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Sabão de coco, pistola de névoa: a limpeza de aviões contra coronavírus

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/08/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Com pandemia, higienização dos aviões passou a ser mais criteriosa
  • Há 3 tipos de higienização das aeronaves: limpeza, desinfecção e descontaminação
  • Ar das cabines dos aviões é renovado com frequência
  • Pistolas eletrostáticas ganharam espaço no processo de higiene

Mesmo com a redução drástica no nível de atividades, o setor da aviação não parou e teve de enfrentar novos desafios diante da pandemia da covid-19. Um dos principais é a retomada da confiança na segurança sanitária dos voos frente aos riscos de contaminação envolvidos.

Mais do que oferecer álcool em gel no embarque, na cabine e nos banheiros, os aviões tiveram seus procedimentos de limpeza revistos nos últimos meses, em acordo com orientações internacionais e determinações da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Hoje, com todo o fluxo de higienização e reciclagem do ar dentro de um avião, a chance de contaminação é mínima.

Tipos de higienização

Existem tipos de higienização específicos para cada situação, desde um processo mais simples até mais complexos, que dependem da interdição da aeronave. São eles: a limpeza, a desinfecção e a descontaminação.

A necessidade de cada um é determinada pela fase do voo, o tipo de sujeira, superfície e periodicidade —como a cada escala, pernoite ou durante o próprio voo mesmo. Cada procedimento tem uma superfície e um momento para ser feito. Por exemplo, a limpeza das mesas e dos braços das poltronas deve ser realizada a cada escala, usando pano e um detergente. Já a desinfecção de janelas e do bagageiro pode ser feita no pernoite, usando químicos específicos.

Nesses procedimentos, são usados desde detergentes e sabão de coco, passando por químicos como quaternário de amônio e hipoclorito de sódio, chegando até a compostos que liberam cloro ativo e paraformaldeído, um tipo de desinfetante hospitalar. A forma de aplicar cada um desses produtos e quando devem ser aplicados são regulados pela Anvisa e pelos fabricantes dos aviões, buscando evitar a deterioração dos componentes das aeronaves.

Pistola eletrostática

Pistola eletrostática - Divulgação/Delta - Divulgação/Delta
A pistola eletrostática é uma das tecnologias que ganhou espaço durante a pandemia
Imagem: Divulgação/Delta

Uma outra técnica de limpeza que cresceu durante a pandemia foi a utilização de pistolas eletrostáticas e outros tipos de máquinas nebulizadoras. Elas geram uma névoa de produtos químicos dentro do avião, que ficam suspensos no ar e aderem a todas as superfícies, inclusive os cantos de difícil acesso.

Outra função desses equipamentos é garantir que os desinfetantes nebulizados circulem por dentro do sistema de climatização, ajudando a fazer a limpeza interna desses dutos. Esse método, porém, é utilizado com menos frequência, e só deve ser realizado estando de acordo com as recomendações do fabricante do avião.

Ar sempre limpo

O ar dentro de um avião costuma ser renovado constantemente, além de passar por filtros do tipo Hepa, sigla que significa "High Efficiency Particulate Arrestance" (Detenção de partículas de alta eficiência). Esse é o mesmo tipo utilizado em hospitais, e você pode conferir mais informações sobre seu funcionamento nessa outra matéria do blog.

A Anvisa também determinou que, sempre que possível, o sistema de climatização dos aviões comerciais deve ser ligado sem realizar a recirculação do ar, ou seja, com maior renovação possível. A maneira como o ar flui dentro da cabine também diminui o risco de contágios por vírus e bactérias: ele sempre circula de cima para baixo, e é capturado para ser filtrado ou descartado. Com isso, dificilmente o ar passa de um passageiro para outro.

O tempo de renovação do ar também auxilia na redução do risco de contágio. Um avião de grande porte, por exemplo, costuma ter todo seu ar renovado a cada cerca de três minutos. Já num modelo menor, como o King Air C90GTx, usado para táxi-aéreo e com capacidade para até oito ocupantes, o ar é completamente renovado a cada 20 segundos.

Aviação executiva

limpeza de jato executivo - Alexandre Saconi/UOL - Alexandre Saconi/UOL
Jato executivo: pelo menos 4h com ar circulando antes de começar limpeza
Imagem: Alexandre Saconi/UOL

Aviões da aviação executiva costumam levar, em geral, menos passageiros que um voo comercial, além de ficarem mais tempo em solo entre suas operações. Com isso, essa modalidade surge como alternativa para se proteger de contágio, apesar do elevado custo quando comparada com a aviação comercial.

Segundo Cynthia C. E. de Oliveira, diretora de atendimento da Líder Aviação, os aviões executivos da empresa permanecem pelo menos quatro horas abertos com o ar circulando antes de as equipes começarem a limpeza.

Os materiais a serem utilizados também seguem as mesmas normas estabelecidas para a aviação comercial, e cada um tem uma superfície específica para ser aplicado. "Alguns produtos podem estragar o couro dos bancos, por exemplo; já outros não podem ser aplicados nas superfícies eletrônicas, como os painéis da cabine de comando", disse Cynthia.

A Anvisa ainda define que operadores de táxi-aéreo com menos de 19 assentos devem disponibilizar álcool em gel 70% nas aeronaves. Os aviões também não podem recircular o ar nos sistemas de climatização, e, caso um dos passageiros seja sintomático, todos a bordo deverão usar, no mínimo, máscara cirúrgica.

*Fontes consultadas: Azul Linhas Aéreas; Copa Airlines; Cynthia C. E. de Oliveira, diretora de atendimento da Líder Aviação; Danilo Andrade, diretor de segurança operacional da Gol; Miguel Angelo Rodeguero, diretor de segurança operacional da AOPA Brasil (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves); TAM Aviação Executiva.