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Grana extra e mão na massa engajam equipes em metas de sustentabilidade

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Imagem: StockRocket/iStock

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/07/2022 04h00Atualizada em 13/07/2022 10h07

Em 2021, a multinacional alemã Siemens desafiou seus funcionários a contribuir com a preservação do planeta. Graças a ações como a campanha "Rumo à neutralização de carbono", na qual todos os colaboradores da Siemens do Brasil puderam inscrever projetos, a empresa reduziu em 87% as emissões de CO2 em 2021, com base em 2014, e quer antecipar sua neutralidade até 2025.

O caso da Siemens é um exemplo de como empresas de todos os portes estão atentas a seu impacto socioambiental e a seu papel no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU até 2030. O objetivo é atender demandas de consumidores cada vez mais conscientes e exigentes em relação à agenda ambiental.

"Ter a sustentabilidade como integrante da nossa estratégia de negócios e da alta direção não seria suficiente se não tivéssemos esse mesmo compromisso disseminado por toda a corporação", afirma Luis Felipe Gatto Mosquera, vice-presidente jurídico, relações governamentais e sustentabilidade. "Cada profissional, em sua área, precisa estar alerta às oportunidades de contribuir, e essas ações reforçam e ampliam seu engajamento."

Responsáveis por transformar estratégias em ação nas companhias, os colaboradores são os protagonistas desses esforços. Por isso, investe-se cada vez mais em programas de engajamento para eles.

"É fundamental incentivar o envolvimento de todos funcionários nos projetos e nas metas de sustentabilidade", afirma Renê Gomes, gerente do departamento de meio ambiente da empresa de energia FURNAS. "Afinal, são eles que fazem as coisas acontecerem."

Luis Felipe Gatto Mosquera, vice-presidente jurídico, de relações governamentais e sustentabilidade da Siemens do Brasil - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Na Siemens, do VP Luis Felipe Gatto Mosquera, as emissões de CO2 foram reduzidas em 87% em 2021 (comparando aos níveis de 2014) graças a funcionários que inscreveram projetos para a campanha "Rumo à neutralização de carbono".
Imagem: Acervo pessoal

"Sem o engajamento de todos, o movimento não tem o mesmo impacto", concorda Isabela Oliveira, advogada do Escritório Medina Guimarães Advogados, que também aposta no alinhamento entre os valores da empresa e dos colaboradores para maximizar seu potencial em ações socioambientais.

De acordo com as empresas entrevistadas para esta reportagem, comunicados periódicos, eventos e treinamentos são fundamentais para disseminar informações sobre tópicos como mudanças climáticas, descarbonização, economia circular, licenciamento ambiental e gestão de resíduos e sua aplicação no dia a dia - estimulando a colaboração dos funcionários com a agenda socioambiental.

Informação acessível

Para manter o tema quente na rotina dos funcionários, em vez de tratá-lo como um item extra da agenda diária a ser cumprido, a multinacional do setor químico BASF aposta na transparência das informações.

"A partir do momento em que trazemos a informação para funcionários de todos os níveis hierárquicos, a empresa se mova para atender e atingir essas metas", acredita Caroline Lima, gerente de sustentabilidade para América do Sul.

Um exemplo de como essa estratégia funciona na prática é o aplicativo Sales Force, utilizado pelo time de vendas para a consulta de produtos. Além dos pontos básicos como disponibilidade e estoque, a ferramenta oferece dados sobre o impacto ambiental causado pelos itens adquiridos por cada cliente. De posse dessa informação, a equipe de vendas pode abordar a sustentabilidade com os clientes, sugerindo a aquisição de produtos mais sustentáveis.

Caroline Lima, gerente de sustentabilidade da BASF para América do Sul - Acervo pessoal - Acervo pessoal
A BASF, da gerente de sustentabilidade Caroline Lima, aposta em facilitar o acesso a informações sobre impacto ambiental dos produtos para engajar funcionários no tema e no cumprimento das metas.
Imagem: Acervo pessoal

Outras iniciativas são a parceria firmada desde 2019 com a Fundação Dom Cabral para capacitação de funcionários em uma agenda de empreendedorismo corporativo com impacto social e o Centro de Experiências Científicas e Digitais, localizado dentro do escritório central e que incentiva conexões com startups, escolas, universidades e clientes para gerar inovação e oferecer momentos de trocas de ideias e geração de conhecimento.

No Medina Guimarães Advogados, a informação também é a base para ações práticas. O primeiro passo antes de adotar a separação do lixo para reciclagem, por exemplo, foi a organização de palestras com uma empresa de consultoria ambiental parceira. De acordo com a advogada Isabela Oliveira, isso teve papel relevante na adesão da equipe à ideia. "A implementação dos projetos apresentados pelo escritório demanda a atuação conjunta de todos os colaboradores e isso traz ainda outros benefícios, como contribuir significativamente para o fortalecimento da cultura, o trabalho em equipe e a melhora das relações internas."

Mão na massa

Em FURNAS, a ideia é que a participação direta dos funcionários em ações ambientais leve ao fortalecimento da consciência e dos vínculos com a causa para facilitar o cumprimento de metas maiores, como a relacionada ao ODS 15 (vida terrestre).

Uma dessas ações é o projeto IARA (Intervenção Ambiental para Recuperação das Águas), que prevê a limpeza e a recuperação de rios e córregos que atravessam as unidades de operação da empresa. São os próprios funcionários voluntários que coletam resíduos e trabalham na revitalização dessas áreas.

"Nosso primeiro trabalho foi na subestação do Grajaú, no Rio de Janeiro, quando, vestindo macacões apropriados, entramos na água, construímos uma barreira ecológica de retenção do lixo e plantamos 500 mudas", conta Marcos Machado, superintendente do departamento de responsabilidade social, marca e reputação. "O engajamento gerado entre os funcionários é impressionante."

Atuação direta é também uma das frentes da estratégia de ESG (acrônimo em inglês para Environmental, Social and Governance ou, em português Ambiental, Social e Governança) da Auren Energia, que hoje tem mais de cem projetos sociais e ambientais em 27 municípios, impactando comunidades onde atua e seus entornos.

Um exemplo é o projeto de inovação social LAB Água que tem o objetivo de estimular o ecossistema de inovação em recursos hídricos. Atuando como mentores das startups inscritas, funcionários da Auren as orientam no desenvolvimento de soluções para levar água limpa ao sertão do Piauí e de Pernambuco.

"Oferecemos o espaço e liberdade para que nossos colaboradores possam cocriar e se sentirem, de fato, como parte da solução", diz Raquel Leite, gerente de desenvolvimento social e planejamento. "Os profissionais são livres para escolher o problema que desejam solucionar e participar da construção de uma solução do início ao fim do projeto."

Compartilhar resultados

Na petroquímica Braskem, que também realiza treinamentos e ações práticas, a ideia é não dividir apenas responsabilidades e metas. "Nosso pulo do gato é compartilhar resultados financeiros", garante Jorge Soto, diretor de desenvolvimento sustentável.

Jorge Soto, diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Na Braskem, do diretor de desenvolvimento sustentável Jorge Soto, cada colaborador negocia metas (incluindo de sustentabilidade) junto à liderança. Quando elas são alcançadas, há recompensa financeira.
Imagem: Acervo pessoal

Todo funcionário tem um programa de ação que inclui metas de sustentabilidade, com objetivos anuais, negociados com o líder, ou seja, que não são top down. "Quando as pessoas se vêem engajadas num processo decisório como esse, elas se sentem empoderadas, e isso aumenta o senso de pertencimento", acredita Soto. "E a remuneração individual como resultado do esforço para seu cumprimento contribui ainda mais para elevar a motivação."

Lugares Incríveis para Trabalhar

O Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores são definidos a partir dos resultados da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. A pesquisa já está na fase de coleta de dados das empresas inscritas e as empresas vencedoras devem ser anunciadas em agosto.