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Brasileiros utilizam fórmula de analisar terremotos para prever a Bolsa

Vinicius Pereira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/05/2019 04h00

Já imaginou utilizar uma metodologia de previsão de terremotos para tentar antever os movimentos da Bolsa de Valores? Pois é exatamente isso que dois pesquisadores brasileiros fazem.

Os professores Marco Antonio Leonel Caetano, que dá aulas no Insper, e Takahashi Yoneyama, que leciona no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), iniciaram, há 20 anos, estudos que buscam apontar quando grandes oscilações no valor dos índices acionários, para cima ou para baixo, poderão ocorrer.

"Iniciamos os estudos em 1999, uma vez que não estávamos satisfeitos com os resultados dos índices e sensores que medem e dão informações sobre o mercado", disse Caetano. Para eles, as análises gráficas não conseguiam prever quando grandes quedas poderiam ocorrer.

O método desenvolvido pelos dois baseia-se, basicamente, em uma pequena variação dos preços, mas de forma muito rápida. Segundo ele, sempre que isso ocorre, pode-se esperar um grande movimento no curto prazo.

Padrões similares ocorreram antes de grandes períodos nas Bolsas, como o crash de 1929 ou a crise de 2008, que derrubaram Bolsas pelo mundo todo. Assim, os professores brasileiros desenvolveram um índice que indica quando o próximo grande movimento do Ibovespa ou de certas ações poderá ocorrer.

Previsão de terremotos?

O físico francês Joseph Fourier desenvolveu estudos sobre frequências e amplitudes das ondas no século 19. Atualmente, as séries de Fourier são utilizadas em análises da periodicidade e previsão de eventos da natureza, como terremotos, por exemplo, em sismógrafos e outros aparelhos. Quanto maiores são as frequências dos movimentos das placas tectônicas, maior a probabilidade de um terremoto acontecer.

Outro francês, Didier Sornette, ex-professor da Universidade da Califórnia (EUA), criou um novo modelo baseado na teoria de cataclismos e sazonalidades e, desse, adaptou tais séries ao mercado financeiro, como outros estudiosos já vinham fazendo desde a década de 1970.

Mas os brasileiros decidiram se aprofundar mais no modelo para que o usuário não precisasse adaptar nenhum outro dado. Os dois resolveram colocar "wavelets" (ondaletas) para medir a frequência das oscilações no tempo.

Essas wavelets capturam os sinais da Bolsa e são transmitidas para a tela de um computador. Quanto mais as ondaletas variam, maiores também são a variação e o estresse e, assim, maior a probabilidade de crash ou de alta.

Índice de Mudanças Abruptas

Baseados nessa metodologia de sinais, em 2009, os pesquisadores lançaram o IMA (Índice de Mudanças Abruptas), que analisa tal grau de estresse do Ibovespa, o principal índice acionário da B3, a Bolsa de Valores brasileira, a cada 15 minutos.

Esse grau de estresse e variação pode indicar o próximo grande crash. Quanto maior a frequência em determinado período de tempo, mais provável uma grande variação.

Há duas variações para o IMA: o crash, que mede a probabilidade de grandes quedas, e o entrada, que mostra momentos positivos de entrada. Ambos vão de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de 1, maior a probabilidade de grande variação brusca.

Na análise do gráfico intraday, o tempo médio para um evento localizado pelo IMA ocorrer é de dois dias e meio. De acordo com os professores, o IMA tem um percentual de 93,7% de acertos em mais de 2.000 dias de observação, com quedas que variam entre 0,08% a 11%. Os dados desse percentual foram publicados no jornal científico "Physica A".

Em cerca de dez anos, foram 127 sinais de alarme para variações da Bolsa, com 2,96% de queda em média. O modelo, contudo, é destinado à comparação de análise de risco e não deve ser utilizado de forma unilateral por qualquer investidor, principalmente iniciantes. O ideal é que o índice dê apoio a outras informações e tipos de análise.

O IMA já chegou a estar disponível para clientes em geral por R$ 110 mensais, mas, segundo os fundadores, parou de ser oferecido para o público no início deste ano, graças a problemas com alguns clientes.

"[A plataforma] foi descontinuada devido a ataques e xingamentos que recebi nos meus textos, vindos de investidores. Fechei o site e, por consequência, a área do sinal que era comercializado. Enquanto esse clima de ódio continuar, o site permanecerá fechado", disse.

Além disso, para Caetano, a divulgação do índice foi focada mais no ambiente acadêmico do que entre os profissionais da área.

Os estudos já foram publicados em revistas internacionais, e o livro de Caetano chamado "Mudanças abruptas no mercado financeiro" foi finalista do prêmio Jabuti de melhor livro na área de Tecnologia e Ciência em 2014.

Novo crash?

Um novo crash na Bolsa de Valores brasileira pode ocorrer logo, segundo Caetano. Ele, porém, afirmou que políticas podem ser adotadas, fazendo com que o perigo de uma nova grande queda diminua, e o IMA volte a um patamar menos arriscado.

"O período exato de novo crash é muito incerto. O alerta para quedas acima de 10% está próximo do máximo, indicando que os movimentos são de alta frequência", disse ele.

Na análise mensal, o professor prevê que o mercado possa ter novos tombos em breve. "Já estamos com oito meses do alerta máximo, então, estamos no período crítico em que qualquer evento mais impactante ao mercado financeiro poderá levar a uma grande queda, no mesmo patamar de 2008. Mas tudo isso pode ser desfeito por algumas políticas internacionais e movimentos que farão o IMA desligar o alerta e tudo voltar ao normal", afirmou.

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