Equilíbrio entre vida pessoal e profissional: é possível?
Durante a pandemia de covid-19, os escritórios foram transferidos para dentro das residências, complicando ainda mais a já difícil tarefa de balancear vida pessoal e profissional. Mais de dois anos depois, é hora de voltar a encarar a realidade: todo mundo sai ganhando quando o trabalhador tem a possibilidade de delimitar bem as duas áreas e deixa de "levar trabalho para casa". Momentos de pausa e de descanso favorecem o bem-estar físico e mental e isso se reflete em engajamento e produtividade.
"Pesquisas da ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil) mostram que é grande o número de pessoas que negligenciam a vida pessoal ao se dedicar mais à profissional por medo de demissão ou de ficar para trás em promoções, mas esse é o tipo de situação que não se sustenta no longo prazo, podendo levar a problemas de saúde e a transtornos mentais", afirma Ana Maria Rossi, psicóloga e presidente da ISMA-BR. "Esse funcionário que adoece possivelmente terá menos concentração, cometerá mais erros, não entregará as tarefas no prazo, estará mais irritado e hostil e se envolverá em mais conflitos."
"Colaboradores com a vida pessoal e profissional equilibradas certamente são mais motivados, concentrados nas atividades de trabalho, criativos, aptos à inovação, e isso reflete não somente nos resultados da empresa, mas também na manutenção de um ambiente de trabalho saudável para todos", completa Ana Cristina Barcellos Rodrigues, diretora de gente e serviços corporativos da produtora de papéis Klabin.
De olho no problema, companhias se movimentam para criar condições favoráveis a esse equilíbrio. Para a psicóloga Ana Maria Rossi, as melhores estratégias são as definitivas: adequar tarefas e responsabilidades à duração da jornada diária; oferecer equipamentos e recursos financeiros e de equipe para evitar tarefas extras; proporcionar flexibilidade para compensar dias com mais ou menos trabalho; limitar ou impossibilitar horas extras; e promover benefícios que mostrem essa importância, como palestras e campanhas.
Grandes empresas investem ainda em estruturas de apoio, como programas de bem-estar que incluem ações de prevenção a doenças, atividades físicas, práticas de meditação e mindfulness e apoio psicológico, financeiro, jurídico e social, e se popularizam os períodos sabáticos, que permitem uma pausa além das férias para a realização de projetos pessoais.
Na farmacêutica Biogen Brasil, a cada seis anos de empresa, todo colaborador tem direito a quatro semanas consecutivas livres. "Trata-se de um período remunerado e intencionalmente consecutivo para que não possa ser dividido ou quebrado", conta Luciana Cardoso, diretora de RH. "Queremos que o colaborador aproveite com aprendizado, momentos com a família, trabalho voluntário e o que mais for importante para ele".
A partir deste ano acontecerá ainda, no mundo inteiro, um grande "shut down", quando toda a empresa deve parar as atividades por uma semana. "Quando saímos de férias a vida continua - na volta, são vários e-mails e novidades para acompanhar. Desta vez vamos desligar a empresa para as pessoas se cuidarem."
Regras de ouro e gestão humanizada
Se nos últimos anos "bater ponto" e ter horários regrados fizeram muita gente torcer o nariz, o trabalho remoto revigorou essa ideia. "A mudança de rotina durante a pandemia evidenciou a necessidade de equilíbrio", acredita Ana Paula Franzotti, diretora de cultura e desenvolvimento organizacional da Unilever.
No período de confinamento, a companhia criou suas "regras de ouro": todas as reuniões foram reduzidas em dez minutos e canceladas entre 12h e 13h30, após às 18h e às sextas-feiras à tarde, quando, aliás, o expediente acaba às 16h. Elas foram tão bem recebidas pelas equipes, que permanecem agora, com a empresa atuando em modelo híbrido.
A seguradora SulAmérica também definiu sua rotina a partir da escuta trimestral que avalia a experiência do colaborador em temas como jornada de horas, produtividade, volume de trabalho, satisfação, qualidade de vida e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. O conjunto de recomendações reforça o respeito às horas de conectar, de desconectar e de almoço e agendamento de reuniões apenas entre 9h e 18h.
"Também orientamos as lideranças em relação a priorizações do trabalho e desenvolvemos um plano de treinamentos recheado de conteúdos importantes para apoiar nessa jornada", diz Flavia Neves, superintendente de RH.
Flexibilidade com estrutura
Recentemente, a petroquímica Braskem passou a oferecer modelos de trabalho flexíveis, de acordo com a natureza de cada atividade (presencial, flex office, híbrido e externo), como estratégia para que os funcionários organizem suas rotinas e agendas de acordo com suas particularidades. A ideia é que, munidos de flexibilidade e estrutura - e a empresa trabalhou para oferecer todas as ferramentas e equipamentos necessários -, os profissionais possam ter melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
"Entendemos que, quando isso acontece, produtividade, desempenho, criatividade, capacidade de resolução de problemas, relacionamento interpessoal, construção de análises críticas e até mesmo comportamento seguro no trabalho são diretamente impactados", reforça Kricia Galvão, diretora de pessoas e organização.
Foi o que fez também a John Richard, empresa de aluguel de móveis por assinatura para escritórios e residências: os funcionários em home office ganharam espaços de trabalho adequados com cadeira, mesa e kit ergonomia, que também é tema de webinars mensais. "Queremos flexibilizar o trabalho de forma adequada para que o colaborador atue em casa com as mesmas condições que atuaria escritório", conta a CEO Pamela Paz.
Na multinacional suíça de alimentos Nestlé, foi criado o programa "Cuidar Mais", que disponibiliza uma rede de profissionais de saúde para atender quem está trabalhando de casa em tópicos como adaptações no espaço de trabalho, ergonomia, necessidade de pausas, nutrição.
"Ver a reciprocidade da empresa torna as equipes mais criativas, colaborativas e engajadas. Felicidade no trabalho é um combustível que precisamos utilizar de maneira mais sábia", acredita Katia Regina, gerente executiva de total rewards. "E tratar desse equilíbrio é, acima de tudo, uma questão de respeito à vida das pessoas."
Lugares Incríveis para Trabalhar
O Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores são definidos a partir dos resultados da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. A pesquisa já está na fase de coleta de dados das empresas inscritas e as empresas vencedoras devem ser anunciadas em agosto.
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