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Nova presidente descarta privatização da Caixa e venda do Caixa Tem agora

Nova presidente da Caixa, Daniella Marques (centro), foi à posse acompanhada do filho; Guedes, Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, participaram - Carla Araújo/UOL
Nova presidente da Caixa, Daniella Marques (centro), foi à posse acompanhada do filho; Guedes, Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, participaram Imagem: Carla Araújo/UOL

Fabrício de Castro e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

05/07/2022 19h13

A nova presidente da Caixa Econômica Federal, Daniella Marques, afirmou nesta terça-feira (5) que não está em discussão no governo a privatização do banco neste momento, nem a venda de ativos como o Caixa Tem. "Não está em discussão neste momento nem a privatização da Caixa, nem a venda de qualquer ativo", afirmou Marques, após ser questionada pelo UOL em entrevista coletiva à imprensa.

Sobre o Caixa Tem, banco digital lançado pela Caixa durante a pandemia de covid-19, Marques afirmou que ele "obviamente tem muito valor". "Mas preciso me reunir com o banco, para ver", afirmou. Em fevereiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a afirmar que o Caixa Tem valeria R$ 100 bilhões e poderia ser privatizado.

A nova presidente afirmou que pretende se reunir, nos próximos dias, para tratar de assuntos ligados às áreas de atuação do banco. "A partir de amanhã, vou me voltar para dentro. Tenho uma série de reuniões agendadas", afirmou.

Próxima do ministro da Economia, Paulo Guedes, Marques ocupava o cargo de secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia. Ela foi indicada para a presidência da Caixa após o então presidente, Pedro Guimarães, sofrer uma série de acusações de assédio sexual. As denúncias foram publicadas originalmente pelo site Metrópoles. Em seu pedido de demissão, o ex-presidente da Caixa negou as acusações. Nos últimos dias, Marques se concentrou em ações relacionadas às denúncias.

No comando da Caixa, Marques já informou que o então vice-presidente de Logística do banco, Antonio Carlos Ferreira, e seis funcionários vinculados à presidência foram afastados do cargo após as denúncias de assédio sexual e moral. Além de Guimarães, o ex-vice-presidente de Negócios de Atacado, Celso Leonardo Barbosa, apontado como quem acobertava os atos de Guimarães, pediu demissão na última sexta-feira (1º).

Canal para mulheres

Daniella Marques disse ainda que irá abrir um canal de atendimento para as mulheres no banco. O objetivo é entender as denúncias e recuperar os fatos.

A nova presidente da Caixa também explicou, em entrevista à GloboNews, que haverá um colegiado especialmente designado para esclarecer os casos. O grupo terá a participação de um órgão independente de investigação e contará com o apoio da CGU (Controladoria-Geral da União), além de órgãos internos da Caixa, como ouvidoria, auditoria, corregedoria e jurídico.

Durante a coletiva após a posse, Marques foi questionada se teria tido contato com o ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães. Ela não confirmou se teve ou não contato com o executivo e disse que preferia "preservar o ex-presidente". A nova presidente da Caixa lembrou ainda que as apurações afetam as famílias e as possíveis vítimas. Ao mesmo tempo, defendeu o "rigor" na apuração.


Independente de serem comprovados ou não os fatos [denúncias de assédio contra Pedro Guimarães], é natural que os processos sejam revisados, aprofundados e aprimorados. E é isso que a gente vai fazer.
Daniella Marques, presidente da Caixa

Equipe

Marques afirmou ainda que já definiu três nomes de sua equipe na Caixa.

Danielle Calazans, ex-secretária de Gestão Corporativa do Ministério da Economia, ocupará um cargo na Governança Interna da Caixa. Já Alexandre Mota, diretor de operações da gestora de ativos Emgea, atuará na área de Atacado, Varejo e Crédito. A executiva Caroline Busatto, ex-secretária de Inovação e Micro e Pequenas Empresas do Ministério da Economia, também participará da equipe.

Denúncias

Na semana passada, o site de notícias "Metrópoles" divulgou denúncias de funcionárias do banco, que incluem toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites incompatíveis com a relação de trabalho supostamente praticadas por Pedro Guimarães.

Depois disso, outros relatos surgiram. Uma testemunha, que é assessora de diretoria do banco e trabalhava na matriz, mas não diretamente com Guimarães, disse que as funcionárias se escondiam no banheiro ao ouvir a voz do chefe no corredor. O relato foi mostrado pela GloboNews.

Uma funcionária da Caixa há 11 anos e gerente de agência há 7 anos em uma capital do país, Rosimara* (nome fictício), afirma que a entrada de Guimarães na chefia do banco trouxe com ela uma naturalização da cultura do assédio.

Posse

Daniella Marques tomou posse em Brasília, em um evento restrito a convidados. Acompanhada do filho Pedro, de 7 anos, ela se mostrou bastante emocionada, o que chamou a atenção dos convidados. Ex-integrante do Ministério da Economia, Marques sempre chamou atenção pela seriedade e pela frieza em alguns momentos, nas negociações com o Congresso.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, discursaram no evento de posse, mas não citaram especificamente o caso de assédio envolvendo o ex-presidente do banco.

Já o presidente da Câmara, Artur Lira, citou a gravidade das acusações e afirmou que a Caixa ganha uma executiva "com sangue nos olhos para corrigir distorções impossíveis de admitir".

No evento, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que ontem fez uma postagem de apoio à mulher de Pedro Guimarães, não discursou, mas entregou um buquê de flores para a nova presidente da Caixa.