IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Em busca de cliente e lucro, Pão de Açúcar foca em importado e prato pronto

Pão de Açúcar/Divulgação
Imagem: Pão de Açúcar/Divulgação

Mariana Desidério

Do UOL, em São Paulo

30/09/2022 04h00

O Grupo Pão de Açúcar anunciou recentemente uma revisão de seus planos e disse que vai apostar pesado nas lojas de bairro. O grupo pretende abrir 250 lojas do tipo até 2024, além de 50 supermercados. Esse é mais uma tentativa da empresa de atrair o consumidor com foco na conveniência. A ideia é brigar menos por preço e cada vez mais por resolver as compras do dia-a-dia do consumidor.

Onde ficarão as novas lojas? Para o cliente, isso significa que vai ficar mais fácil encontrar uma loja das bandeiras Pão de Açúcar ou Extra na vizinhança, em especial em cidades da região Sudeste, onde a empresa tem maior força. Se antes os planos de expansão da marca incluíam avançar em regiões onde ela tem pouca presença, agora a meta é ocupar mais espaços nas praças em que ela já está, o que traz vantagens logísticas.

Que produtos essas lojas vão vender ? A meta é ser cada vez mais um lugar de conveniência para o cliente que busca praticidade e sofisticação. Dentre os planos da companhia estão ampliar a oferta de produtos premium e importados dentro das lojas Pão de Açúcar, além de reforçar as gôndolas de perecíveis, com produtos de padaria, frutas e legumes. "Veremos mais produtos com foco na praticidade e saudabilidade, como pratos prontos, frutas e saladas. A margem de lucro desse negócio é muito boa", diz Rodrigo Catani, diretor da AGR Consultores.

Com quem o Pão de Açúcar vai concorrer? O Pão de Açúcar já oferece produtos como sushis e pratos prontos para o almoço. Nesse formato, a rede entra em competição com serviços de delivery, como o Ifood. O formato ganhou força após a pandemia, com o avanço do trabalho híbrido. "Trabalhando de casa, fica difícil cozinhar. Então essa é uma opção que traz ofertas mais saudáveis do que o delivery para o consumidor", diz Cristina Souza, CEO da consultoria Gouvêa Foodservice.

Além das novas lojas anunciadas, as atuais unidades do Pão de Açúcar estão sendo reformadas para seguir um padrão de loja mais moderno, com mais espaço aos perecíveis, o que tem significado alta nas vendas e na margem de lucro das unidades - a ideia é que metade das unidades sejam reformadas até o final do ano e ter todas as lojas renovadas até o início de 2023.

Como ficam as vendas online? As unidades menores também vão dar força para as vendas online do grupo. No último trimestre, o Pão de Açúcar vendeu mais de R$ 400 milhões pela internet, seja por seus canais próprios, seja em parcerias com plataformas como o Mercado Livre. "As lojas menores servem como hub para abastecer essas vendas e as reformadas têm inclusive um espaço para os entregadores", diz Pedro Serra, analista da Ativa Investimentos.

Por que a empresa aposta em lojas menores? O investimento em lojas menores - que exigem menos capital e têm operação mais simples do que as unidades maiores - faz parte do esforço do Grupo Pão de Açúcar para melhorar sua lucratividade, em um contexto de inflação alta e maior disputa pelo bolso do cliente com o avanço dos atacarejos. Nos últimos anos, a empresa vem acabando com o formato de hipermercado e focando em modelos mais rentáveis. No segundo trimestre de 2022, a empresa teve receita de R$ 10,11 bilhões (alta de 9,3% em relação ao mesmo período de 2021), mas prejuízo de R$ 172 milhões.

A avaliação de analistas é de que há espaço para o modelo adotado pelo Pão de Açúcar. O consumidor está fazendo suas compras maiores no atacarejo, mas ainda precisa das compras de última hora e de reposições menores na despensa de casa. Nesse momento, ele procura os mercados de bairro.

O que outras redes estão fazendo? O Pão de Açúcar não é a única rede a apostar em lojas menores mais próximas do cliente. O Carrefour também tem avançado nesse modelo, e a rede Oxxo — uma sociedade entre a mexicana Femsa e a brasileira Raízen, dona dos postos Shell —anunciou a abertura de mais de 300 lojas só no estado de São Paulo.

No caso do Pão de Açúcar, o ajuste de rota representa também um retorno a suas raízes. Após um período de aquisições, a companhia, que é controlada pelo grupo francês Casino, está ficando mais enxuta.

Em 2019, vendeu a Via Varejo (dona das Casas Bahia); em 2020, separou a operação do atacarejo Assaí e neste ano anunciou a venda de 83% das ações da Éxito, varejista forte na Colômbia. Com isso, a meta também é aumentar o valor da empresa na visão do mercado — a avaliação é de que, unidos, os ativos estavam muito baratos. Em 2013, Grupo Pão de Açúcar chegou a valer R$ 48 bilhões na bolsa de valores, em valores corrigidos, segundo dados compilados pela Economática. Hoje a empresa vale cerca de R$ 5 bilhões.

"É quase uma volta às origens", diz Catani, da AGR. O movimento gerou até especulações sobre a possibilidade de volta do empresário Abílio Diniz para o negócio — o Pão de Açúcar foi fundado pelo pai dele. Analistas ouvidos pelo UOL entendem que há poucas chances de isso acontecer por ora.