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José Mauro Coelho toma posse como presidente da Petrobras

Do UOL, em São Paulo

14/04/2022 12h59Atualizada em 14/04/2022 16h54

Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), José Mauro Ferreira Coelho tomou posse na tarde de hoje da Presidência da Petrobras. Seu nome foi aprovado para o comando da empresa pelo conselho de administração da estatal na manhã de hoje.

A mudança no comando da empresa acontece mais de duas semanas após Bolsonaro decidir demitir o atual presidente, general Joaquim Silva e Luna, em meio ao aumento nos preços dos combustíveis. É a segunda troca de chefia da Petrobras durante o governo Bolsonaro. A primeira foi em fevereiro do ano passado, quando o presidente interferiu na empresa para tirar Roberto Castello Branco do cargo.

Coelho já havia sido aprovado ontem pela assembleia-geral de acionistas da Petrobras para integrar o conselho da petrolífera. Esse era um requisito para que chegasse à presidência da estatal.

Além de Coelho, o governo, maior acionista da Petrobras, emplacou no conselho os nomes de Sonia Julia Sulzbeck Villalobos, Luiz Henrique Caroli, Ruy Flaks Schneider, Murilo Marroquim e Márcio Weber. Weber também foi eleito presidente do conselho, após a desistência de Rodolfo Landim, presidente do Flamengo. Já os minoritários elegeram José João Abdalla Filho, Francisco Petros, Marcelo Mesquita e Marcelo Gasparino.

Também foi aprovado ontem o resultado financeiro da companhia em 2021, quando a empresa lucrou R$ 106 bilhões, e distribuição de dividendos complementares no valor de R$ 37,32 bilhões —o correspondente a R$ 2,86 por ação preferencial e ordinária em circulação, a serem pagos em maio.

A indicação de Coelho foi feita pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. Na última segunda-feira (11), o Comitê de Pessoas da Petrobras —órgão que assessora o conselho de administração da companhia— deu seu aval para a indicação. O comitê o considerou apto para ocupar o cargo.

Coelho defende combustíveis atrelados a dólar e petróleo

O executivo defende a política de preços da Petrobras, que vincula os preços dos combustíveis às cotações do dólar e do petróleo no mercado internacional. Em outubro do ano passado, pouco antes de deixar o cargo de secretário do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Coelho disse à Agência Brasil que a alta dos combustíveis não é um fenômeno brasileiro, mas uma onda que pegou o mundo todo na retomada da economia após o auge da pandemia do covid-19.

De acordo com ele, o Brasil precisa acompanhar os preços externos para garantir o abastecimento, já que não refina todo o combustível consumido.

"Nós temos que ter os preços do mercado doméstico relacionados à paridade de preços de importação (PPI), porque se assim não fosse, não teria nenhum agente econômico com aptidão ou vontade de trazer derivados para o mercado doméstico e poderia ter desabastecimento no país", disse na ocasião.

Quem é o novo presidente

Servidor público por 14 anos, Coelho ocupou a presidência do conselho de administração da PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A), estatal criada em 2013, durante o governo de Dilma Rousseff, para atuar na área do pré-sal.

Graduado em química industrial, ele tem mestrado em ciências de materiais e doutorado em planejamento energético. Em outubro do ano passado, pediu demissão do cargo de secretário de Petróleo, Gás e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia.

Desde então, cumpria quarentena, como é chamado o período em que um ex-servidor de alto cargo na administração público deve esperar antes de ir para a iniciativa privada. Ele é considerado próximo do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Indicação e desistência de Adriano Pires

No fim de março, Bolsonaro decidiu demitir Silva e Luna, devido aos sucessivos reajustes nos preços dos combustíveis nos últimos meses e à perda de apoio político do general.

O governo indicou o nome do economista Adriano Pires, sócio-fundador da consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura). Mas ele desistiu de assumir a presidência da Petrobras dias depois, por causa de um relatório da Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras.

O dossiê teria assustado Albuquerque e técnicos da CGU (Corregedoria-Geral da União), segundo informações do jornal O Globo, ao citar conflito de interesses. Pires e Landim, do Flamengo, têm ligação com empresários e empresas do setor de gás. O documento apontava eventuais dificuldades para que seus nomes fossem aprovados. Assim como Pires, Landim também desistiu

Ficou claro para mim que não poderia conciliar meu trabalho de consultor com o exercício da presidência da Petrobras. Iniciei imediatamente os procedimentos para me desligar do Centro Brasileiro de Infraestrutura, consultoria que fundei há mais de 20 anos e que hoje dirijo em sociedade com meu filho. Ao longo do processo, porém, percebi que infelizmente não tenho condições de fazê-lo em tão pouco tempo.
Adriano Pires, em carta divulgada pelo Ministério de Minas e Energia

A decisão do economista criou um impasse para o governo, que teve menos de dez dias para conseguir um substituto para presidir a estatal, visto que a reunião do conselho estava marcada para esta quarta-feira (13).

Política de preços da Petrobras foi adotada no governo Temer

A política de combustíveis da Petrobras foi implantada em 2016 pelo ex-presidente Pedro Parente, no governo de Michel Temer, após anos de preços controlados pela gestão do PT (Partido dos Trabalhadores).

O governo Bolsonaro manteve a política do governo Temer, mas com a disparada do preço do petróleo passou a criticar o sistema, que oscila de acordo com o preços do petróleo, do dólar e o custo de importação.

No início de 2020, antes da pandemia, o petróleo era cotado em torno dos US$ 50, subindo para cerca de US$ 70 no final do ano e atingindo mais de US$ 130 este ano com a guerra entre Ucrânia e Rússia. Atualmente, o preço continua bastante volátil devido à continuidade do conflito no Leste europeu, girando em volta dos US$ 100 o barril.

Disparada dos combustíveis

Coelho vai encontrar uma situação mais tranquila do que a vivida pelo seu antecessor nos últimos meses, com os preços bem mais próximos do que é praticado no mercado internacional do que há dois meses.

Pressionado a não fazer os aumentos necessários para manter a paridade de importação, Silva e Luna ficou até 152 dias sem reajustar o GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), ou gás de cozinha, e 57 dias sem aumentar a gasolina e diesel. No dia 10 de março, porém, subiu o diesel em 24,9%, a gasolina em 18,7%, e o gás de cozinha em 16%. Houve reação política: o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), criticou a "insensibilidade" da Petrobras e disse que o aumento era um "tapa na cara dos brasileiros". Já Bolsonaro demitiu Silva e Luna.

Segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), após 28 dias do último aumento da Petrobras, a gasolina está sendo vendida no mercado brasileiro com preço 2% acima do preço praticado no Golfo do México (EUA) e 2% abaixo no caso do diesel.

"A redução do câmbio e dos preços de referência da gasolina e do óleo diesel no mercado internacional levou o preço para próximo da paridade, mas ainda inviabilizando parte das operações de importação", disse a Abicom.

O preço médio da gasolina nos postos do Brasil atingiu o maior valor em dois anos, fechando o mês de março em R$ 7,288 por litro, segundo levantamento da ValeCard, empresa especializada em soluções de gestão de frotas.

Em relação a março de 2020, quando o preço médio era de R$ 4,598, o combustível acumula alta de 58,5%. Nos últimos 12 meses, a alta foi de 27,26%. Já na comparação mensal com fevereiro deste ano, houve aumento de 5,94%.

(Com Estadão Conteúdo)