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A saga empreendedora da arqueóloga Niède Guidon revelou riquezas do Piauí

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

17/04/2015 06h00

Se você mesmo fizer uma enquete para saber quantas pessoas conhece que desejariam viajar para o Piauí, um dos Estados mais pobres do país, ficaria desapontado. Se questionar quantos já foram para lá, o resultado, provavelmente, seria ainda mais desalentador.

Afinal, por que visitar o Piauí? Este Estado nordestino, com aproximadamente 3,2 milhões de habitantes, possui a menor costa litorânea do Brasil – 66 km. Não tem praias famosas. Sua capital não é litorânea. Teresina fica no interior, às margens do rio Parnaíba, apesar de ter se desenvolvido bastante nas últimas décadas, tem fama de ser muito quente. O clima no Estado, dependendo da região, é tropical e semiárido.

Mas o Estado possui um dos únicos deltas do mundo – o do rio Parnaíba – que possui cinco bocas, sendo quatro no Estado do maranhão e uma no Piauí – a do Rio Igaraçu. O delta tem 73 ilhas, com uma diversidade de paisagens impressionante com igarapés, mangues e até dunas.

Mais recentemente, graças a esforços de outros desbravadores que estão escrevendo sua história no ecoturismo piauiense, como Morais Brito - um dos pioneiros a oferecer diversos roteiros mostrando a incrível e maravilhosa diversidade de paisagens da região - um pouco mais de turistas tem procurado o estado.

O Delta do Parnaíba é um patrimônio natural. A ele se acrescentam no Piauí um patrimônio cultural de valor inestimável, sobretudo os sítios arqueológicos da Serra da Capivara. Nesta serra se encontram mais de 40 mil pinturas rupestres, destacando-a como o lugar com a maior quantidade no mundo com este tipo de registros.

Registros que permitem conhecer e, possivelmente, reescrever o que se conhece sobre a chegada do homem nesta parte do planeta que são as Américas.

Na altura de 1963 uma jovem brasileira de ascendência francesa - Niède Guidon -, recém-formada pela USP em História Natural sabe da existência de sítio arqueológico situado no município de São Raimundo Nonato, no sudeste do Piauí. Localizada a 525 km de distância de Teresina.

Niède prossegue seus estudos em Sorbonne, e especializa-se em arqueologia pré-histórica. Dez anos depois, começa seus trabalhos de exploração e investigação na região, fazendo parte da Missão Arqueológica Franco-Brasileira.

De lá para cá a sua vida se interligou com a desta região. Graças a sua visão, esforços, luta incansável, ousadia, enfrentando toda sorte de obstáculos (até ameaças de morte), defendeu e conquistou, com o endosso de outros pesquisadores, a transformação da região num parque nacional.

O Parque Nacional da Serra das Capivaras (a partir de 1991 declarado patrimônio cultural da humanidade pela Unesco), com 120 mil hectares, possui ótima infraestrutura, com bastante sinalização. Nesta Serra e ao redor são mais de 1334 sítios arqueológicos. No parque os turistas podem conhecer 172 deles, e 17 possibilitam a visita por cadeirantes.

Afora os sítios arqueológicos e as pinturas rupestres únicas - testemunhas de nossos ancestrais - algumas de 29 mil anos, como as inscritas ao longo de 70 metros no Boqueirão da Pedra Furada, as belezas do local são inúmeras: falésias, cânions, grutas, além do ecossistema de caatinga. Mas que recebe apenas de 20 a 25 mil visitantes por ano.

Ambiente que registra não só a presença dos humanos (há debate sobre a datação e o tipo de achados que recuariam até mais de 60 mil anos), mas também a de espécimes de uma megafauna como os ossos de preguiças gigantes, tigres-dentes- de-sabre e vários animais extintos há milhares de anos.

Pois bem, esta arqueóloga empreendedora fundou e preside a Fundação Museu do Homem Americano – Fundham. Esta Fundação administra e zela pelo Parque,  além do Museu. Este exibe muitas relíquias como um crânio de aproximadamente 10 mil anos. E preserva mais de milhão de peças encontradas na região.

Com 82 anos, seu próximo projeto é o Museu da Natureza, na cidade de Coronel José Dias, com financiamento do BNDES dependente da homologação do aeroporto de Raimundo Nonato. Este parece já estar funcionando, após 10 anos de construção (atrasos devido às irregularidades) para vôos domésticos.

Além de um resort no parque, numa parceria com o arquiteto Alcindo Dell’Agnese, para o qual buscam investidores (além de possível financiamento do BNDES). Parece que o Brasil tem muito trabalho a ser feito para atrair brasileiros e turistas internacionais para este patrimônio universal. Para que valorizem e testemunhem a história do homem americano e o legado desta grande empreendedora!