A história da Tupperware: de rainha dos potes a risco de falência
As ações da marca Tupperware desabaram mais de 90% na Bolsa de Nova York em 12 meses. As receitas estão em queda e empresa, conhecida pelos utensílios de cozinha, está renegociando dívidas.
Como surgiu a Tupperware
A Tupperware foi criada em 1946 pelo engenheiro Earl Tupper. A marca faz parte da Tupperware Brands Corporation, uma multinacional de Orlando, na Flórida (EUA).
O primeiro produto foi uma tigela. Chamada de Tigela Maravilhosa, foi a primeira a ter uma tampa para conservar os alimentos por mais tempo.
Atualmente, está presente em mais de 70 países. Fez sucesso por propor uma opção de plástico leve, flexível e inquebrável.
Também tem marca de cosméticos, a Nutrimetrics, que chegou ao Brasil em 2015.
Modelo de vendas inovador trouxe sucesso para a marca. A Tupperware foi uma das primeiras marcas a adotar as vendas de porta em porta, na década de 1950. A promessa de qualidade dos produtos era tão inacreditável para os consumidores da época que as demonstrações eram necessárias.
Criou as "festas da Tupperware". Nelas, grupos majoritariamente de mulheres vizinhas se encontravam para comprar os produtos. A ideia partiu de Brownie Wise, uma vendedora da marca que se tornou executiva na empresa.
Criou produto com a Nasa para plantar vegetais no espaço. Há cerca de cinco anos, a Tupperware desenvolveu, em parceria com a Nasa, um sistema para criar vegetais na Estação Espacial Internacional. Em 2020, recebeu uma patente pelo produto.
Tupperware no Brasil
A Tupperware chegou ao Brasil em 1976. Em 2016, o país tornou-se o seu maior mercado consumidor.
A marca ganhou espaço de destaque no mercado de utensílios de cozinha de plástico. Alguns dos produtos mais populares são as garrafas d'água, conjuntos de embalagens de armazenamento e potes com tampas vedadoras.
A fabricação é brasileira. Os produtos vendidos no Brasil são feitos em uma fábrica no Rio de Janeiro, com mil funcionários.
Presidente diz que operação brasileira está saudável. "A gente está mais forte do que nunca. A Tupperware Brasil é a maior operação do mundo. A produção está a todo vapor", disse Paola Kiwi, presidente da Tupperware Brasil, em sua página no Facebook. Ela diz que "todas as entregas estão em dia" e que "estamos bombando de vender", afirma.
Pode falir?
A receita da empresa está em queda. Em 2022, as vendas bateram US$ 1,3 bilhão, queda de 18%. O prejuízo foi de US$ 35,7 milhões. Segundo o jornal "Financial Times", em 2013 sua receita era de US$ 2,7 bilhões.
Vendas pelo mundo todo. Cerca de 25% das vendas vêm da Ásia, 24% da Europa, 28% da América do Norte e 23% da América do Sul.
Em 2022, a marca deixou de publicar seu relatório anual destinado à SEC (Comissão de Valores Mobiliários norte-americana). Isso poderia ser um indicativo de que a situação financeira da empresa já não ia bem. Por causa dessa atitude, a Tupperware recebeu uma notificação da Bolsa de Valores de Nova York em abril. Caso a companhia não publique o documento nos próximos seis meses, poderá ter o seu registro na Bolsa cancelado.
A própria marca revelou algumas incertezas sobre a sua continuidade. A Tupperware informou que pode deixar de cumprir algumas cláusulas contidas em contratos de crédito. Isso aconteceria porque ela pode não ter liquidez suficiente para honrar dívidas e continuar suas atividades.
Trabalha para renegociar as dívidas. De acordo com a Bloomberg, a Tupperware está trabalhando com o banco de investimentos Moelis & Co. e a empresa de advocacia Kirkland & Ellis na busca de alternativas para duas dívidas de quase US$ 700 milhões.
Ações caíram com a notícia. O preço da ação chegou a cair para US$ 1,24. O valor de mercado também caiu para US$ 55 milhões; no final de 2020, a empresa chegou a ser avaliada em US$ 1 bilhão.
No último ano, as ações da Tupperware já acumulam uma desvalorização de 70%. Em 12 meses, esse o tombo chegou a 94%.
Marca não conquistou jovens, atraídos pelas chinesas
Concorrência está muito forte. Muito da perda da popularidade da marca se deu pela saturação do mercado, aponta Eduardo Yamashita, diretor de operações da Gouvêa Ecosystem, consultoria especializada em consumo e varejo. No passado, as vendas porta a porta e a diferenciação do material eram pontos fortes, mas não são mais.
Empresa não evoluiu. A especialista em vendas diretas, Marcela Queiroga, conta que a Tupperware não acompanhou seus consumidores. "A Tupperware depende muito da ação de influência de sua rede de consultoras."
Comércio eletrônico não consegue atrair os clientes. O site tenta reproduzir o catálogo das vendedoras, mas não consegue nem atrair clientes tradicionais da marca, que ainda estão ligadas à abordagem por meio das consultoras, nem novas clientes, principalmente as mais jovens, que estão constituindo novas famílias. Yamashita também aponta que o tipo de produto não é rentável para o e-commerce.
Tupperware não conquistou as casas dos consumidores mais jovens. Os especialistas concordam que a marca tem dificuldades em se conectar com o público mais jovem, que já não vê os potinhos como relíquias para ter em casa.
As empresas chinesas dominam esse espaço. Os consumidores mais jovens são mais impactados pela estratégia digital de empresas chinesas, diz Queiroga.
Os produto são bons, não quebram e novas vendas demoram. Os produtos Tupperware duram muito e a recompra demora para acontecer, afirma Queiroga.
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