 50, subindo para cerca de US$ 70 no final do ano e atingindo mais de US$ 130 este ano com a guerra entre Ucrânia e Rússia. Atualmente, o preço continua bastante volátil devido à continuidade do conflito no Leste europeu, girando em volta dos US$ 100 o barril.
Disparada dos combustíveis
Coelho vai encontrar uma situação mais tranquila do que a vivida pelo seu antecessor nos últimos meses, com os preços bem mais próximos do que é praticado no mercado internacional do que há dois meses.
Pressionado a não fazer os aumentos necessários para manter a paridade de importação, Silva e Luna ficou até 152 dias sem reajustar o GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), ou gás de cozinha, e 57 dias sem aumentar a gasolina e diesel. No dia 10 de março, porém, subiu o diesel em 24,9%, a gasolina em 18,7%, e o gás de cozinha em 16%. Houve reação política: o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), criticou a "insensibilidade" da Petrobras e disse que o aumento era um "tapa na cara dos brasileiros". Já Bolsonaro demitiu Silva e Luna.
Segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), após 28 dias do último aumento da Petrobras, a gasolina está sendo vendida no mercado brasileiro com preço 2% acima do preço praticado no Golfo do México (EUA) e 2% abaixo no caso do diesel.
"A redução do câmbio e dos preços de referência da gasolina e do óleo diesel no mercado internacional levou o preço para próximo da paridade, mas ainda inviabilizando parte das operações de importação", disse a Abicom.
O preço médio da gasolina nos postos do Brasil atingiu o maior valor em dois anos, fechando o mês de março em R$ 7,288 por litro, segundo levantamento da ValeCard, empresa especializada em soluções de gestão de frotas.
Em relação a março de 2020, quando o preço médio era de R$ 4,598, o combustível acumula alta de 58,5%. Nos últimos 12 meses, a alta foi de 27,26%. Já na comparação mensal com fevereiro deste ano, houve aumento de 5,94%.
(Com Estadão Conteúdo)
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