Queda do dólar vai durar? Especialistas analisam revalorização do real
A notícia de que o dólar oscila em torno de R$ 5, depois de sofrer uma das maiores desvalorizações do mundo durante a pandemia, anima os atores econômicos no Brasil. Em três meses, a moeda brasileira passou de R$ 5,80 para o valor simbólico de R$ 4,99 na semana passada — um reflexo da recuperação econômica mundial, que impacta no Brasil, aliada a condições favoráveis no país.
No acumulado do ano, o real se valorizou 3,2% em relação ao dólar. O desempenho a coloca na 12ª posição num ranking de 120 moedas que mais tiveram alta em relação à moeda americana — justamente o oposto do verificado em 2020, quando a divisa brasileira esteve entre as que mais despencaram. Os dados foram compilados pela agência de classificação de riscos Austin Rating.
Uma série de fatores conjunturais explica essa movimentação. No plano internacional, a China, em plena retomada, registra alta da demanda por commodities, o que elevou os preços das matérias-primas e beneficia o Brasil, um dos principais exportadores mundiais. Os pacotes de recuperação econômica, em especial nos países desenvolvidos, despejaram liquidez no mercado, enfraquecendo a moeda americana, enquanto os juros permanecem baixos. Há, ainda, a expectativa de redução dos estímulos fiscais nos Estados Unidos, outro fator que conta para desvalorizar o dólar.
"É possível que o real continue se valorizando e caia abaixo de R$ 5 e chegue até R$ 4,50, mas isso é tudo é muito incerto porque depende não só que vai acontecer no Brasil, como no resto do mundo", aponta Pedro Raffy Vartanian, professor de Economia da Universidade Mackenzie.
Taxa de juros em alta no Brasil
No plano interno, é principalmente a elevação progressiva da taxa básica de juros que traz de volta investidores que tinham deixado o Brasil em busca de mercados mais rentáveis. Este cenário tende a permanecer até o fim do ano, já que a Selic pode passar dos 2%, no primeiro trimestre, para 5,5% ou até 7% ainda em 2021. A expectativa de câmbio em queda também tem atraído de volta para o país dinheiro de brasileiros depositado no exterior.
Além disso, as notícias positivas sobre a volta do crescimento econômico e a perspectiva de uma plena recuperação da balança comercial e do fluxo cambial este ano contribuem para um certo otimismo em relação ao país.
"A interpretação é que a economia brasileira já piorou tudo que tinha para piorar. Daqui para a frente, ela deve melhorar, ainda que lentamente", avalia Flávio Fligenspan, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "O cenário, do ponto de vista de PIB, de crescimento, expansão de emprego etc, é horrível ainda. A questão é: é horrível e vai piorar ou já piorou tudo que tinha para piorar? Aí, podemos ser, entre muitas aspas, otimistas. Agora a gente vai voltar àquele ritmo medíocre de crescimento de 1% que estávamos vendo em 2017, 2018 e 2019", explica.
O avanço da vacinação reforça a expectativa da retomada, ante à possibilidade de plena reabertura das atividades e da aceleração do programa de liberalização do ministro Paulo Guedes - que também devem contribuir para novos recordes na bolsa brasileira, nos próximos meses.
"Temos a agenda de reformas, que resultou na reforma da previdência, ficou paralisada lá atrás e agora volta a ser discutida, além das possibilidades de privatizações que tendem a atrair investidores estrangeiros para o país. Essa combinação de fatores têm sido responsáveis pela valorização do real", indica Vartanian.
O relativo controle das contas públicas até o momento, no contexto de emergência sanitária, também favorece a conjuntura nacional. No entanto, esse problema fiscal ainda não foi encarado de maneira a trazer segurança para uma maior confiança na economia do país, complementa Pedro Vartanian.
"Nós temos uma questão fiscal que, a despeito de o crescimento econômico favorecê-la, o governo ainda terá um longo caminho para solucioná-la. Isso pode, inclusive, afetar essas expectativas a qualquer momento", ressalta o professor da Mackenzie.
Câmbio ideal
Os dois especialistas frisam que o real é uma das moedas mais voláteis entre os países emergentes, suscetível a quaisquer mudanças no cenário externo. Uma modificação na política monetária nas nações desenvolvidas, por exemplo, interromperia instantaneamente esse processo de valorização da divisa brasileira. Grandes bancos estrangeiros, como o americano Barcleys, recomendam atualmente investimentos em reais - sinalizando que a valorização da moeda brasileira deve permanecer.
"Quem trabalha com os modelos econométricos diz que a economia brasileira não teria por que ter uma taxa de R$ 5 por dólar ou mais. Poderia até ser algo mais perto de R$ 4,60, R$ 4,80. Os fundamentos nos indicariam que deveríamos estar perto deste número", salienta Fligenspan. "A R$ 5,80 era um superexagero, que tinha muito a ver com a taxa de juros baixa demais para o nosso padrão, e R$ 5 ainda é uma taxa relativamente alta", afirma.
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