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Uma semente de guaraná é usada para sete latas da bebida; veja a produção

André Cabette Fábio*

Do UOL, em Maués (AM)

17/12/2013 06h00

Apenas uma semente do fruto verdadeiro de guaraná rende o suficiente para sete latinhas de 350 ml do refrigerante da Antarctica, feito pela Ambev. A empresa alega que a legislação permite essa pequena quantidade e que a bebida ficaria muito forte se fossem adicionadas mais sementes.

São usados 20 mg de sementes de guaraná para cada 100 ml de refrigerante. "A empresa segue a legislação. Se tivesse mais do que essa quantidade [de sementes], o guaraná ia ser amargo demais e ninguém ia aguentar beber", afirma Carlos Eduardo Henriques da Silva, gerente corporativo de desenvolvimento de refrigerantes da Ambev. 

A produção do fruto para o refrigerante demanda de 350 a 400 toneladas de sementes por ano para a Ambev, que compra quase todo o guaraná de que necessita na região de Maués (AM), a 356 km Manaus. A empresa produz anualmente 1,6 bilhão de litros do refrigerante.

O cultivo do guaraná envolve cerca de 2.000 pequenos produtores na região. Um deles é Natanael dos Santos Menezes, 34. Ele começou a cultivar a planta em 2004, a partir de um financiamento de R$ 16 mil, e hoje produz em sete hectares.

No ano passado, colheu 1.100 kg de sementes, que vendeu por R$ 22 o quilo.

Início do processamento do guaraná é feito pelos próprios agricultores

Recomenda-se que o guaraná seja plantado numa proporção de cerca de 500 árvores por hectare. Em condições ideais, cada planta pode produzir anualmente  um quilo de semente dos frutos, afirma a engenheira agrônoma da Ambev Mirian Frota.

As árvores começam a dar frutos a partir do seu segundo ano de plantio, e devem ser substituídas após cerca de 20 anos.

Os frutos vermelhos aparecem em cachos, e apresentam uma polpa branca e farelenta no meio da qual fica a semente escura do guaraná. Quando maduros, eles se abrem parcialmente e lembram um olho.

Francisco Alves Pereira, 60, que produz o guaraná em nove hectares numa área vizinha à de Menezes, recomenda que se retire o mato ao redor das raízes das árvores, e afirma que é necessário podar os galhos depois de cada safra. "O mesmo galho nunca dá [frutos] duas vezes", afirma.

Os próprios agricultores começam a preparar o guaraná para a produção do refrigerante. Primeiro, os frutos da planta são retirados a mão, ou raspando os cachos em grades de ferro.

Para soltar as cascas das sementes, os produtores amassam os frutos com os pés; também é possível utilizar máquinas específicas que moem os frutos.

O material é então colocado em tonéis com água; as sementes se concentram no fundo, enquanto a polpa e a casca flutuam, sendo descartadas.

Torradas, as sementes são vendidas para a Ambev, que as encaminha para depósitos próximos à cidade de Maués, onde podem ser guardadas por até dois anos.

O xarope produzido com as sementes em Manaus, uma das principais bases do refrigerante, é enviado para 22 fábricas espalhadas pelo país.

A Ambev produz 5% de suas necessidades de sementes em 1.070 hectares em Maués – como se trata de região de Floresta Amazônica, 80% da área é preservada e não pode ser utilizada para agricultura.

Até 2021, a empresa planeja passar a produzir diretamente 20% das sementes de que necessita, mas garante que continuará comprando 100% do guaraná produzido em Maués.

"Não queremos produzir tudo nós mesmos, e sim incentivar a produção local", afirma Mirian Frota.

(* O jornalista André Cabette Fábio viajou a Maués a convite da Ambev)