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Reinaldo Polito

Alckmin: picolé de chuchu ou o melhor orador político?

Fábio Braga/Folhapress
Imagem: Fábio Braga/Folhapress

11/11/2014 06h00Atualizada em 11/11/2014 14h00

Afinal, Geraldo Alckmin é um picolé de chuchu ou o melhor orador político do Brasil? Com certeza as opiniões ficarão divididas, principalmente porque há muitos anos esse carimbo de insosso foi reforçado na oratória do governador de São Paulo. Ouvimos pelos quatro cantos que Alckmin é picolé de chuchu, sem vida, ruim de discurso.

Se a sua comunicação é assim tão ruim, como ele conseguiu vencer tantas eleições? Pois é, Alckmin chegou a ser vitorioso em alguns pleitos, mesmo com oratória sem brilho. Cansei de ouvir comentários dizendo que ele deveria fazer um curso de oratória para melhorar seu desempenho na tribuna.

Já fui um crítico da comunicação de Alckmin. No início da campanha presidencial de 2006 fiz uma análise para o "Jornal da Tarde" comparando a comunicação de Alckmin e Lula. Naquela oportunidade, Alckmin patinava nas pesquisas eleitorais enquanto Lula voava acima dos 40%. Portanto, se quisesse mudar o resultado, deveria ter outra atitude.

Escrevi com todas as letras que as apresentações de Alckmin estavam sem vida e sem emoção. Seus discursos eram burocráticos e proferidos como se o orador falasse por obrigação. Enquanto seu oponente era um sedutor de plateias. Até os adversários de Lula se dobravam diante da sua comunicação exuberante.

Por outro lado, reconhecia que Alckmin tinha condições de virar aquele jogo. Era bem preparado, experiente e possuía uma qualidade excepcional –cara de gente séria. Falava com lógica de raciocínio e dominava como poucos dados estatísticos e tinha mais conhecimento sobre determinadas questões brasileiras que o próprio presidente.

Esses predicados, entretanto, não eram suficientes para vencer um candidato da estatura de Lula. Enquanto Alckmin falava para os eleitores, Lula conversava com naturalidade e emoção como se estivesse na sala de visitas, trocando ideias com cada um.

Se quisesse vencer aquelas eleições precisaria falar com mais, muito mais emoção. Continuou falando do mesmo jeito e, por esse e outros motivos, foi derrotado. O fato de Alckmin se comportar dessa maneira não significava, todavia, que fosse um péssimo orador. Ao contrário, tinha predicados, só não estava à altura de Lula.

Ah, mesmo assim, em alguns debates Alckmin se saiu melhor que Lula. Só que os políticos adversários não deram trégua e pregaram essa pecha de que ele era um sorvete de chuchu. Repetiram tanto essa história que as pessoas passaram a aceitar como fato verdadeiro. E, quando falou com mais firmeza em um debate, foi acusado de ser agressivo e não ter respeitado a liturgia do cargo do presidente candidato.

Talvez algumas de suas derrotas políticas o tenham transformado. Alckmin mudou. Sem que alguns percebessem fez o que precisava ter feito para se tornar o grande nome da oratória política contemporânea brasileira. Além de falar para a razão, aprendeu a dirigir suas palavras também para o coração dos eleitores.

Acrescentou um pouco mais de volume à voz, aumentou em cerca de 20% a velocidade de seus discursos, passou a falar com indignação dos problemas relevantes e pôs mais emoção na fala. Hoje é um debatedor praticamente imbatível e um orador com qualidade bem acima de qualquer outro político.

Tenho alunos de todos os partidos políticos. Atualmente até mais do PT e da base aliada do governo. Portanto, não me envolvo emocionalmente com a política quando faço análise técnica. Uso meus 38 anos de experiência ensinando oratória para avaliar cada aspecto da comunicação. Sem dúvida, Alckmin é hoje o melhor e mais bem preparado orador do Brasil.

Sempre destaquei a qualidade da comunicação do Lula. Publiquei nesta mesma coluna um texto mostrando como podemos aprender comunicação assistindo aos seus discursos. Falei da extraordinária competência oratória de Roberto Jefferson, que foi meu aluno. Enalteci o admirável desempenho de Serra. Todos foram superados por Alckmin.

Se você ainda continua achando que o governador de São Paulo é um orador morno ou um sorvete de chuchu, sem preconceito, sem envolvimento emocional político, sem opinião cristalizada, ouça alguns de seus discursos e confirme o que estou afirmando –ninguém na política brasileira hoje fala tão bem quanto ele.

SUPERDICAS DA SEMANA

- Fale com naturalidade e emoção
- Demonstre na maneira de se expressar o verdadeiro sentimento da mensagem
- Interprete a própria verdade. Fale de alegria com alegria, de tristeza com tristeza
- Fale com a razão, mas não deixe de tocar o coração dos ouvintes

Livros de minha autoria que podem ajudar na reflexão desse tema: "Como falar corretamente e sem inibições", "Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas" e "A importância da emoção no processo de conquista dos ouvintes", publicados pela Editora Saraiva