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Com pandemia, Bolsonaro teve pior PIB desde Dilma; veja comparativo

PIB: IBGE divulga dados do crescimento da economia em 2022, último ano do governo Bolsonaro - Reuters
PIB: IBGE divulga dados do crescimento da economia em 2022, último ano do governo Bolsonaro Imagem: Reuters

Do UOL, em São Paulo

02/03/2023 09h08

O crescimento médio do Brasil nos quatro anos do governo Jair Bolsonaro, de 2019 a 2022, foi um dos piores das últimas administrações. A média foi impactada pela pandemia de covid-19, que teve seu auge em 2020 e 2021.

Como foi o PIB dos últimos anos

O crescimento médio anual do Brasil durante o governo Bolsonaro foi de 1,5%.

O resultado do governo Bolsonaro ficou atrás dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, dos dois de Luiz Inácio Lula da Silva, e da gestão Michel Temer. Ganhou apenas do segundo mandato de Dilma Rousseff (-3,4%).

    Como o cálculo foi feito

    • O cálculo no período Bolsonaro considera os seguintes dados do PIB: 1,2% em 2019, queda de 3,3% em 2020, recuperação de 5% em 2021 e avanço de 2,9% em 2022. O levantamento foi feito por Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro Ibre e pesquisadora sênior da economia aplicada do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

    O que aconteceu para Bolsonaro ter esse resultado

    • A pandemia foi um complicador que outros governos não vivenciaram. A queda do PIB em 2020 foi de 3,3%, puxada principalmente pela redução do setor de serviços, que representa cerca de 70% do PIB.
    • Ao longo de 2022, o governo deu estímulos financeiros para tentar a reeleição, como o auxílio para caminhoneiros e a liberação do FGTS. Com mais dinheiro circulando, maior o consumo e mais difícil fica de frear a inflação.
    • No cenário internacional, Bolsonaro precisou lidar com os impactos da guerra na Ucrânia. Houve aumento dos preços de produtos como petróleo e trigo, pressionando a inflação.

    Aceleramos muito em 2021 e 2022. O governo teve que entrar muito em cena na economia, mas gerou um cenário de déficit para 2023.
    Silvia Matos

    Como foi a economia nos últimos governos

    Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002)

    FHC teve sucesso na frente econômica. Conviveu um bom tempo com juros muito altos, o que desestimula a economia, mas, com a estabilização [da moeda e inflação], conseguiu superar o PIB potencial do Brasil, que gira em torno de 2%. Crescemos 2,5%.
    Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos

    • O Plano Real, o fim da hiperinflação e as reformas feitas pelo governo (como a do Estado) ajudaram o país a ter um crescimento positivo.
    • O governo enfrentou dificuldades como a crise da Rússia e o racionamento de energia em 2001.

    Lula (2003 a 2010)

    Fernando Henrique Cardoso, com o Plano Real, criou as bases que permitiram que Lula aproveitasse esse momento e fizesse o Brasil crescer muito.
    Paulo Henrique Duarte

    • O Brasil cresceu, em média, 3,5% no primeiro mandato de Lula e 4,6% no segundo. Esses foram os valores mais altos dos últimos governos.
    • O resultado foi consequência da herança positiva deixada pelo governo FHC, somado a boas decisões econômicas tomadas pelo governo Lula e um cenário internacional favorável, segundo o analista.
    • Lula continuou as reformas começadas por FHC e também seguiu a mesma política econômica, conseguindo reverter a falta de confiança no país, de acordo com Silvia Matos.
    • O governo enfrentou os impactos da crise de 2008 nos Estados Unidos, mas logo superou a situação.

    Dilma (2011 a 2016)

    Apesar de termos mantido o crescimento em parte do período Dilma, a conta veio do ponto de vista fiscal. Hoje o legado da dívida pública de 70% do PIB é uma consequência do que foi feito no governo Dilma.
    Silvia Matos

    • No primeiro governo, o país teve crescimento médio de 2,4%, menor do que o de Lula, mas nos mesmos patamares de FHC.
    • No segundo mandato, houve uma mudança na condução da política econômica e fiscal, com o governo cada vez mais presente na economia, o que foi negativo para o crescimento do país.
    • A dose de estímulos fiscais e de gastos foi exagerada, segundo Matos. Houve mais atuação do estado, com o BNDES dando mais dinheiro, e um aumento nos gastos públicos.

    Michel Temer (2016 a 2017)

    Embora tenha durado formalmente um ano e meio, foi um período menor na prática. Depois do episódio do Joesley Batista [vazamento de áudio com suspeita de corrupção], Temer não conseguiu fazer mais nenhuma reforma. Mesmo assim, ele trouxe mais equilíbrio. Um crescimento abaixo do potencial, mas voltamos a crescer.
    Paulo Henrique Duarte

    Do ponto de vista econômico, foi um governo muito importante e reverteu o cenário de recessão econômica. Tivemos um Banco Central mais técnico, com Ilan Goldfajn [como presidente], o que gerou uma supercredibilidade, a inflação cedeu bastante.
    Silvia Matos

    • Temer conseguiu reverter o cenário negativo rapidamente. Matos diz que o impeachment, a questão com a JBS e a greve dos caminhoneiros foram alguns dos fatores que dificultaram o governo Temer.
    • O teto de gastos foi criado no governo Temer, e as reformas começaram a ser discutidas na sua gestão, pontos vistos como positivos por Matos.
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    Errata: este conteúdo foi atualizado
    A arte "Evolução do PIB nos últimos anos" publicada com a reportagem informava que o PIB de 1995 teve alta de 0,3%. A taxa de crescimento correta é de 4,2%. A informação foi corrigida.