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Existe vacina que ajuda a prevenir câncer, e pessoas não tomam, diz MSD

Do UOL, em São Paulo

24/04/2023 14h40

A população já tem à sua disposição uma vacina que ajuda a prevenir o câncer, que é a do HPV, mas muitas pessoas deixam de tomá-la. É o que diz o presidente da farmacêutica MSD no Brasil, Hugo Nisenbom, em entrevista ao UOL Líderes. Segundo ele, a posição política está influenciando na decisão das pessoas de tomarem ou não vacinas.

O que ele disse

Vacina de HPV e a prevenção contra o câncer. Ao ser questionado sobre as pesquisas da MSD para uma vacina contra o câncer, o executivo disse que a população já tem acesso a uma vacina que ajuda a prevenir contra o câncer, que é a do HPV, mas que muitas pessoas ainda deixam de tomá-la. O vírus está associado ao câncer do colo de útero. Além da vacina do HPV, a MSD estuda uma vacina contra o câncer de pele.

Vacinação e posicionamento político. O executivo também comentou a redução nas taxas de vacinação no Brasil. Para ele, o isolamento social e as fake news contribuíram para essa redução. Ele também disse que as pessoas começaram a pensar em vacinação com base em seu posicionamento político.

Remédio para covid-19 fora do SUS. O governo decidiu não incorporar o remédio molnupiravir, contra a covid-19, à lista do SUS. Nisenbom disse que a MSD pretende recorrer da decisão. Segundo ele, o remédio já é usado em diversos países e é importante no tratamento de pessoas dos grupos de risco.

O molnupiravir e as variantes da covid. Um estudo preliminar realizado por pesquisadores do Reino Unido levantou a suspeita de que o molnupiravir poderia levar ao desenvolvimento de novas variantes da covid-19. Questionado sobre isso, Nisenbom disse que não há evidências de correlação entre o uso do remédio e o surgimento de variantes do vírus e que, se houvesse, a empresa retiraria o produto do mercado.

Potencial do mercado de pesquisas no Brasil. O executivo também falou sobre as oportunidades em pesquisas no Brasil. Ele diz que esse é um mercado promissor, mas reclama de algumas regras atuais do segmento.

Ouça a íntegra da entrevista no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube. Veja a seguir destaques da entrevista:

Vacina que ajuda a prevenir o câncer

Temos uma vacina contra o câncer, que é a vacina do HPV. O vírus do HPV está correlacionado com o câncer de colo de útero. O ideal era que, se todo mundo se vacinasse, e a gente pudesse erradicar o câncer de colo de útero. Mas ainda há pessoas que têm a vacina contra o câncer, que é o que sempre sonhamos, e não vão se vacinar.

O HPV está relacionado a cerca de 95% dos casos de câncer de colo de útero, e também pode levar a outros tipos de câncer, segundo a OMS. A vacina contra o HPV está disponível no SUS, mas a vacinação está abaixo do esperado. O índice de vacinação em 2022 chegou a 57% no caso das meninas e não passou de 40% no caso dos meninos. O ideal para prevenir a doença é uma cobertura de 90%.

Posição política e vacinação

Pelo foco na Covid, pelo isolamento e por vários outros motivos, como fake news, as taxas [de vacinação] caíram no Brasil e em vários países. Minha sensação é de que no mundo todo as pessoas, pelo posicionamento político, começaram a pensar se se vacinam ou não se vacinam. Quando a gente sai da ciência para entrar na política a gente pode cometer erros. A gente viu a erradicação da poliomielite, a erradicação do sarampo, e a gente viu em alguns países elas voltarem porque as pessoas não se vacinaram.

Remédio contra a covid-19 fora do SUS

Acreditamos que [o molnupiravir] é uma ferramenta valiosa, especialmente para o grupo de pacientes em risco. Esses pacientes não podem correr o risco que a enfermidade progrida à fase inflamatória, porque depois vêm as complicações. A ideia é, em algum momento, apresentar isso de novo para que seja de acesso a toda a população.

Questionada sobre o tema, a MSD disse que não irá recorrer da decisão por ora, pois a empresa entende que o cenário de covid-19 está controlado no Brasil no momento.

Variantes do vírus da covid

Sabemos que ele [o molnupiravir] foi efetivo tanto para diminuir as mortes como as hospitalizações. E sabemos que o produto trabalha fazendo o vírus cometer erros e não permitindo que ele se replique. O estudo não pode correlacionar esses fatos [o uso do remédio com o surgimento de mutações do vírus]. Não há evidências científicas e, se houver, a gente retiraria o produto do mercado.

O estudo em questão foi publicado em janeiro em versão preliminar e ainda precisava passar por revisão da comunidade científica. O assunto foi abordado pela revista científica Science em fevereiro. A venda do molnupinavir em farmácias do Brasil foi aprovada pela Anvisa em dezembro de 2022.

Potencial do mercado de pesquisa

A pesquisa é uma indústria de enorme oportunidade para o Brasil. O Brasil está perto do 10º lugar entre as economias do mundo, mas no mercado de pesquisa estamos em 20º e tantos. Isso tem a ver com certas regulamentações. Por exemplo, quando você faz uma pesquisa, tem que dar o remédio para o paciente para o resto da vida. É muito difícil de sustentar isso.

Atualmente uma resolução do Ministério da Saúde prevê o fornecimento gratuito de medicamentos aos participantes de pesquisas clínicas, conforme critério do médico.

Quem é Hugo Nisenbom

Local de nascimento: Argentina

Cargo atual: Presidente da MSD Brasil

Cargos de destaque na carreira: Diretor na Schering Plough Argentina, Presidente da IFI-Promesa, entidade do setor farmacêutico no Equador, e vice-presidente da Câmara Venezuelana do Medicamento (Caveme).

Formação: Bacharel em Farmácia na Universidade Nacional de Rosário (Argentina), mestrado em Bioquímica, doutorado em Filosofia e PhD em Bioquímica na Universidade de Buenos Aires (Argentina), programa de gestão na Columbia Business School (EUA).

O que é a MSD

A MSD foi fundada em 1891 nos Estados Unidos com o nome de Merck & Co. Em 1953, houve a fusão com a Sharp & Dohme, criando a MSD, sigla para Merck Sharp & Dohme. A empresa continua conhecida como Merck nos Estados Unidos e no Canadá.

Funcionários: 1.900 no Brasil e 74 mil no mundo

Faturamento:

2022: US$ 59 bilhões

2021: US$ 48 bilhões