Como é o combustível de um avião? Quanto custa? O mais popular é o querosene de aviação, e há uma surpresa com relação ao seu valor: a gasolina dos carros está muito mais cara: 67% a mais que o querosene.
O litro do QAV (querosene de aviação) era vendido ao consumidor final por uma média de R$ 3,787 em outubro. No mesmo período, a gasolina comum dos carros custava R$ 6,341 na bomba. Os dados são de levantamento nacional da ANP (Agência Nacional do Petróleo). Esses números são uma média, e podem ser encontrados valores maiores e menores.
Normalmente, a gasolina dos carros é mais cara mesmo que o querosene dos aviões. Mas a diferença ficou muito grande nos dois últimos anos. Em outubro de 2020, a diferença média foi alta também (78%). Mas em outubro de 2019, era de 48%. Em novembro de 2018, estava em 32% (outubro de 2018 não está disponível no site da ANP).
O combustível de aviação é um produto cercado de peculiaridades que o diferenciam do combustível de um automóvel. Ele precisa ser capaz de operar em ambientes com temperaturas que vão desde os -50º C em voo até mais de 40º C no solo, entre outras características.
Outro combustível também utilizado na aviação, mas, geralmente, em aviões de menor porte, é a gasolina de aviação (GAV ou AVGas), produto mais processado e com características diferentes da gasolina comum.
Confiabilidade
Embora não seja possível uma comparação direta entre os dois derivados de petróleo, já que os tipos de subproduto são diferentes, é importante frisar que o combustível de avião tem de passar por critérios mais rigorosos de produção. Sua confiabilidade tem de ser mais elevada, já que não dá para parar um avião no acostamento quando o motor engasgar.
Ainda é preciso lembrar que um carro possui um tanque com cerca de 50 litros de capacidade, enquanto um Airbus A380, o maior avião de passageiros do mundo, consegue transportar até 320 mil litros de combustível. Por isso, cada centavo conta na hora de baratear o custo de uma operação aérea.
Tipos
Os principais tipos de combustível de aeronaves são o querosene (ou QAV - Querosene de Aviação), a gasolina (GAV ou AVGas).
Há ainda o uso de etanol, além de estarem sendo feitos testes para aviões movidos a eletricidade, hidrogênio e alguns combustíveis sustentáveis, chamados de SAF (Sustainable Aircraft Fuels - combustível sustentável de aeronaves), que reduzem a emissão de gás carbônico desde a produção até a queima.
O querosene de aviação é, geralmente, utilizado em aviões comerciais grandes e turboélices, e a gasolina, em aviões menores, como aqueles a pistão. O etanol, como o do carro, por sua vez, é o combustível do avião agrícola Ipanema, da Embraer.
Impacto no valor das passagens aéreas
Segundo a Abear (Associação Brasileira de Empresas Aéreas), não há uma relação linear entre o aumento do preço dos combustíveis e o valor da passagem aérea, havendo vários fatores que influenciam na formação desse preço e cada empresa tem sua estratégia própria.
Entretanto, combustível e lubrificantes representam em média 30% dos custos das companhias aéreas no Brasil, fatia que caiu para 25% entre 2020 e o primeiro semestre de 2021 com a realização de menos voos no período.
Esse valor somado a outros, como leasing e manutenção dos aviões, chegam a 50% dos custos e despesas da empresas, e todos eles são vinculados ao dólar, que vem batendo recordes consecutivos de alta.
Junto a isso, no Brasil é cobrado ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os combustíveis para voos domésticos dentro do país, prática inexistente em outras regiões, segundo a Abear.
De acordo com a associação, isso explica o motivo de algumas vezes uma viagem internacional ser mais barata do que uma dentro do Brasil, considerando distâncias similares. Somados, esses fatores tornam o custo do combustível no país cerca de 40% maior que a média mundial.
O querosene de aviação registra uma alta acumulada em 2021 maior que a da gasolina de automóveis e do gás de cozinha (GLP - Gás Liquefeito de Petróleo).
Enquanto o QAV aumentou 47,7% entre 4 de janeiro e 25 de outubro, a gasolina aumentou 43,5% e o gás 36,1%.
Os valores registrados no segundo trimestre de 2021 foram 91,7% maiores em relação ao mesmo período de 2020. Assim, mesmo que o aumento no preço do combustível não se reflita, imediatamente, no aumento da passagem, ele pesa sobre as empresas que, com o tempo, devem repassar isso aos clientes.
Impacto em voos longos é menor
O intervalo em que um avião começa a decolar até atingir sua altitude de cruzeiro é o que mais consome combustível em comparação com outras etapas.
Assim, voos mais curtos, onde esse período representa uma fração maior do voo, costumam ser mais impactados com o aumento no preço do combustível.
Segundo Ruy Amparo, diretor de Segurança e Operações de voo da Abear, os voos mais longos se tornam mais eficientes por alguns motivos. Um deles é o fato de os aviões terem melhor desempenho em altitudes mais elevadas, onde é possível voar mais rápido com uma mesma quantidade de combustível em relação a um voo mais próximo ao solo.
Assim, aviões que chegam a essa altitude, considerada de cruzeiro, poderão economizar na queima de combustível. "Em voos curtos (como a ponte aérea Rio-São Paulo, por exemplo), um Airbus A320 não chega a atingir sua altitude máxima, enquanto em um voo de Guarulhos (SP) a Fortaleza (CE) é possível fazer boa parte do voo de cruzeiro nesta altitude para reduzir o consumo", diz Amparo.
Nesse mesmo sentido, grandes terminais aéreos, como São Paulo, possuem rotas de saída e chegada dos aeroportos que não são em linha reta com os destinos dos voos, sendo necessário fazer algumas curvas e voar um pouco mais para chegar ao destino. "Em um voo curto, esse consumo maior induzido pesa mais do que em um voo mais longo", afirma Amparo.
Dessa maneira, voos mais longos acabam sempre consumindo menos combustível na média da hora de voo do que voos mais curtos, o que, em caso de aumento do QAV, pode acabar refletindo no valor da passagem.
Gasolina do carro serve no avião?
A gasolina do carro tem algumas diferenças fundamentais em relação àquela utilizada no avião. Embora existam estudos para se utilizar o combustível do carro em alguns tipos de avião menor, os dois líquidos se distinguem pelo uso ou não de chumbo e na octanagem, que é, de maneira simplificada, a capacidade de resistir à compressão dentro do motor.
No caso do avião, há presença de chumbo, e a octanagem é maior, o que impossibilita seu uso adequado em um carro, já que poderia danificar alguns componentes. Do contrário, a gasolina dos automóveis pode, eventualmente, não ter um desempenho satisfatório em um avião, colocando a segurança do voo em risco.
Querosene
Quanto ao querosene de aviação, ele é bem diferente daquele de uso doméstico.
Motores a reação, como os jatos e turboélices, usam o QAV, que é subdivido em alguns tipos. Os principais são o JET A e o JET A1, que têm algumas diferenças quanto ao ponto de congelamento. Mais comum no Brasil, o JET A1 tem ponto de congelamento a -47º C, enquanto o JET A congela a -40º C.
Esse número é importante, tendo em vista que um avião comercial de grande porte costuma voar com uma temperatura externa que pode chegar a -50º C. O JET A foi aprovado no mês passado para uso no Brasil, o que pode aumentar a oferta de combustível de aviação e, eventualmente, baixar o preço.
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