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REPORTAGEM

Colisão com fio, vidro embaçado: dúvidas sobre avião de Marília Mendonça

A cantora Marília Mendonça, morta em acidente de avião  - Reprodução/ Instagram @mariliamendoncacantora
A cantora Marília Mendonça, morta em acidente de avião Imagem: Reprodução/ Instagram @mariliamendoncacantora

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/11/2021 20h09Atualizada em 07/11/2021 09h25

Há várias especulações sobre o acidente do avião que matou a cantora Marília Mendonça e mais quatro pessoas, mas o resultado da investigação oficial deve demorar meses.

Veja a seguir as principais questões sobre problemas técnicos do voo e do avião a serem esclarecidas.

Colisão com fio de alta tensão

Horas após o acidente, a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) informou que o bimotor atingiu um cabo de uma torre de distribuição de energia da empresa em Caratinga.

Especula-se que isso possa ter contribuído para a queda, embora o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão responsável pela investigação do acidente, ainda não tenha analisado essa possibilidade.

A Cemig emitiu nota neste sábado (6), afirmando que a linha de distribuição atingida pela aeronave está fora da zona de proteção do aeródromo de Caratinga. A zona de proteção é uma região onde não podem ser construídos ou montados obstáculos acima de certa altitude para não interferir nos voos.

Cemig - Divulgação/Cemig - Divulgação/Cemig
Cemig divulgou imagem na qual mostra local onde avião com Marília Mendonça colidiu com linha de energia
Imagem: Divulgação/Cemig

Caixa-preta

Segundo a Aeronáutica, o avião que caiu em MG não tinha caixa-preta, que é o equipamento que grava as informações de voo e o áudio na cabine. Segundo o tenente-coronel Oziel Silveira, comandante do SERIPA III (3º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), investigador chefe do acidente, embora não seja obrigatório, os proprietários podem optar por incluí-la nos aviões.

Documentos e outros materiais relativos à aeronave foram recolhidos para fins de investigação. Aguarda-se que ela seja retirada do local ainda neste sábado (6) para ser levada ao aeroporto onde deveria ter pousado.

Para-brisa e outras denúncias sobre táxi aéreo

Em junho deste ano, o Ministério Público Federal em Goiás encaminhou à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) denúncias contra a PEC Táxi Aéreo, empresa que operava o voo da cantora.

Entre elas, uma informação de que o mesmo avião que caiu em Mina Gerais, de matrícula PT-ONJ, apresentava problemas com o para-brisa desde o começo do ano. O para-brisa ficava embaçado e tornava a visibilidade reduzida, atrapalhando pousos e decolagens, segundo a denúncia.

O caso foi arquivado após a agência informar que o problema havia sido corrigido. Ainda assim, segundo um dos manuais do fabricante do modelo, um King Air C90A, o sistema de aquecimento do para-brisa, que evitaria esse embaçamento, não era item obrigatório, a não ser em condições nas quais possa ser formado gelo naquela superfície.

No mesmo documento, foram relatadas outras denúncias, como a de que a empresa teria instalação precária de macas e cabeamento de oxigênio nos aviões, assim como problemas com a limpeza, o que se torna um problema maior com transporte de pacientes com Covid-19.

Também é apontado que a empresa, supostamente, não respeitaria as folgas dos pilotos, e que teria ganhado licitações de maneira irregular. Por fim, ainda é apontado que a empresa não respeitaria que cada piloto pernoitasse nos destinos para onde voam em quartos individuais.

A PEC Táxi Aéreo está sendo procurada pelo UOL desde sexta-feira, mas não respondeu. Questionado pelo UOL, o MPF também não comentou até a publicação deste texto.

Construções irregulares próximas ao aeroporto

Segundo dados da FAB (Força Aérea Brasileira), há, pelo menos, dois obstáculos não iluminados que violam a zona de proteção do aeroporto nas proximidades. Um deles é identificado como uma torre, aparentemente de energia, segundo imagens do Google Street View do local apontado pela FAB.

Outro objeto é uma antena, que seria de telefonia celular. Por fim, a FAB ainda aponta que o morro onde esses objetos estão não teria iluminação adequada para orientar os pilotos sobre o perigo de se voar nas proximidades.

Todos eles estão em áreas proibidas, dentro da zona de proteção do aeroporto, onde obstáculos mais elevados (como prédios, antenas, gruas etc.) são proibidos de serem erguidos. Esses objetos foram reportados por pilotos recentemente e passaram a constar nas recomendações de atenção para quem for pousar ou decolar em Caratinga em julho e setembro deste ano.

Avião estava em dia, segundo Anac

Mendonça - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Avião que levava a cantora Marília Mendonça após cair em Minas Gerais
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Segundo a Anac, o avião estava em situação regular e tinha autorização para realizar serviços de táxi aéreo. O Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA), documento que garante que o avião cumpria as exigências técnicas para voar e tinha a manutenção em dia, era válido até 1º de julho de 2022.

O modelo, um King Air C90A, foi comprado em julho de 2020 pela empresa. O avião foi fabricado em 1984, e tinha capacidade para transportar até seis pessoas.

Aeronáutica irá investigar

Em nota, o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) informou que já iniciou a investigação do acidente. Em um primeiro momento, são feitas fotografias do local e dos destroços, partes da aeronave são retiradas para análise, reúnem-se documentos, além de se ouvirem relatos de testemunhas.

Não há um prazo para a investigação ser encerrada, pois isso depende da complexidade de cada caso. Diferentemente de uma investigação criminal, onde se procuram culpados pelos acidentes, a investigação promovida pela Aeronáutica visa apenas a identificar os problemas que ocasionaram o acidente e evitar que outros com características semelhantes ocorram.

Apenas o órgão irá definir, oficialmente, o que ocorreu e as causas da queda do avião.