Esta é uma parte da newsletter Todos a Bordo enviada hoje (28). Na newsletter completa, apenas para assinantes, você ainda lê uma análise mais aprofundada sobre como o Comac C919, novo avião de passageiros de grande porte fabricado na China, pode ameaçar o domínio da Boeing e da Airbus nesse segmento, um comparativo entre o modelo e seus principais concorrentes, além de uma curadoria de outras notícias de aviação. Quer receber a edição completa no seu email toda quarta-feira? Clique aqui.
A China está prestes a dar um grande passo em sua indústria aeronáutica. O avião de passageiros Comac C919 concluiu todos os testes e está apenas aguardando obter a certificação final das autoridades chinesas para ser entregue às companhias aéreas e começar a sua operação comercial.
Essa é uma etapa meramente burocrática, pois todos os voos de teste nas seis unidades prontas foram encerrados em julho.
Agora, a fabricante Comac (Commercial Aircraft Corporation of China - Corporação de Aeronaves Comerciais da China) aguarda a liberação do governo para entregar a primeira unidade à China Eastern Airlines.
Segundo a empresa, já são 815 pedidos da aeronave feitos por 28 empresas mundo afora.
Com a entrada em operação, o C919 irá consolidar a China e a Comac como a terceira potência na fabricação de aviões de grande porte, ao lado da norte-americana Boeing e da europeia Airbus. O modelo irá competir diretamente com as famílias do Boeing 737 e o do Airbus A320, que possuem capacidade e autonomia similares.
Além do C919, avião de fuselagem estreita e corredor único para até 174 passageiros, a Comac também fabrica o Advanced Regional Jet ARJ21, jato regional para até 105 passageiros, e desenvolve em parceria com a Rússia o C929, avião de fuselagem larga para até 280 passageiros.
Fatia de mercado: Hoje, a China é um dos maiores consumidores de aviões comerciais de grande porte do mundo. Com o aumento da demanda ano a ano, a chegada de um novo concorrente pode jogar um balde de água fria nas fabricantes tradicionais.
Segundo a Boeing, até 2040, a China precisará de mais 8.700 aviões comerciais nas frotas de suas empresas, um montante de US$ 1,47 trilhão (R$ 7,5 trilhões) no período.
Até 2030, há a expectativa de que apenas o mercado doméstico de voos da China ultrapasse a quantidade de voos realizados dentro da Europa. Apenas jatos de fuselagem estreita devem representar 6.500 entregas, de acordo com a fabricante norte-americana.
Um dos indicativos dessa fome dos chineses pelo mercado pode estar na decisão do governo daquele país em ser o primeiro a proibir voos das aeronaves 737 Max após o acidente com o avião da Ethiopian Airlines em março de 2019. Mesmo tendo sido liberado para voar desde o fim de 2021 pelas autoridades locais, até hoje o avião não retomou a mesma quantidade de voos realizados antes da proibição.
Sobre o preço, o C919 praticamente dobrou de valor desde o começo do projeto. Inicialmente, o seu custo seria a partir de de US$ 50 milhões (R$ 255 milhões) a unidade.
Atualmente, esse valor já é especulado estar acima de US$ 100 milhões (R$ 511 milhões). Dessa maneira, o preço unitário se aproxima dos concorrentes diretos da Boeing e da Airbus, com valores em torno de US$ 110 milhões (R$ 562 milhões).
Confiança e fornecedores internacionais: O alvo inicial dos C919 é o mercado interno da China, mas não existe oficialmente nenhuma restrição para a venda para outros países.
A companhia mantém uma retaguarda de fornecedores internacionais, muitos deles são os mesmos das gigantes do setor.
São empresas como a alemã Liebherr, fabricante de peças aeronáuticas, e as norte-americanas Eaton, responsável pelos sistemas hidráulicos e de transporte de combustível, e Honeywell, que fornecerá desde freios, rodas e sensores até os sistemas de piloto automático e controle de voo.
Os motores serão fornecidos pela CFM. Essas empresas também são fornecedoras da Boeing e da Airbus.
De acordo com Shailon Ian, engenheiro aeronáutico e presidente da consultoria Vinci Aeronáutica, a confiabilidade dependerá dos padrões de certificação. "Se eles seguirem critérios ocidentais, em tese, [o avião] terá a mesma confiabilidade. Mas só saberemos depois de começar a operação", afirma Ian.
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