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Ministro de Minas e Energia deixa cargo após Bolsonaro atacar Petrobras

Bento Albuquerque deixou o Ministério de Minas e Energia a pedido, segundo o Diário Oficial da União - Adriano Machado/Reuters
Bento Albuquerque deixou o Ministério de Minas e Energia a pedido, segundo o Diário Oficial da União Imagem: Adriano Machado/Reuters

Do UOL, em São Paulo

11/05/2022 06h22Atualizada em 11/05/2022 11h09

O presidente Jair Bolsonaro (PL) trocou o comando do Ministério de Minas e Energia. Bento Albuquerque foi exonerado, a pedido, segundo consta na edição de hoje do DOU (Diário Oficial da União). Ele era um dos últimos remanescentes da equipe original de ministros do presidente. Em seu lugar, entra Adolfo Sachsida, que atuava no Ministério da Economia, ao lado do ministro Paulo Guedes.

A mudança ocorre após recentes ataques de Bolsonaro à política de preços da Petrobras, estatal ligada à pasta de Minas e Energia. Na segunda-feira (10), a empresa anunciou aumento de 8,87% no preço do diesel nas suas refinarias. Nos postos, o preço do diesel aumentou em 96% durante o governo Bolsonaro, segundo levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

De acordo com a "Folha de S.Paulo", Albuquerque também resistia ao projeto bilionário que prevê a construção de gasodutos pelo país. A proposta, patrocinada pelo centrão, tem um custo de R$ 100 bilhões e é polêmica por beneficiar diretamente Carlos Suarez, ex-sócio da empreiteira OAS e conhecido como o "rei do gás".

Presidente atacou Petrobras dias antes do reajuste

O anúncio do aumento do diesel aconteceu dias depois de o presidente Bolsonaro fazer apelos diretos, na live de quinta-feira (5), ao presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, e a Albuquerque, para que não houvesse novos aumentos nos preços dos combustíveis.

O próprio José Mauro assumiu há menos de um mês, após Bolsonaro demitir seu antecessor, Joaquim Silva e Luna, após aumentos nos combustíveis. Silva e Luna, por sua vez, substituiu Roberto Castello Branco, demitido pelo mesmo motivo.

A Petrobras pratica preços ligados à cotação internacional do petróleo e ao dólar. Quando eles sobem, como agora, os combustíveis sobem junto. Apesar do reajuste de segunda-feira, o diesel ainda está defasado em 11% em relação aos preços praticados lá fora.

Na live, o presidente pediu que a estatal reduzisse seu lucro, que ele considerou "absurdo" e "um estupro".

"A gente apela para a Petrobras, não reajustem o preço dos combustíveis. Vocês estão tendo um lucro absurdo", disse o presidente na tradicional transmissão ao vivo por redes sociais às quintas-feiras.

"Ela [Petrobras] deve ter a função social. Petrobras, estamos em guerra. Petrobras, não aumente mais o preço dos combustíveis. O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo", afirmou, dizendo que não interfere na empresa e que não tem responsabilidade pela situação.

"Se continuar tendo lucro dessa forma, aumentando o preço do combustível, vai quebrar o país. Se tiver mais um aumento de combustível, pode quebrar o Brasil. E o pessoal da Petrobras não entende ou não quer entender, ou só estão de olho no lucro", acrescentou.

Na live, no entanto, o presidente omitiu que o governo é o maior acionista da empresa —-ou seja, o lucro da empresa garante verba para o caixa do governo.

Ao mesmo tempo em que Bolsonaro fazia seus apelos à Petrobras, a estatal divulgava um lucro líquido de R$ 44,56 bilhões no primeiro trimestre do ano. Com isso, os cofres da União recebem R$ 14 bilhões em dividendos.

Eletrobras e pressões por combustíveis e crise hídrica

Albuquerque sofreu pressões por causa da alta dos combustíveis ao longo de toda a sua gestão à frente do ministério.

No ano passado, também foi pressionado pela maior crise hídrica em 90 anos, quando os reservatórios das hidrelétricas estavam baixos, com a falta de chuvas, e o acionamento de usinas termelétricas provocou o aumento das contas de luz no país todo.

Na época, chegou a fazer pronunciamento em rede nacional para pedir que a população reduzisse o gasto de energia, evitando usar chuveiros elétricos, ar condicionado e ferros de passar.

O então ministro também trabalhou pela aprovação, no Congresso, do projeto que permitiu a privatização da Eletrobras. A venda da estatal, hoje sob análise do TCU (Tribunal de Contas da União) está prevista para sair até julho.

Carioca, o agora ex-ministro, de 62 anos, é almirante de esquadra da Marinha. Ocupou cargos de assessoria no Congresso e em organismos internacionais, antes de se tornar ministro.

Quem é Adolfo Sachsida

8.abr.2020 - O secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, em coletiva do Ministério da Economia - Anderson Riedel/PR - Anderson Riedel/PR
8.abr.2020 - Adolfo Sachsida foi nomeado por Bolsonaro para chefiar o Ministério de Minas e Energia
Imagem: Anderson Riedel/PR

O novo chefe do Ministério de Minas e Energia liderava a Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Economia. Antes, passou pela SPE (Secretaria de Política Econômica) e está com Bolsonaro desde a campanha eleitoral de 2018.

Nas redes sociais, Sachsida agradeceu pela nomeação e disse esperar estar à altura do trabalho, que classificou como "o maior desafio profissional" da carreira.

Com doutorado em Economia pela UnB (Universidade de Brasília) e pós-doutorado pela Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, Sachsida lecionou na Universidade do Texas.

É também advogado, com estudos na área de Direito Tributário, e técnico de Planejamento e Pesquisa da Carreira Pública pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).