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Reinaldo Polito

Um minuto de silêncio num discurso pode expressar muito mais que palavras

25/11/2015 06h00

Quase todo o mundo parou e permaneceu em silêncio para homenagear as vítimas dos ataques de 13 de novembro em Paris. As emissoras de televisão mostraram cenas de pessoas deixando de lado suas atividades em respeito aos mortos. Praticamente toda a França permaneceu em silêncio. Assim como, por exemplo, os principais pontos da Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, Grécia, Espanha, Turquia.

Líderes de quase todas as nações, renomados artistas e importantes personalidades usaram seu prestígio para pedir em seus pronunciamentos um minuto de silêncio. Dependendo do local onde as pessoas estavam reunidas, esse tempo foi mais ou menos prolongado. Porque não é o tempo em si, mas sim o que ele representa.

Afinal, como surgiu essa ideia de ficar em silêncio durante um minuto em sinal de respeito à morte de uma pessoa? Descobri, por acaso, alguns indícios que explicam a origem dessa prática utilizada por quase todos os povos. Como a maioria sabe, a arte de falar em público depende em algumas circunstâncias das regras do cerimonial. Por isso, desde muito cedo procurei aprender os fundamentos essenciais dessa matéria.

No início dos anos 1980 fiz um curso de cerimonial com o dr. Nelson Speers, que naquela época era um dos mais conceituados profissionais nesse tema. Além das aulas teóricas e práticas, li com interesse os dois volumes da sua obra que, de forma bastante didática, reproduz exatamente o que o mestre ensinava em suas aulas.

Em um de seus livros encontrei a curiosa informação sobre a origem do minuto de silêncio. O emocionante rito que consiste em guardar um minuto de silêncio tem suas origens no começo do século XX. Em Lisboa, no ano de 1912, o senado estava reunido quando chegou a notícia de que morrera o Barão do Rio Branco, chanceler do Brasil.

Segundo o dr. Speers, esse fato fez com que se prestasse pela primeira vez um tempo de silêncio: O presidente da casa, em sinal de pesar, propôs guardarem silêncio por dez minutos. Todos se levantaram, espontaneamente. E a partir daí esse rito foi adotado por todas as assembleias europeias, mais tarde espalhando-se praticamente pelo mundo inteiro, com o tempo de silêncio, no entanto, reduzido para um minuto.

Pensei que a grande descoberta era definitiva até conversar sobre o assunto com Max Gehringer. Ele me apresentou outra versão, ainda mais curiosa. Um jornalista de Melbourne, Edward George Honey, foi o primeiro a propor um período de silêncio pelo Dia da Memória Nacional, em uma carta publicada no "London Evening News" em 8 de maio de 1919.

A sugestão chamou a atenção do rei George V. Depois de testar a praticidade de um silêncio de cinco minutos -uma tentativa fora realizada com guardas granadeiros permanecendo silenciosamente em posição de sentido - o rei fez publicar uma proclamação em 7 de novembro de 1919 em que convocava para um silêncio de dois minutos.

Sua proclamação pedia que "todo movimento fosse interrompido, de forma que, em plena quietude, os pensamentos de todos pudessem se concentrar e reverenciar a memória dos gloriosos mortos".

Às 11h do dia 11 de novembro de 1919, os australianos, pela primeira vez, fizeram uma pausa e se levantaram num tributo silencioso aos homens e mulheres da Força Imperial Australiana que morreram nos campos de batalha no Oriente Médio, Gallipoli e Europa.

A nossa conversa reservava uma história ainda mais curiosa. Max me contou um fato sobre um minuto de silêncio, esse sim bem documentado: jogo Ceará x Fortaleza, em 1984. Antes do jogo, um minuto de silêncio pela morte da mãe do juiz. Aos 5 minutos, o juiz anula um gol do Ceará. E a torcida começa a gritar: "Órfão da p.! Órfão da p.!"

Independentemente da origem, e de se cumprir ou não exatamente o tempo de um minuto, a verdade é que em inúmeras situações o silêncio é extremamente representativo. E fala muito mais do que as palavras.

Superdicas da semana

  • Aprenda as regras do cerimonial. Dia mais cedo ou dia mais tarde vai precisar delas
  • Especialmente na composição da mesa diretora e no vocativo, siga o protocolo do cerimonial
  • Em certas circunstâncias, o silêncio pode significar mais do que as palavras
  • Respeitar o pedido de um minuto de silêncio é sinal de educação e civilidade

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: “Assim é que se Fala”, "Como Falar Corretamente e Sem Inibições", publicado pela Editora Saraiva, e "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
Escolha um curso adequado as suas necessidades (link encurtado: http://zip.net/bnrS3m)

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